No início do ano letivo foi-me atribuído um horário com 13 turmas de 5⁰, 6⁰, 7⁰, 8⁰ e 9⁰ ano de Educação Tecnológica e Cidadania nos 9⁰ anos, distribuído pelas duas escolas do agrupamento. Eu com 41 anos de serviço e 60 de idade não aguentei e meti baixa médica, impossível andar quase todos os dias de escola em escola com tantas turmas… nunca pensei chegar ao final de carreira com este número de turmas e alunos… tenho o dobro das turmas de quando iniciei!
Apresentei-me hoje ao serviço e […] vou ver se aguento as quatro semanas que faltam até ao final do ano letivo… não vai ser fácil… são muitos alunos e numa fase complicada… mas reformar- me não posso, pois penalização é de 31,5%… mesmo estando no 10⁰ escalão fico com uma reforma pequena… afinal iniciei cedo, fiz licenciatura a trabalhar, cumpri ao máximo minhas funções… sim raramente faltava, dei o meu melhor e agora porque decidiram que artes e tecnologias não são importantes e só têm um tempo semanal no horário dos alunos eu vou ter que aguentar uma sobrecarga de alunos ou aceitar uma reforma com um enorme corte? É revoltante! É uma injustiça!
Sinto-me angustiada, triste… não queria acabar a vida ativa desta forma…
O depoimento, que recolhi num dos grupos de professores do Facebook, dá bom testemunho, na primeira pessoa, do que é o amor deste ministério às Artes, às Tecnologias, às Humanidades e a outros conhecimentos inúteis: ficam sempre bem como flores na lapela dos governantes e nos floreados do PASEO, mas acabam reduzidos ao mínimo dos mínimos nos planos curriculares do ensino básico.
Este é o governo que mais tem defendido abordagens transdisciplinares e holísticas ao currículo. Mas foi durante o costismo educativo que mais proliferaram as mini-disciplinas com 45 ou 50 minutos semanais; além da Educação Tecnológica, também Cidadania e Desenvolvimento, TIC e disciplinas de oferta de escola têm a carga horária igualmente reduzida ao mínimo. E os 90 a 100 minutos semanais tornaram-se o novo normal, na maioria dos anos de escolaridade, em História, Geografia e mesmo nalgumas línguas estrangeiras.
Dir-se-ia que coerência não é o forte de João Costa, mas eu vejo aqui mais do que um mero percalço, consequências indesejadas do excesso de voluntarismo ou, desculpa que serve para tudo, mau uso da “autonomia das escolas” . A desvalorização curricular de todas as disciplinas que não entram nas avaliações internacionais da OCDE é evidente desde os primeiros ensaios da flexibilidade curricular. Só não viu quem não quis, e é um facto que houve, durante demasiado tempo, demasiada gente a não querer ver.
As cargas horárias muito reduzidas são um verdadeiro martírio para os professores, multiplicando o número de turmas e níveis que terão de leccionar. Mas também não beneficiam os alunos nem favorecem a qualidade do trabalho pedagógico. Como alguém sensatamente comentava, 50 minutos é muito tempo para estar sem fazer nada e pouco para tentar fazer alguma coisa.