A professora Carmo Machado, cujas crónicas na Visão leio sempre com agrado, e que comento por aqui de quando em vez, caiu esta semana num erro estratégico muito comum, infelizmente, entre os professores: a ilusão de achar que os interesses da classe se defendem atacando os sindicatos, ao mesmo tempo que se tenta sensibilizar e seduzir os governantes para políticas “amigas” dos professores.
A verdade é que é impossível agradar a todos: se o número dos pratos e dos mirtilos que deu à conferência de imprensa de Mário Nogueira um mediatismo que há muito não se via, e nesse sentido foi elogiada por muitos professores, também seria de esperar que outros tantos não se revissem na forma algo jocosa, mas eficaz, encontrada para explicar, perante uma opinião pública alheada destas coisas, as injustiças da carreira docente. Mas por isso mesmo é que existe liberdade sindical: os professores que não se revêm nos sindicatos da Fenprof são livres de intervir autonomamente no espaço público, como faz, e muito bem, a própria Carmo Machado, ou de apoiar outros sindicatos, com distintas orientações políticas ou formas de actuação. O que não faz sentido é a crítica sistemática à Fenprof, como se esta monopolizasse o espaço do sindicalismo docente.
Visado directamente no artigo, Mário Nogueira invocou o direito de resposta e, em doze curtas notas, coloca uma série de questões pertinentes. Destaco algumas:
Se o novo secretário de Estado, sendo um professor de carreira, anda pelos serviços ministeriais há praticamente tanto tempo como o que Mário Nogueira leva de líder da Fenprof, porque é que de um se diz que representa “uma réstia de esperança”, enquanto do outro se sentencia que deveria voltar para a sua escola? Se o banho de realidade é bom, porque é que só se recomenda a uma das partes?
Por outro lado, havendo diversos casos, públicos e notórios, de líderes sindicais docentes que se perpetuam nas direcções, alguns deles sem que haja sequer notícia pública das eleições que os reconduzem, há bem mais tempo do que MN na Fenprof, porque é que só este é sistematicamente visado no repto à “renovação”?
Não sei se será o caso de Carmo Machado, mas colegas que há muito deixaram de esperar seja o que for da Fenprof, porque se abespinham tanto se os seus líderes estão no sindicato, na escola ou noutro lado qualquer? Que sentido faz esta preocupação constante? Que milagre esperam que aconteça no dia em que a geração de MN passe o testemunho a dirigentes mais jovens?
A Fenprof e os sindicatos que a constituem não são organizações perfeitas, e sempre defendi o direito à crítica, mesmo por parte de não sindicalizados. Não é popular dizer-se, mas a verdade é que os sindicatos reflectem a classe que representam. E há quem olhe para eles, como há quem olhe em volta na sala de professores, e não goste do que vê. O que me parece, não só excessivo, mas de vistas curtas, é a crítica ser sempre feita aos mesmos e rumar sempre no mesmo sentido. Ao fim de tantos anos disto, já deveria ter-se percebido que este não é o caminho, nem para um sindicalismo mais forte, nem para o sucesso da agenda reivindicativa dos professores. E luta colectiva bem sucedida sem sindicatos fortes, é algo que também ainda está por inventar.