Covid-19, ponto da situação

O DN faz o ponto da situação da incidência da covid-19, uma doença global que, de pandemia, parece estar a passar a uma nova fase epidémico-endémica. À diminuição dos contágios no período de Verão, deverá seguir-se um aumento dos casos no Outono, graças a condições mais propícias à propagação dos vírus e ao aumento da concentração de pessoas em espaços fechados. Admite-se o retomar de algumas medidas de protecção, uma monitorização cuidadosa dos novos casos, especialmente entre os grupos de risco, e a continuidade dos reforços vacinais para a população mais vulnerável. Mas estarão excluídos, à partida, novos confinamentos.

Quanto às escolas, já lá vai o mito de serem espaços seguros: os especialistas reconhecem que, embora a covid-19 tenha um impacto quase nulo em crianças e adolescentes, as escolas são locais de risco devido à concentração por períodos prolongados em espaços fechados e mal ventilados como são, em geral, as salas de aula. Escusado será dizer que o que está a ser feito para mitigar estes riscos, ajustando a dimensão das turmas em função do tamanho das salas e monitorizando a qualidade do ar nos espaços escolares, corresponde a um rotundo zero…

Maior mobilidade da população, concentração em espaços interiores, a chegada do outono/inverno e o consequente tempo frio, bem como o início do ano letivo vão levar ao aumento de infeções por SARS-CoV-2. “É natural e expectável”, afirma ao DN Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ainda é cedo, no entanto, para fazer projeções para a estação que se aproxima, mas “a evolução recente indica o fim de um período, o da diminuição” de infeções, aponta o matemático. “A evolução dos últimos dias sobre o número de casos diários estabilizou e subiu ligeiramente. Está agora na ordem dos 2700, em termos médios”, refere.

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Existe, atualmente, domínio de circulação da BA.5, mas não se sabe quais as variantes ou subvariantes do SARS-CoV-2 que vão surgir. “Uma coisa é certa: elas vão existir”, avisa Froes. “É inevitável”.

E diz mais: “O vírus vai continuar a evoluir e a apresentar mutações. Faz parte da sua natureza”. Portugal pode mesmo ser a porta de entrada para uma nova variante, segundo o pneumologista. A culpa é da prevalência da atual subvariante.

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Para já, é expectável um novo aumento de contágios e o início do ano letivo vai potenciar este crescimento. “As aulas são sempre um fator determinante, quer no aumento de casos quer na diminuição”, sublinha Carlos Antunes, que recorda o que se verificou quando, em maio/junho, terminaram as aulas . “A diminuição de casos foi determinante graças a esse factor. Muito mais preponderante foi o fator das aulas do que propriamente a existência de eventos ou festas populares”, analisa o matemático, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que desde o início da pandemia faz a modelação da evolução da covid-19.

Trata-se de um grupo populacional [os alunos] que convive em grande número e em espaços fechados, portanto, um potencial transmissor do vírus, refere, “apesar do dano para esta população ser reduzido, quase nulo”.

É expectável um aumento de casos associado à proximidade do outono, que se pode traduzir, “numa primeira fase, em setembro, num aumento muito ligeiro” e poderá acentuar-se em outubro, “à medida que nos vamos aproximando das épocas mais frias”.

Acresce ainda o facto desta população ter “uma taxa de vacinação inferior”. Na faixa etária dos 5 aos 11 anos, por exemplo, a cobertura vacinal completa (duas doses) é inferior a 50%, de acordo com os dados do relatório semanal da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Filipe Froes recomenda que as crianças que ainda não têm o esquema vacinal primário completo devem concluí-lo “para permitir não só uma maior proteção, mas, provavelmente, diminuir a circulação e a transmissão do vírus na comunidade, que também tem impacto noutros grupos etários e em termos sociais e económicos”.

Covidários mal arejados

Persistem enormes interrogações acerca da evolução da pandemia no meio escolar. Apesar de ter deixado de haver registos oficiais, percebe-se que o número de infectados tem vindo a aumentar, em linha com o que se está a passar no resto da comunidade. A elevada taxa de positividade nos testes à covid-19 e o número significativo de doentes assintomáticos ou com sintomas semelhantes aos de uma gripe ligeira levam a supor que a pandemia está a recrudescer, falando-se abertamente numa sexta vaga e em valores oficiais de novas infecções grosseiramente subavaliados.

Na falta de testagem direccionada para a comunidade escolar, não há dados que permitam supor que a situação nas escolas estará muito diferente. Ao que vamos assistindo, desde que caiu a obrigatoriedade das máscaras, é ao aumento do número de alunos e professores em isolamento. Nas escolas, as tosses suspeitas que vamos ouvindo na maioria das turmas também nada auguram de bom, restando confiar, ao que parece, na relativa benignidade das mais recentes variantes do vírus.

Em relação às escolas e a outros espaços com características semelhantes – permanência prolongada de grupos numerosos em espaços fechados – há um problema de fundo de que todos os responsáveis fogem a sete pés, mas que deveria ser seriamente equacionado a partir do momento em que se autoriza, encoraja até, a retirada das máscaras: a ventilação adequada dos espaços. De nada serve continuar, nalgumas escolas, com o ritual dos circuitos e da desinfecção das mãos e das superfícies, se depois se permite que pessoas potencialmente infectadas continuem a respirar o mesmo ar durante horas a fio, sem qualquer protecção. A notícia matinal da CNN Portugal coloca o dedo na ferida…

“Continuamos sem algo fundamental no centro do discurso: a ventilação”. Quem o diz é o médico de saúde pública Bernardo Gomes, quando questionado sobre como a covid-19 está presente na vida escolar depois de terem caído as máscaras. “As escolas não podem fazer mais do que já fizeram com este nível de transmissão comunitária”.

Medidas como a desinfeção das mãos ou a existência de circuitos, diz, de nada servem quando os alunos têm de partilhar salas muito pouco ventiladas. “O essencial é a ventilação das salas. Das duas uma: ou se põe aparelhos para melhorar a filtragem do ar, ou arranja-se espaços alternativos”, posiciona.

O especialista diz compreender a decisão do Governo de retirar o uso obrigatório de máscaras, mas lamenta que esse anúncio não tenha sido acompanhado por uma mensagem clara: não ser obrigatório não significa uma ordem para retirar. Quem se sentir mais confortável, pode continuar a usar.

Bernardo Gomes avisa que começam a surgir novamente relatos de sobrecarga nos hospitais devido à covid-19 e lamenta que se tenha deixado “cair o papel fundamental das farmácias e dos laboratórios”, com o fim da testagem gratuita – que coloca o vírus em circulação sem um controlo tão apertado. “Com a positividade nos 40%, o número real de casos é muito maior do que as pessoas possam pensar”, insiste. E a escola, como reflexo da sociedade, não escapará a esta lógica.

As escolas asseguram que não foram informadas diretamente pelo Governo – seja pela DGS, pelo ministério da Saúde ou pelo ministério da Educação – sobre um conjunto de regras que há muito deixaram de ser obrigatórias. Em causa está o chamado “Referencial Escolas – Controlo da transmissão de COVID-19 em contexto escolar”, que foi revogado a 15 de março, como confirmou a DGS à CNN Portugal, passando-se então a aplicar as regras gerais.

Máscaras deixam de ser obrigatórias nas escolas

É oficial: o decreto-lei hoje aprovado em Conselho de Ministros foi já promulgado pelo Presidente, podendo seguir de imediato para publicação em Diário da República. Na próxima semana deixa de ser obrigatório o uso da máscara nas escolas por alunos, professores e funcionários.

É a medida que faltava e pela qual muitos ansiavam em direcção a uma normalidade desejada, passando a covid-19, tal como as gripes e outras doenças respiratórias a ser abordadas num quadro de sazonalidade: aumento das precauções no Outono/Inverno, incluindo a vacinação ou o reforço vacinal da população mais vulnerável.

O fim das máscaras nas escolas – que contudo poderão continuar a ser usadas de forma opcional – segue a tendência da generalidade dos países europeus, sendo até Portugal um dos últimos países a adoptar a medida. Confiemos que seja a decisão certa, técnica e cientificamente sustentada, pois a última coisa que se deseja, nesta altura, é uma volta atrás no caminho para o fim da pandemia.

O uso de máscaras vai deixar de ser obrigatório em vários espaços interiores, incluindo nas salas de aula. No entanto, há duas exceções. A obrigatoriedade manter-se-á em espaços com “pessoas especialmente vulneráveis”, como estabelecimentos de saúde e lares de idosos, e em espaços com muitas pessoas e difícil arejamento, como os transportes coletivos. O país vai manter-se em situação de alerta até 5 de maio.

O anúncio foi feito pela ministra da Saúde, Marta Temido, no final da reunião do Conselho de Ministros. O Governo decidiu ainda revogar o regime de localização de passageiros, que deixa de ser de preenchimento obrigatório para passageiros de voos ou navios cruzeiro com escala ou destino em Portugal. Deixam também de se “fixar regras de testes de diagnóstico” e o certificado digital de teste ou de recuperação já não tem de ser apresentado para aceder a lares e estabelecimentos de cuidados de saúde.

“Estão reunidas as condições para a não obrigatoriedade do uso de máscaras”, declarou Marta Temido, ressalvando, no entanto, que a medida se mantém em dois tipos de situações: “nos locais frequentados por pessoas especialmente vulneráveis”, como lares, serviços de saúde e estruturas de Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, bem como “locais caracterizados pela elevada intensidade de utilização e difícil arejamento”. É o caso de transportes coletivos, táxis e TVDE. As escolas ficam, por isso, fora das exceções e os alunos deixarão de usar máscara nas salas de aula.

Máscaras – ainda – no 3.º período

É o que facilmente se deduz da informação enviada hoje às escolas e que o blogue do Arlindo publica integralmente. As escolas são instruídas a encomendar, à semelhança do que fizeram nos períodos anteriores, máscaras e material protector.

Claro que a parte das luvas, dos aventais e do gel desinfectante era completamente escusada. Ao fim de dois anos de pandemia, quem é que ainda não percebeu que não é pelas superfícies das mesas e cadeiras, a roupa os teclados de computador que os vírus respiratórios se propagam?…

Quanto às máscaras, parece prevalecer a prudência em relação à sua retirada. Graça Freitas lembra que ainda estamos com uma mortalidade devida à covid-19 acima do valor de referência europeu, pelo que se justifica um esforço suplementar que contribua para debelar de vez a pandemia.

Há, ainda assim, um pormenor significativo nas instruções aos directores: em vez de kits com três máscaras, deverão ser distribuídos, no terceiro período, apenas uma máscara por aluno. Parece ser um sinal de que o seu uso não deverá manter-se por muito tempo…

Exmo./a Senhor/a

Diretor/a/Presidente de CAP,

Relativamente ao assunto mencionado em epígrafe, é fundamental continuar a garantir condições para que o ano letivo 2021/2022 decorra num ambiente de segurança e confiança. Assim, importa trabalhar para que os AE/ENA possam contar com máscaras, luvas, aventais e SABA (solução alcoólica desinfetante).

Com o objetivo de agilizar e dar maior eficiência ao processo de aquisição destes equipamentos/produtos, continuará o mesmo a ser concretizado pelos AE/ENA, nos exatos termos em que aconteceu nos 1.º e 2.º  períodos, sendo para isso reforçados os seus orçamentos. O valor desse reforço, atribuído por período letivo, é comunicado e disponibilizado pelo IGeFE, I.P.. A requisição desse valor deve ser realizada após receção desta informação, de acordo com as orientações que o IGeFE, I.P. vier a emanar.

O AE/ENA deve, desde já, dar início aos procedimentos aquisitivos, de forma a garantir que à data do início das atividades letivas do 3.º período os equipamentos/produtos estejam disponíveis.

Fim da máscara obrigatória no 3.º período?

A comunidade escolar espera que o terceiro período comece sem a obrigatoriedade do uso da máscara. Pais, professores e alunos defendem que já é tempo de aliviar as restrições para bem da saúde mental.

Há uma certa saturação nas escolas por causa da obrigatoriedade das máscaras, quando a pandemia começa aos poucos a dar tréguas e a ceder terreno a gripes e outras viroses mais comuns e benignas, próprias da época do ano.

Mas não consigo ter tantas certezas como os colunistas que clamam, com veemência e autoridade, pelo fim das máscaras nas escolas. E quando se tem necessidade de dramatizar o problema quase até ao ridículo ou de baixar o nível da argumentação, comparando a habituação às máscaras com a normalização da violência doméstica, é sinal de que nem tudo é claro, lógico e evidente no raciocínio do “regresso à normalidade”.

É verdade que o uso da máscara é desconfortável e compromete, em contexto de sala de aula, a projecção da voz, dificultando o diálogo, a compreensão e a participação dos alunos. Quando for possível abandoná-las em segurança, é certo que não deixarão saudades a alunos e professores. No entanto, parece-me que quem as vem usando, responsavelmente, desde que se tornaram obrigatórias nos espaços interiores, se sentirá mais seguro se a decisão de as dispensar for tomada por critérios de saúde pública e não por pressão mediática de comentadores com falta de assunto ou partidos políticos com ânsia de protagonismo.

Finalmente, convém lembrar que, se é verdade que seremos provavelmente dos últimos países a deixar de usar máscaras respiratórias nas escolas, também é certo que a insistência nesta medida se justificou plenamente por duas ordens de razões. Em primeiro lugar, porque foi a única medida de segurança sanitária aplicada de forma generalizada. Outros países apostaram no ensino misto, em turmas mais pequenas, na ventilação adequada dos espaços interiores ou na compra de acrílicos ou mesas individuais para as salas de aula. Por cá, tudo isto foi descartado à partida. Em segundo lugar, a prioridade absoluta, depois do confinamento, foi a aposta plena no ensino presencial. Novos confinamentos foram excluídos à partida, e sendo assim haveria que minimizar a possibilidade de contágios que pudessem mandar de novo turmas inteiras para casa. O sucesso da escola 100% presencial em 2021/22 deve-se em larga medida, é honesto reconhecê-lo, à continuidade do uso das máscaras.

Ainda assim, a decisão de decretar o fim da obrigatoriedade das máscaras nos espaços interiores das escolas – no exterior há muito que deixaram de ser exigidas – poderá eventualmente ser tomada nos próximos dias, com efeitos já a partir do início do terceiro período. Uma decisão que terá de ser cuidadosamente ponderada, para que o levantamento das restrições não venha a originar uma nova e mais intensa vaga de alunos em isolamento.

Um director desbocado

Assumir, como dever de ofício, o ter de marcar presença regular na comunicação social, tem destas coisas. Filinto Lima fala e escreve sobre assuntos da actualidade educativa mesmo quando não tem nada de relevante a dizer, não está habilitado a opinar sobre a matéria em causa ou não encontra as palavras certas para se exprimir. O resultado está à vista.

“Ter à frente da boca uma mordaça é um entrave de ensino e aprendizagem”

Claro que é mais confortável falar com o rosto destapado, mas não me sinto “amordaçado” quando dou aulas de máscara. Amordaçados parecem-me, isso sim, muitos directores que, mesmo de cara destapada, não são capazes de defender com firmeza os interesses das respectivas escolas e de quem nelas estuda e trabalha. Vejo que o ministério não precisou de recorrer a mordaças físicas para condicionar os directores escolares a serem, com as sempre honrosas excepções, paus mandados das mais abstrusas políticas educativas.

Quanto ao tempo que ainda teremos de usar a máscara nas salas de aula, preferiria que a decisão fosse tomada no tempo e nas instâncias certos, centrada em critérios objectivos e na evidência científica, em vez de se inspirar em devaneios e estados de alma de directores que falam do que não lhes diz directamente respeito. Enquanto aos professores que estão diariamente nas salas de aula, e que são quem realmente lida com o problema, ninguém pede opinião.

Não pedem, mas eu dou-a à mesma. E, ao contrário de Filinto, fundamento-a. Sentir-me-ei confortável para retirar a máscara, e aceitar que os alunos também o façam, quando a situação epidemiológica for considerada segura para o efeito pelas entidades responsáveis e as temperaturas permitirem uma ventilação eficaz. Não antes da Primavera, portanto, e desejavelmente após as férias da Páscoa, caso a pandemia evolua favoravelmente.

Usar máscara na escola, sim ou não?

Manter a máscara nas salas de aula é “sensato”. O problema dos alunos é outro: “Vivem mais com máscaras virtuais do que faciais”

A notícia do Expresso tenta fazer o ponto da situação sobre a recente polémica em torno do uso de máscaras respiratórias, que se mantém em vigor nas salas de aula. Antes que a discussão seja monopolizada pelos habituais especialistas, instantâneos ou encartados, em epidemiologia, ou pelos autoproclamados “representantes das escolas” – os directores escolares que não marcam presença nas salas de aula, mas estão sempre dispostos a falar em nome da vontade e do interesse dos professores – é bom que estes últimos se façam ouvir. Eis o meu contributo.

Entre o voluntarismo daqueles que erradicariam já hoje as máscaras dos espaços escolares e os que pretendem manter o seu uso por tempo indefinido, há uma posição de meio-termo que passa por olhar a questão com objectividade e bom senso. Algo que, nesta fase final – assim se espera! – da pandemia, vai faltando de parte a parte, enquanto negacionismos e radicalismos reforçam as suas posições.

Um olhar sereno e objectivo sobre a realidade, ao fim de dois anos de pandemia, deveria fazer-nos reflectir, por exemplo, sobre a paranóia que ainda persiste nalguns locais sobre a higienização de superfícies. Ao fim de todo este tempo, quem é que ainda não percebeu que o vírus é respiratório, e que ninguém é contaminado por tocar num objecto que já esteve em contacto com um infectado? Quanto às mãos, claro devem ser lavadas com regularidade, mas isso faz-se com água e sabão, não a esfregá-las com desinfectante de cinco em cinco minutos. Rituais de desinfecção de mesas, cadeiras ou teclados de computador em salas de aula que permanecem de janelas fechadas deveriam ser erradicados nas escolas portuguesas onde ainda persistem. Além de inúteis, transmitem a falsa sensação de segurança: de que está desinfectado um espaço onde se descontaminou tudo, menos aquilo que, no contexto da covid-19, realmente interessa: o ar que se respira.

A falta de ventilação das salas de aula é, na verdade, o grande problema das escolas em contexto de pandemia. O elefante na sala de que quase se não fala. No Inverno, especialmente, torna-se impraticável dar aulas de janelas abertas, com temperaturas exteriores de poucos graus positivos – ou até negativas, como sucede com frequência nalgumas zonas do interior do país, às primeiras horas da manhã – pelo que o único arejamento possível é manter aberta a porta da sala, o que é claramente insuficiente num espaço onde permanecerão, por tempo prolongado, 20 a 30 pessoas a respirar o mesmo ar. Ao contrário de outros países, que investiram em sistemas de climatização nas escolas ou reduziram o tamanho das turmas, por cá evitaram-se, por dispendiosas, todas as medidas que pudessem tornar as escolas realmente mais seguras, incidindo sobre os principais factores de risco: a proximidade física por períodos prolongados e a falta de ventilação, que possibilita a acumulação de vírus respiratórios em espaços interiores.

Perante isto, e mesmo tendo em conta a menor virulência das estirpes virais actuamente em circulação e o elevado número de infectados nesta última vaga de covid-19 – factores que só por si diminuirão sensivelmente o impacto da pandemia sobre a saúde pública nos próximos tempos – parece-me prudente a manutenção do uso da máscara nas salas de aula e demais espaços interiores das escolas. Na Primavera, com a subida das temperaturas e a possibilidade de ventilar naturalmente as salas de aula, será então de equacionar, se os indicadores pandémicos evoluírem como esperado, aulas finalmente libertas do uso de máscaras.

Quanto aos recreios e espaços exteriores, não se justifica, como já não se justificava antes, a imposição da máscara. Que se aproveitem os intervalos e os tempos livres na escola para respirar livremente, brincando, jogando, conversando, convivendo. Sem máscaras e, já agora, sem os hipnóticos e omnipresentes ecrãs dos telemóveis…

As cicatrizes da pandemia

As crianças e os jovens acabados de entrar no mercado de trabalho serão os grupos mais fustigados pela pandemia, a médio e longo prazo. As primeiras por causa das perdas nas aprendizagens, os segundos porque demorarão a recuperar do solavanco sofrido na sua inserção laboral. A conclusão é da economista Susana Peralta, co-autora do relatório Portugal – Balanço Social 2021, que traça o retrato do país após o primeiro ano da pandemia.

No ano de 2020, o risco de pobreza tinha aumentado 2,2 pontos percentuais, para 18,4% da população, conforme tinha já demonstrado o inquérito do Instituto Nacional de Estatística (INE) aos rendimentos e condições de vida, realizado já em 2021, mas com base nos rendimentos do ano anterior. As mulheres, as pessoas com 65 ou mais anos de idade e as famílias com crianças (sobretudo as monoparentais) e os desempregados foram os grupos mais fustigados pelo agravamento da pobreza, o que também não constituiu surpresa num cenário em que, num único ano, surgiram 230 mil novos pobres em Portugal, fazendo aumentar para 1,9 milhões os portugueses obrigados a viver com menos de 554 euros por mês.

Para Susana Peralta, porém, o país está em condições de recuperar rapidamente deste efeito imediato da pandemia na sua situação social. “Os níveis de consumo e do PIB [Produto Interno Bruto] deverão rapidamente voltar aos níveis de 2019 – não sei quando, mas num prazo razoavelmente rápido, também por causa das políticas governamentais de apoio às empresas”, começa por situar a investigadora da Nova School of Business and Economics, para quem as cicatrizes mais difíceis de fazer desaparecer serão as deixadas pelo SARS-Cov-2 nas crianças e nos jovens, “cujo potencial corre o risco de sair fortemente limitado”.

O estudo dos economistas da Universidade Nova tem uma leitura algo ambivalente. Por um lado, chama – bem! – a atenção para os impactos desiguais que a pandemia teve na sociedade: afectou mais os mais pobres, os trabalhadores precários, os jovens em início atribulado da vida activa, as crianças dos primeiros anos de escolaridade e as que revelam menor autonomia ou tiveram menos apoio familiar. As políticas de contra-ciclo tomadas pelos governos contrariaram em parte os feitos adversos dos confinamentos e das restrições às actividades económicas, mas foram claramente insuficientes para apoiar eficazmente todos os que precisavam.

Por outro lado, no entanto, há um aspecto que fica mal esclarecido: agora que a moda é hiperbolizar as consequências da pandemia, como se a humanidade não tivesse já superado outras crises de saúde pública bem mais graves, corre-se o risco de escamotear a realidade: a crise pandémica não trouxe nada de radicalmente novo em termos económicos ou sociais, apenas acentuou e agravou algumas tendências que já antes se manifestavam, como o crescimento das desigualdades, a exclusão social, a alienação consumista

Da mesma forma, parece-me excessivo e alarmista sugerir que precisaremos de década para reparar os danos e aos atrasos que a pandemia terá causado ao desenvolvimento psico-social e cognitivo dos alunos mais novos. É certo que esta realidade existe, e todos os professores a podem constatar reconhecendo, por exemplo, a imaturidade de muitos alunos em relação à idade que já têm ou o atraso no desenvolvimento de conhecimentos e competências que, com a idade e a escolarização que já têm, deveriam estar assimilados. Mas isto já se previa que iria suceder, e que seriam necessárias medidas especiais para apoiar os alunos, sobretudo os mais fragilizados, no regresso à escola presencial. Ora a verdade é que, para além dos habituais números de propaganda, pouco ou nada foi feito nesta área.

O declínio das aprendizagens em tempo de pandemia não é uma inevitabilidade, e pode sempre ser revertido. O que é preciso é investir em recursos humanos – mais professores e outros profissionais da Educação – e dar meios às escolas para responder às necessidades dos seus alunos, em vez de se continuarem a focar nos devaneios eduqueses do secretário Costa e dos seus sequazes. Se o não querem fazer, assumam por uma vez as responsabilidades próprias, e parem de culpar a pandemia.

Regresso às aulas (com covid)

Imagem daqui

O sentimento exprimiu-se esta semana em França através de uma greve de docentes, é visível em Espanha através de intervenções e cartoons como o que ilustra este post, está presente também noutros países: os responsáveis políticos mandam os alunos para as escolas num quadro de incerteza, insegurança, indecisões.

Ninguém quer novos confinamentos, cada vez mais custosos, económica e socialmente. Mas o vírus da covid-19 continua a espalhar-se e a atingir números recorde de novos infectados, apesar dos esforços individuais e colectivos para evitar a sua propagação. Terão as escolas as condições necessárias para funcionar em segurança, sem originar, dentro de poucas semanas, uma nova vaga da pandemia? Não estaremos a atirar, para cima de professores e dirigentes escolares, responsabilidades que deveriam ser os políticos a assumir?

Covid nas escolas: balanço do 1.º período

Entre 14 de setembro e 17 de dezembro de 2021, registaram-se nas escolas portuguesas cerca de 7 mil casos de Covid-19, correspondendo a 0,5% da comunidade escolar. O número foi divulgado esta sexta-feira, 14 de janeiro, pelo Ministério da Educação e resulta da informação remetida à tutela pelas direções das escolas, que compreende já dados introduzidos após o término do 1.º período letivo.

Os cerca de sete mil casos registados nestes três meses representam menos de metade dos 16 mil casos identificados em igual período de 2020 no universo de cerca de 1,3 milhões de pessoas que todos os dias estudam ou trabalham nas escolas públicas.

Nas últimas duas semanas do 1.º período letivo, no total das 55 mil turmas, “menos de 500 turmas estavam em isolamento”, contra 700 no mesmo período do ano anterior. Isto significa, números redondos que, estavam em isolamento profilático cerca de 24 mil alunos, docentes e não docentes, o que compara com cerca de 87 mil alunos e trabalhadores registados em 2020.

O Ministério de Tiago Brandão Rodrigues refere ainda que, no total dos 5.400 estabelecimentos de educação e ensino existentes, “apenas em 2.000 houve registo de algum caso positivo” durante o 1.º período do atual ano letivo. Já no mesmo período de 2020/21 registaram-se casos positivos em cerca de 2.800 escolas.

Uma evolução aparentemente positiva, na comparação com o ano lectivo anterior, mas que poderá estar já desactualizada. Tal como sucedeu em 2021, Janeiro será certamente um mês crítico, com o número de casos a disparar, embora o efeito conjugado das taxas de vacinação elevadas e de estar em circulação uma variante altamente contagiosa mas menos agressiva da doença mantenha por enquanto em valores controláveis os casos de doença grave.

Na verdade, quem estuda ou trabalha nas escolas apercebe-se que o número de casos suspeitos ou positivos sobe de dia para dia. Disparam não só os números dos alunos que ficam em isolamento mas também os dos testes a que são obrigados, para continuarem na escola, os colegas de turma. Mas, uma vez mais, faltam números actualizados. O ME, que está permanentemente a recolher e armazenar todo o tipo de informação estatística sobre o que se passa nas escolas, é depois bastante parcimonioso, para não dizer somítico, na sua divulgação. Socorro-me assim dos dados que foram divulgados no país vizinho, e que mostram como a pandemia alastra nas escolas espanholas: recomeçaram as aulas a 10 de Janeiro, tal como nós, e só na primeira semana de aulas registaram 102 mil alunos (1,6% do total) e 19.335 professores (3,2%) em isolamento devido à covid-19. Por cá, e tendo em conta o ritmo a que tem crescido diariamente o número de infectados, a realidade não deverá ser muito diferente…