Memoráveis as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, que há muitos anos não juntavam, de norte a sul do país, tanta gente na rua. Em Lisboa, a dimensão da concentração no Largo do Carmo, depois do moedinhas camarário ter tirado o tapete ao Arraial dos Cravos, mostrou que a vontade de celebrar Abril, a Liberdade e a Democracia não precisa de organizações, coreografias ou autorizações: basta as pessoas saírem à rua, juntarem-se num local simbólico e fazerem a festa que é em simultâneo uma afirmação de cidadania e de defesa dos valores democráticos. Outras cidades, como Porto e Coimbra, reuniram nas ruas muitos milhares de manifestantes a celebrar os 50 anos da Revolução.
Como explicar este entusiasmo por uma revolução que a maioria dos portugueses actuais não viveu e cujos valores vêm sendo questionados e combatidos pela direita mais reaccionária e revanchista? Uma direita revisionista que tenta reescrever o passado e nunca se conformou com o facto de, uma vez na vida, as forças armadas tenham abandonado o seu papel de defensoras do poder estabelecido para, num gesto revolucionário cujo alcance ainda hoje perdura, derrubarem a ditadura que oprimia o povo e devolverem o poder aos cidadãos.
Na verdade, apesar da nítida viragem à direita revelada nas últimas eleições, com mais de um milhão de votos obtidos pela extrema-direita chegana, a grande maioria do povo português continua determinada a defender as liberdades e a democracia trazidas pelo 25 de Abril. Embora haja sempre que se deixe iludir pela ideia de que abdicar de boa parte da sua liberdade a favor de maior autoridade e mais segurança, a memória da ditadura, que não devemos permitir que se apague, mostra-nos que é em paz, em liberdade e no respeito pelos direitos dos cidadãos e pelas regras da democracia que se constrói um futuro melhor para todos.