Manter a máscara nas salas de aula é “sensato”. O problema dos alunos é outro: “Vivem mais com máscaras virtuais do que faciais”
A notícia do Expresso tenta fazer o ponto da situação sobre a recente polémica em torno do uso de máscaras respiratórias, que se mantém em vigor nas salas de aula. Antes que a discussão seja monopolizada pelos habituais especialistas, instantâneos ou encartados, em epidemiologia, ou pelos autoproclamados “representantes das escolas” – os directores escolares que não marcam presença nas salas de aula, mas estão sempre dispostos a falar em nome da vontade e do interesse dos professores – é bom que estes últimos se façam ouvir. Eis o meu contributo.
Entre o voluntarismo daqueles que erradicariam já hoje as máscaras dos espaços escolares e os que pretendem manter o seu uso por tempo indefinido, há uma posição de meio-termo que passa por olhar a questão com objectividade e bom senso. Algo que, nesta fase final – assim se espera! – da pandemia, vai faltando de parte a parte, enquanto negacionismos e radicalismos reforçam as suas posições.
Um olhar sereno e objectivo sobre a realidade, ao fim de dois anos de pandemia, deveria fazer-nos reflectir, por exemplo, sobre a paranóia que ainda persiste nalguns locais sobre a higienização de superfícies. Ao fim de todo este tempo, quem é que ainda não percebeu que o vírus é respiratório, e que ninguém é contaminado por tocar num objecto que já esteve em contacto com um infectado? Quanto às mãos, claro devem ser lavadas com regularidade, mas isso faz-se com água e sabão, não a esfregá-las com desinfectante de cinco em cinco minutos. Rituais de desinfecção de mesas, cadeiras ou teclados de computador em salas de aula que permanecem de janelas fechadas deveriam ser erradicados nas escolas portuguesas onde ainda persistem. Além de inúteis, transmitem a falsa sensação de segurança: de que está desinfectado um espaço onde se descontaminou tudo, menos aquilo que, no contexto da covid-19, realmente interessa: o ar que se respira.
A falta de ventilação das salas de aula é, na verdade, o grande problema das escolas em contexto de pandemia. O elefante na sala de que quase se não fala. No Inverno, especialmente, torna-se impraticável dar aulas de janelas abertas, com temperaturas exteriores de poucos graus positivos – ou até negativas, como sucede com frequência nalgumas zonas do interior do país, às primeiras horas da manhã – pelo que o único arejamento possível é manter aberta a porta da sala, o que é claramente insuficiente num espaço onde permanecerão, por tempo prolongado, 20 a 30 pessoas a respirar o mesmo ar. Ao contrário de outros países, que investiram em sistemas de climatização nas escolas ou reduziram o tamanho das turmas, por cá evitaram-se, por dispendiosas, todas as medidas que pudessem tornar as escolas realmente mais seguras, incidindo sobre os principais factores de risco: a proximidade física por períodos prolongados e a falta de ventilação, que possibilita a acumulação de vírus respiratórios em espaços interiores.
Perante isto, e mesmo tendo em conta a menor virulência das estirpes virais actuamente em circulação e o elevado número de infectados nesta última vaga de covid-19 – factores que só por si diminuirão sensivelmente o impacto da pandemia sobre a saúde pública nos próximos tempos – parece-me prudente a manutenção do uso da máscara nas salas de aula e demais espaços interiores das escolas. Na Primavera, com a subida das temperaturas e a possibilidade de ventilar naturalmente as salas de aula, será então de equacionar, se os indicadores pandémicos evoluírem como esperado, aulas finalmente libertas do uso de máscaras.
Quanto aos recreios e espaços exteriores, não se justifica, como já não se justificava antes, a imposição da máscara. Que se aproveitem os intervalos e os tempos livres na escola para respirar livremente, brincando, jogando, conversando, convivendo. Sem máscaras e, já agora, sem os hipnóticos e omnipresentes ecrãs dos telemóveis…