Luís Braga, 1 – ME, 0

Como eu previa, depois de 2 textos, enviados ao meu diretor, a dizer que não cedia o meu equipamento para Serviço da República gratuito, e de razoável visibilidade ao problema (que outros milhares de professores têm), alguma coisa iria acontecer.

Hoje, depois, de vários telefonemas da minha escola para a DREN, (hoje Dgeste Norte), em que nenhuma solução foi apresentada para o problema de não ceder o meu computador, lá disseram que o assunto tinha sido reencaminhado para cima.

Mas ideias de solução, nenhumas… É esperar. Ninguém por lá se atravessa a mandar-me para a escola…Eu até já disse que ía e também já disse o que fazia a seguir. (https://www.comregras.com/ensino-a-distancia-alinhar-ou…/)

No impasse, o meu diretor decidiu atribuir-me até 6ª, para as reuniões que aí vêm, um dos computadores que a Câmara comprou para alunos, em Abril.Já está cá em casa em boa companhia como veem.

Um ato desobediente e rebelde, mas absolutamente legal (não cedo o que é meu) e o sistema começa a andar à roda.

Não me podem obrigar a usar o que é meu, sem eu consentir, e ninguém se arrisca a dar a ordem de me pôr a violar o confinamento na escola (porque sabem que não faço bluff ao anunciar a reação), eis que o computador reivindicado aparece.

Sexta, devo ter de devolver e volta tudo à estaca zero. Nesse dia se verá como estamos dia 8. Eu estou no mesmo sítio. O Estado terá soluções?

As aulas do segundo confinamento letivo não vão ser dadas do meu computador, vos garanto.

E o principio legal de que o material para trabalhar é custo “do patrão” está a ser afirmado ativamente. Esperemos que a ideia fique bem assente em certas nulas cabecinhas.

No Facebook, o professor Luís Sottomaior Braga vai descrevendo o que tem sido a sua odisseia desde que notificou a direcção da escola de que o seu computador pessoal não estaria disponível, gratuitamente, para serviço à entidade patronal – neste caso a escola e o ministério da Educação.

A posição, a avaliar pelas reacções, estará a ser adoptada por um número crescente de professores que não estão dispostos a dar mais esta “borla” a um ME que rouba tempo de serviço, atrofia o desenvolvimento da carreira e, de um modo geral, continua a fazer ouvidos de mercador aos problemas e anseios da numerosa classe docente.

É certo que no primeiro confinamento imperou a boa vontade e não houve, que se saiba, registo de casos de professores que se tivessem recusado a trabalhar, com os seus próprios meios, a partir de casa. Mas nessa altura estava em causa o apropriadamente designado, na altura, ensino remoto de emergência. Ninguém esperava o impacto avassalador da pandemia que se abateu sobre as nossas vidas e todos tentaram dar o seu melhor. Agora é diferente. O Governo sabia o que aí vinha, conhecia as falhas e insuficiências do sistema, reveladas pela experiência inicial, e teve tempo para providenciar o necessário. Não teve dúvidas em mandar as escolas fazer planos a triplicar, prevendo todas as contingências. Mas quanto a cumprir a sua parte, preferiu confiar na sorte e na convicção absurda de que poderíamos atravessar a pandemia sempre de escolas abertas.

Reagindo tardiamente, como já vem sendo habitual neste ME, à contestação dos professores que exigem meios para trabalhar, as delegações da DGEstE estarão a dar instruções orais às escolas para mandarem estes docentes trabalhar nas escolas. Mas isto é uma violação grosseira do decreto que, na sequência do estado de emergência, impõe o teletrabalho obrigatório. E responsabiliza directamente quem dê tal ordem por escrito.

Assim, em vez de uma ordem para vir trabalhar para a escola, Luís Braga recebeu, para já, um muito razoável computador para trabalhar a partir de casa. E a sua reclamação, que tanto o director do agrupamento como o delegado da DGEstE mandaram “para cima”, já deverá estar, por esta altura, em altas instâncias do ME.

Parafraseando o velho slogan sindical, vale a pena lutar!…

9 thoughts on “Luís Braga, 1 – ME, 0

  1. Num repelente gesto de falta de solidariedade, a criatura de Deus :

    1- Está indisponível para usar o computador pessoal para – a partir de casa – auxiliar os seus alunos durante um período (Deus me oiça !) transitório.

    2- Mas mostrou-se totalmente disponível para usar um computador atribuído aos… alunos (sim aos alunos) e abusivamente emprestado pelo director !!.

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    • Num comentário que indicia forte pobreza de raciocínio Maria erra sobre factos e ilações.

      1- Luís Sottomaior Braga que acredita no Estado de Direito, conceito elevado aparentemente inacessível a catatua, está indisponível para ceder ao Estado o computador que pagou e é sua propriedade pessoal pessoal para – a partir de casa – prestar serviço. Num período transitório fé-lo para suprir emergência e acha que não deve continuar a fazer sendo o único dono da sua propriedade até porque essa cedencia ajuda a disfarçar a falência moral da preparação realizada pelo governo e significaria enganar o povo fazendo parecer bem o que está mal.

      2- Mas mostrou-se totalmente disponível para usar um computador que é público, esteve atribuído a alunos e que não foi abusivamente emprestado porque estava parado e provavelmente assim continuaria se não fosse posto a suprir a obrigação do Estado de fornecer material aos seus trabalhadores.

      Repelente é manipular e mentir.

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  2. Pronto, o Luis tem um computador emprestado.

    Eu cá preferia ter uma tarifa de net mais razoável, de electricidade também e, já agora, deduzir no IRS um montante bastante mais simpático para despesas profissionais/educação.

    Calhando, estou a ver mal a coisa……

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    • Lute… Se quiser ajuda… O computador emprestado tem uma base legal irrefutável. O resto juridicamente já não é tão simples….

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      • Parabéns!
        Só espero que este gesto ilumine o caminho a muitos outros.
        Nem todos gostam de ser espoliados e espezinhados.
        Este governo é (sempre foi) um inimigo dos professores.

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      • Obrigada pela sugestão de ajuda.
        Ultimamente sinto-me meia arara a confundir a crítica da razão de Kant com o Kant alentejano.
        A gente até lê que a revista The Economist baixou o lugar de Portugal no ranking dos países “totalmente democráticos” (??!!) para país “democrático com falhas” (!), impulsionado pelas medidas restritivas causadas pela pandemia.
        Também tu, Economist?

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  3. Parabéns pela luta.
    Espero que nunca tenha nenhum familiar no hospital, em que o enfermeiro ou médico se recuse a trabalhar por falta de condições de trabalho, que lhe garanto (sou casada com um) que são bem piores. Só para ter uma noção, desde dezembro que nem eu nem o nosso filho o vemos.
    Mas parabéns por ter conseguido um computador….

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    • Cara Manuela, poderei então deduzir, pelas suas palavras, que se deve trabalhar sem condições, é isso?

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