A reabertura de escolas tem influência na taxa de transmissão, o chamado Rt, da Covid-19, contribuindo para que o seu valor aumente, de acordo com um novo estudo, o primeiro a analisar o impacto do levantamento das restrições, avança o ‘The Independent’.
O regresso dos alunos às salas de aula foi seguido por um aumento médio de 24% na taxa de transmissão Rt, segundo descobertas de um equipa de investigadores da Universidade de Edimburgo após a análise de dados de 131 países.
A única outra medida ligada a um maior aumento no Rt é o levantamento da proibição de reuniões de grupos, que causou uma subida média de 25%. Para criar os seus modelos, os autores vincularam dados sobre estimativas da taxa de transmissão feitas pela ‘London School of Hygiene & Tropical Medicine’ com outras informações do rastreador de resposta do governo britânico, ‘Covid-19 Oxford’.
Recorrendo a dados de 131 países e a sofisticados modelos matemáticos e estatísticos, o estudo agora publicado lança alguma luz sobre o impacto real que as medidas de confinamento e desconfinamento têm sobre a transmissibilidade da covid-19.
Trata-se de uma questão bastante complexa, desde logo porque não é fácil isolar os efeitos de cada uma das decisões que vão sendo tomadas pelos governos, neste difícil exercício de compatibilizar o controle da pandemia com a vida económica e social. Por exemplo, quando se decide um conjunto de medidas, como permitir maiores ajuntamentos, retomar determinadas actividades económicas ou reabrir as escolas, e em seguida se nota um aumento de casos positivos, como saber qual o contributo de cada uma para o agravamento da pandemia?
No caso das escolas portuguesas, o facto de raramente se tentar identificar cadeias de transmissão em meio escolar – perante um caso positivo, quase sempre um aluno infectado em ambiente familiar, os colegas são geralmente mandados cumprir quarentena, sendo apenas testados quando apresentam sintomas – também contribui para que se continue a afirmar, sem lugar a contraditório, que as escolas são lugares de baixo risco de propagação da doença.
Ficamos agora a saber que não será bem assim. O aumento de 24% na taxa de transmissão que, baseados em sofisticados modelos de análise quantitativa, os autores deste estudo atribuem ao desconfinamento escolar é um valor significativo, que deve suscitar reflexão. Os contágios em meio escolar, ou que a ele podem ser associados, existem, e se as cadeias de contágio raramente são identificadas é porque, em boa verdade, pouco se faz para as detectar.
Explorando o artigo da Lancet, encontram-se outras conclusões interessantes. Por exemplo, que há um desfasamento temporal de cerca de 28 dias entre o aumento máximo da taxa de transmissão, o chamado valor de R, e o aparecimento da causa que o provocou. E bate certo. No caso português, a subida galopante no número de novos casos positivos dá-se precisamente quatro semanas depois do início das aulas…
Os investigadores, embora tenham analisado dados de muitos países, não deixam de admitir que as realidades nacionais são diferentes, o que pode levar a que medidas semelhantes possam ter um impacto diferenciado, consoante a forma como são aplicadas. No caso da Educação, turmas mais pequenas, distanciamento físico nas salas de aula, recreios, refeitórios e transportes, uso de máscara, desinfecção das mãos, medição de temperatura à entrada são factores que reduzem efectivamente os contágios, embora o seu impacto real não tenha sido, neste estudo, considerado. Por cá, sabemos bem que, tirando as máscaras obrigatórias a partir do 5.º ano e o álcool-gel à discrição, pouco mais se fez na preparação segura do novo ano escolar.
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