“Vivi um terror psicológico”: agressões a professores estão a aumentar
No ano passado, só a GNR registou 44 ocorrências e este ano já vai em 16. O Governo quer que passe a ser um crime público e com penas agravadas.
As agressões registadas tanto partem de alunos como dos pais e encarregados de educação, e o aumento das queixas pode indiciar duas coisas: que a escola, sobretudo em determinados contextos sócio-educativos, se está a tornar mais violenta, mas também que os professores agredidos não “se ficam”: querem que os agressores sejam punidos e que medidas sejam tomadas para que estes casos não se repitam, muito menos se normalizem. Mesmo assim, sabe-se que muitos casos, provavelmente a grande maioria, ficam por denunciar.
Há, na denúncia pública destes casos e na discussão que suscitam, um factor omnipresente e deveras preocupante: a resistência das direcções escolares e dos dirigentes ministeriais em falar dos assuntos. O que vai desde a recusa lacónica em “prestar declarações” às desculpas esfarrapadas que se inventam para minimizar as situações: foi um caso isolado, está a ser tratado internamente, decorre um inquérito que impede que se fale sobre o assunto… A verdade é que, regra geral, as sequelas físicas e psicológicas das agressões tendem a ser mais severas e duradouras do que os castigos aplicados aos agressores, nos casos em que isso chega efectivamente a acontecer.
Pela minha parte, só conheço uma forma de enfrentar os problemas que se pretende realmente resolver: uma política de verdade, que propicie a discussão aberta e sem preconceitos, que possa apontar caminhos e soluções. Esconder os problemas, fingindo que não existem, não é solução. Revolta-me e envergonha-me que partidos e pessoas de esquerda entreguem de bandeja as questões da segurança, na escola e noutros locais, à extrema-direita populista, xenófoba e securitária. Como se o direito a trabalhar em segurança, com respeito pela dignidade do trabalhador e pela sua integridade física e mental fosse um qualquer capricho pequeno-burguês e não um direito humano fundamental.
O anúncio de que o actual governo pretende finalmente consagrar em lei a tipificação de crime público para agressões a docentes e outros funcionários da administração pública pode ser um bom ponto de partida para estas questões começarem a ser discutidas com seriedade e de forma consequente. Estamos fartos de ouvir ministros apelando à paz e à boa convivência nas escolas sempre que há um episódio de violência, mas nada fazendo em concreto para que os professores sejam mais defendidos, valorizados e respeitados no exercício das suas funções. De ministros dessa laia, mais à esquerda ou mais à direita, já tivemos a nossa conta!