Usar máscara na escola, sim ou não?

Manter a máscara nas salas de aula é “sensato”. O problema dos alunos é outro: “Vivem mais com máscaras virtuais do que faciais”

A notícia do Expresso tenta fazer o ponto da situação sobre a recente polémica em torno do uso de máscaras respiratórias, que se mantém em vigor nas salas de aula. Antes que a discussão seja monopolizada pelos habituais especialistas, instantâneos ou encartados, em epidemiologia, ou pelos autoproclamados “representantes das escolas” – os directores escolares que não marcam presença nas salas de aula, mas estão sempre dispostos a falar em nome da vontade e do interesse dos professores – é bom que estes últimos se façam ouvir. Eis o meu contributo.

Entre o voluntarismo daqueles que erradicariam já hoje as máscaras dos espaços escolares e os que pretendem manter o seu uso por tempo indefinido, há uma posição de meio-termo que passa por olhar a questão com objectividade e bom senso. Algo que, nesta fase final – assim se espera! – da pandemia, vai faltando de parte a parte, enquanto negacionismos e radicalismos reforçam as suas posições.

Um olhar sereno e objectivo sobre a realidade, ao fim de dois anos de pandemia, deveria fazer-nos reflectir, por exemplo, sobre a paranóia que ainda persiste nalguns locais sobre a higienização de superfícies. Ao fim de todo este tempo, quem é que ainda não percebeu que o vírus é respiratório, e que ninguém é contaminado por tocar num objecto que já esteve em contacto com um infectado? Quanto às mãos, claro devem ser lavadas com regularidade, mas isso faz-se com água e sabão, não a esfregá-las com desinfectante de cinco em cinco minutos. Rituais de desinfecção de mesas, cadeiras ou teclados de computador em salas de aula que permanecem de janelas fechadas deveriam ser erradicados nas escolas portuguesas onde ainda persistem. Além de inúteis, transmitem a falsa sensação de segurança: de que está desinfectado um espaço onde se descontaminou tudo, menos aquilo que, no contexto da covid-19, realmente interessa: o ar que se respira.

A falta de ventilação das salas de aula é, na verdade, o grande problema das escolas em contexto de pandemia. O elefante na sala de que quase se não fala. No Inverno, especialmente, torna-se impraticável dar aulas de janelas abertas, com temperaturas exteriores de poucos graus positivos – ou até negativas, como sucede com frequência nalgumas zonas do interior do país, às primeiras horas da manhã – pelo que o único arejamento possível é manter aberta a porta da sala, o que é claramente insuficiente num espaço onde permanecerão, por tempo prolongado, 20 a 30 pessoas a respirar o mesmo ar. Ao contrário de outros países, que investiram em sistemas de climatização nas escolas ou reduziram o tamanho das turmas, por cá evitaram-se, por dispendiosas, todas as medidas que pudessem tornar as escolas realmente mais seguras, incidindo sobre os principais factores de risco: a proximidade física por períodos prolongados e a falta de ventilação, que possibilita a acumulação de vírus respiratórios em espaços interiores.

Perante isto, e mesmo tendo em conta a menor virulência das estirpes virais actuamente em circulação e o elevado número de infectados nesta última vaga de covid-19 – factores que só por si diminuirão sensivelmente o impacto da pandemia sobre a saúde pública nos próximos tempos – parece-me prudente a manutenção do uso da máscara nas salas de aula e demais espaços interiores das escolas. Na Primavera, com a subida das temperaturas e a possibilidade de ventilar naturalmente as salas de aula, será então de equacionar, se os indicadores pandémicos evoluírem como esperado, aulas finalmente libertas do uso de máscaras.

Quanto aos recreios e espaços exteriores, não se justifica, como já não se justificava antes, a imposição da máscara. Que se aproveitem os intervalos e os tempos livres na escola para respirar livremente, brincando, jogando, conversando, convivendo. Sem máscaras e, já agora, sem os hipnóticos e omnipresentes ecrãs dos telemóveis…

Regresso às aulas (com covid)

Imagem daqui

O sentimento exprimiu-se esta semana em França através de uma greve de docentes, é visível em Espanha através de intervenções e cartoons como o que ilustra este post, está presente também noutros países: os responsáveis políticos mandam os alunos para as escolas num quadro de incerteza, insegurança, indecisões.

Ninguém quer novos confinamentos, cada vez mais custosos, económica e socialmente. Mas o vírus da covid-19 continua a espalhar-se e a atingir números recorde de novos infectados, apesar dos esforços individuais e colectivos para evitar a sua propagação. Terão as escolas as condições necessárias para funcionar em segurança, sem originar, dentro de poucas semanas, uma nova vaga da pandemia? Não estaremos a atirar, para cima de professores e dirigentes escolares, responsabilidades que deveriam ser os políticos a assumir?

O regresso às aulas

Ainda com a vaga-ómicron da pandemia como pano de fundo, reabriram hoje as escolas de todo o país. Com mais alunos e professores vacinados, mas também com regras menos restritivas em relação ao isolamento profiláctico, de eventuais casos suspeitos ou infectados, saber se a reabertura escolar irá contribuir para o aumento dos contágios é neste momento uma incógnita.

Espera-se. é claro, que tudo corra bem, e quem trabalha nas escolas tem demonstrado bom senso e sentido de responsabilidade no sentido de minimizar os riscos de contágio na comunidade escolar. Mas nem tudo está ao nosso alcance.

Da imprensa de ontem, um ponto da situação no sector neste recomeço das actividades lectivas.

Escolas estão preparadas

Mesmo com as dificuldades – e enquanto a Europa aperta medidas -, há confiança nos avanços conquistados. «Teremos mais professores – doses de reforço, e mais alunos (os mais novos) vacinados, do que no dia 17 de dezembro, quando terminou o 1º período», diz ao Nascer do SOL Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). «Ninguém está imune, mas estamos mais defendidos em relação ao inimigo». Para Filinto Lima, o ensino à distância deverá ser somente utilizado em último recurso: «Se é verdade que a escola é um elevador social, quando esse elevador é movido pelo ensino à distância ele sobe muito devagar para alguns (os mais abastados) e desce bastante para os do costume, aumentando as desigualdades».

Pais recusam computadores

Os confinamentos e as primeiras experiências de ensino à distância aceleraram inevitavelmente a adaptação. «Estamos muito melhor do que no ano passado, tendo em quantidade de material digital como ao nível da literacia digital do alunos e professores», salienta o presidente da ANDAEP. Estão a ser entregues neste momento mais computadores aos alunos, mas «curiosamente alguns pais e encarregados de educação estão a recusar», assim como «material digital que o Ministério da Educação atribui em regime de comodato» por não querem arcar com a «responsabilidade». Alguns pais e encarregados de educação – principalmente de alunos do ensino secundário – receiam ter de pagar os arranjos dos aparelhos caso haja algum acidente. E aqueles que podem preferem adquirir eles próprios o material. A ANDAEP, no entanto, não tem dados de quantos computadores foram rejeitados por este motivo. E, apesar de a prioridade ser sempre o ensino presencial, Filinto Lima considera que – se for preciso – as escolas estão preparadas para se adaptarem ao ensino remoto.

Vacinação do Ensino Superior

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) quer que os docentes do ensino superior sejam integrados na vacinação de reforço contra a covid-19, da qual foram excluídos. «Na sequência de uma preocupação manifestada globalmente pela comunidade educativa e, também, pela Fenprof , relativamente à segurança dos profissionais da educação no regresso às aulas após a pausa letiva do Natal, foi recentemente anunciado que, entre os dias 6 e 9 de janeiro, seria disponibilizada aos docentes de todos os graus de ensino a dose de reforço da vacina contra a covid-19», recorda em comunicado. Porém, aponta a organização, «verifica-se que os professores do ensino superior foram excluídos desta fase de vacinação, apesar de pertencerem a um nível de ensino em que, por norma, as turmas têm um número elevado de alunos».

Pais estão mais confiantes

Mesmo com relaxamento das medidas nas escolas, não há motivos para temer, garante Filinto Lima. «Há mais crianças vacinadas. A situação é muito melhor do ponto de vista sanitário nas escolas e em toda a comunidade escolar», continua o responsável. O aligeirar da medidas, defende, não deve trazer uma maior preocupação porque «é um percurso natural, de acordo com o evoluir da situação pandémica em Portugal. Os pais não têm de temer».

Reabertura das aulas sem novos confinamentos

António Costa confirma a reabertura das escolas no dia 10, mas professores, auxiliares e assistentes operacionais serão testados nas próximas duas semanas. O anúncio é feito depois do Conselho de Ministros desta quinta-feira.

No caso de uma criança testar positivo, os colegas da turma não terão de ficar em isolamento, tal como definem as novas regras gerais da Direção-Geral de Saúde (DGS) para os isolamentos profiláticos. A exceção é se alguma das crianças da mesma turma for coabitante com a criança infetada. Não há qualquer diferenciação entre crianças vacinadas ou não vacinadas.

Os apoios aos pais mantêm-se para as situações em que as crianças tenham de ficar isoladas, acrescentou o primeiro-ministro.

Alguma ousadia, senão excesso de optimismo, nas medidas anticovid ontem anunciadas. Nas escolas, passa-se do oito ao oitenta: se até aqui um aluno positivo à covid-19 mandava o resto da turma para casa, agora apenas o aluno infectado fica em isolamento. Talvez uma solução intermédia fosse mais sensata, nomeadamente identificando os colegas expostos a maior risco: o/a colega de carteira, os amigos com quem está habitualmente, e nem sempre com máscara, aqueles que almoçam juntos no refeitório, o/a eventual namorado/a… Também sabemos que as vacinas importam: não impedem por completo a infecção mas diminuem as probabilidades e os riscos de se ser infectado. Mas os rastreios sistemáticos tornaram-se impraticáveis com o número de novos casos que temos actualmente. E, em período pré-eleitoral, o Governo terá preferido evitar enfrentar acusações de discriminação relativamente aos alunos não vacinados, pelo que a nova norma tratará todos por igual.

O resto é o que já se sabia, as aulas são para arrancar no dia 10 e a vida económica, social e cultural do país e dos cidadãos é para viver com a normalidade possível e as necessárias limitações e restrições. Portugal continua a liderar, no continente europeu, em percentagem da população vacinada, e é este certamente o factor decisivo que estará a permitir a quase normalidade que se pretende manter na vida colectiva, quando a maioria dos países europeus mantém ou impõe mais severas restrições.

Por decidir ficam ainda as eventuais medidas a tomar na altura das eleições, quando estaremos provavelmente no auge da vaga pandémica, com mais de meio milhão de infectados, a grande maioria assintomáticos ou com sintomas leves. Como conciliar a defesa da saúde pública, que impõe o isolamento profiláctico, com o exercício de um direito fundamental em qualquer regime democrático? A questão continua em aberto, e já se percebeu que as decisões não serão fáceis…

Máscaras na escola, até quando?

Quando mais de 92% da população acima dos 12 anos está totalmente vacinada, e quando entre estes se encontram não só a totalidade dos mais vulneráveis como todos os professores que desejaram ser vacinados, por que razão continuam os nossos alunos a ter de usar máscara dentro da sala de aula e esta continua a ser recomendada no recreio “sempre que se verifiquem aglomerados de pessoas”? Quando existe um consenso científico sobre a baixíssima probabilidade de infeção através do contacto com superfícies ou objetos contaminados (fomites), como se justifica que se mantenha a proibição de partilha de material escolar ou a quarentena de livros das bibliotecas escolares? Quando a intensidade da pandemia em Portugal passa, segundo as designações oficiais, de “moderada” a “reduzida”, que explicação pode ser encontrada para que as visitas de estudo continuem a ser limitadas? Quando os adultos podem frequentar esplanadas e discotecas dispensados do uso de máscara, qual a justificação para manter crianças em plena fase de desenvolvimento psíquico e social privadas da partilha e do convívio próximo com os seus pares? Como compatibilizar as imagens de espaços de diversão noturna a abarrotar de gente sem máscara com as de crianças sentadas numa sala de aula sujeitas à obrigatoriedade de, a partir dos 10 anos, “utilizar máscara comunitária certificada ou máscara cirúrgica”?

Miguel Prudêncio traz às páginas do DN um tema polémico, mas pertinente: com 85% da população vacinada contra a covid-19, um recorde mundial para o qual contribuíram também, decisivamente, os jovens a partir dos 12 anos que aceitaram vacinar-se em massa, faz sentido manter em vigor, nas escolas, praticamente as mesmas regras que foram impostas no auge da pandemia?

Claro que já se percebeu há muito a irrelevância prática dos “circuitos” de circulação ou da desinfecção sistemática de mãos e objectos partilhados. Já se assumiu a normalidade da lotação completa nos transportes escolares e dos alunos sentados dois a dois nas salas de aula. A questão essencial é, neste momento, o uso da máscara. Sendo uma medida comprovadamente eficaz a evitar a disseminação do vírus por pessoas infectadas, ela transmite uma sensação de segurança e parece ter criado até uma certa habituação da qual é difícil desprendermo-nos. Por outro lado, sabemos que, embora diminuam bastante o risco de contágios, as vacinas não eliminam por completo nem a possibilidade de se ser infectado nem a de transmitir a outros a doença. E como ninguém quer ser responsável por eventuais surtos em ambiente escolar, continua a imperar, nas normas sanitárias para as escolas, uma prudência por muitos considerada excessiva.

Do ponto de vista pedagógico, bem como na perspectiva do desenvolvimento pessoal e social de crianças e adolescentes, é evidente que o uso da máscara é limitativo e prejudicial, pelo que deveria ser dispensado assim que possível. Afinal de contas, prometeram o regresso à vida normal quando fossem alcançados os 85% na taxa de vacinação. Nas escolas, as bocas e narizes permanentemente tapados dificultam a comunicação e recordam-nos, a cada momento, como estamos ainda longe da normalidade.

Recreios sem máscara

O uso de máscaras nos recreios das escolas deixa de ser obrigatório e a Direção-Geral da Saúde vai atualizar as normas do isolamento profilático nos estabelecimentos de ensino, anunciou esta quinta-feira o primeiro-ministro.

“Quanto ao ano letivo, o Conselho de Ministros tomou a decisão de clarificar que o uso de máscara não é obrigatório nos espaços exteriores das escolas, designadamente nos recreios”, disse António Costa, na conferência de imprensa da reunião do Conselho de Ministros desta quinta-feira, na qual o Governo aprovou a passagem à terceira fase de desconfinamento e as medidas associadas no âmbito da pandemia de Covid-19.

O primeiro-ministro avançou também que a Direção-Geral da Saúde vai atualizar, nos próximos dias, as normas sobre o confinamento, que vão permitir “responder a problemas que ainda têm subsistido” em relação “ao isolamento de pessoas que estão vacinadas e tendo em conta o risco efetivo da transmissão da doença entre população escolar”.

Dispensar a máscara nos recreios, tal como já sucede na generalidade dos espaços ao ar livre parece-me uma medida sensata e que apenas poderá pecar por tardia. Na fase em que nos encontramos, e se queremos que o processo de desconfinamento seja definitivo e irreversível, a aposta tem de ser cada vez mais na consciencialização das pessoas e no foco em comportamentos de risco. O que contamina é respirar o ar expirado por alguém infectado, e isso não é estar de máscara ao ar livre, ou desinfectar as mãos de 10 em 10 minutos que o vai evitar. É mesmo o uso de máscara e um razoável distanciamento nos espaços interiores, sobretudo quando mal ventilados – o que irá suceder cada vez mais nas salas de aula, à medida que o frio começar a convidar ao fecho das janelas.

A revisão das regras do isolamento profiláctico é tanto ou mais necessária do que o uso da máscara. Não faz sentido, com 85% da população vacinada, que um contacto suspeito, mas negativo e assintomático, possa ter de permanecer isolado mais tempo do que um positivo confirmado. Ou que contactos geralmente considerados de baixo risco continuem a colocar de quarentena turmas inteiras…

Regras sem sentido

A diferentes velocidades e com medidas diversas consoante o contexto pandémico, as aulas são retomadas durante este mês de Setembro um pouco por toda a Europa. Os 27 países da União Europeia (UE) avançam maioritariamente com o ensino presencial, com uma forte aposta na vacinação, implementando regras que distinguem vacinados de não vacinados. Há apenas dois países que não fazem essa distinção: Portugal e Roménia. No caso português, o número de dias de isolamento (14) é o maior da UE.

Não faz sentido que o país que lidera a nível mundial, com as mais elevadas taxas de vacinação, o processo de vacinação anticovid, seja também dos que mais restrições impõe à população vacinada. Na prática, e tirando a exibição dos certificados de vacinação nos restaurantes ao fim de semana, obrigação que, na falta de fiscalização, vai sendo letra morta em cada vez mais sítios, continua por cumprir a promessa que motivou tanta gente a vacinar-se: poder regressar a um quotidiano mais seguro e com menos limitações. E uma efectiva – não há que temer assumi-lo – discriminação positiva em relação àqueles que, fazendo uso do direito que lhes assiste de não se quererem vacinar, estão realmente menos protegidos dos efeitos da doença e da sua capacidade de contágio.

Nas escolas, aceita-se resignadamente o uso das máscaras: percebe-se que os interiores mal ventilados e as salas de aula sobrepovoadas das nossas escolas criam ambientes propícios à propagação do vírus e impõem cautelas que não deitem a perder os avanços dos últimos meses no controle da pandemia. Já é mais difícil compreender que se insista em períodos de isolamento de duas semanas para suspeitos assintomáticos, vacinados e com teste negativo à covid-19.

Terceiro ano lectivo da era covid

Apesar do sucesso na vacinação e do muito que se fez – e também do que se poderia ter feito mas se preferiu, poupando, não fazer – percebe-se que a covid-19 vai continuar connosco em mais um ano lectivo.

Sendo assim, ainda não é desta que dispensaremos as máscaras, os distanciamentos e as restrições de circulação e permanência em espaços confinados. Contudo, com os grupos de risco mais protegidos, a prioridade é agora evitar ao máximo os confinamentos escolares, aliviando as regras que determinam o isolamento profiláctico perante casos suspeitos ou confirmados envolvendo elementos da comunidade escolar.

O Educare traça uma breve súmula do que muda e do que prevalece nos planos de contingência escolares contra a covid-19.

Um caso positivo não significa uma turma em casa durante duas semanas. Os contactos considerados de baixo risco ou com teste negativo regressam à escola, ou seja, “devem interromper o isolamento profilático, retomando a respetiva atividade letiva”, segundo a DGS. E não há distinção entre alunos vacinados e não vacinados para definir períodos de isolamento. Em caso de surto, as autoridades de saúde continuam a poder determinar o encerramento de uma ou mais turmas, áreas da escola, ou de todo o estabelecimento de ensino, conforme as circunstâncias.

A DGS sustenta que é necessário ter a máxima atenção para “quebrar qualquer cadeia de transmissão do vírus que possa ‘invadir’ o ambiente escolar” e a operação de testagem já está agendada, no sentido de “realizar um varrimento inicial” na comunidade escolar a partir do 7.º ano. Docentes e funcionários são testados até 17 de setembro, alunos do Secundário entre 20 de setembro e 1 de outubro, e os estudantes do 3.º Ciclo de 4 a 15 de outubro. Todos, independentemente de estarem ou não vacinados.

“O objetivo é identificar casos de covid-19 de todo o pessoal docente e não docente e dos alunos do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário, nas primeiras semanas do novo ano letivo, de forma a quebrar eventuais cadeias de transmissão”, como indica a DGS. As autoridades de saúde podem realizar testes sempre que considere necessário, de acordo com a evolução da situação epidemiológica. “Neste caso, os testes já não serão feitos pela área governativa da Educação, ficando a cargo dos serviços de saúde que os prescreveram”.

As regras de proteção individual continuam a ser fundamentais nas escolas, apesar das indicações de afetar o mínimo de alunos em caso positivo confirmado. A Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) mantém a vontade de que o ensino seja 100% presencial e espera que não haja escolas a fechar no novo ano letivo. “Tudo o que for feito nesse sentido, atendendo às circunstâncias da evolução da pandemia, para nós é importante. O pior seria ter de voltar a confinar, fechar uma escola, confinar muitas turmas, este é o grande problema que queremos a todo o custo que seja evitado”, referiu David Sousa, vice-presidente da ANDAEP, em declarações à Lusa.

Professora infectada contagiou metade da turma

Ultimam-se as normas para a reabertura do novo ano lectivo ainda em clima de pandemia, sabendo-se que não deverão diferir substancialmente das adoptadas em 2020/21: não se mexe no tamanho das turmas nem nas condições físicas das salas de aula, que isso custa dinheiro; em contrapartida, voltaremos em breve à rotina dos distanciamentos, dos circuitos e horários desencontrados, das máscaras e do gel desinfectante. E dos testes em massa, também, já anunciados para todo o pessoal docente e não docente e alunos a partir do 3.º ciclo.

Para quem pensa que tudo isto será excessivo perante a elevada percentagem de portugueses vacinados, há que lembrar que as vacinas não garantem eficácia completa contra as diversas variantes da covid-19. Que algumas destas são especialmente contagiosas mesmo entre os mais novos. Que continua a haver, embora em menor número do que noutros países, resistentes à vacinação. E que os alunos mais novos, além de não serem vacinados, nem sequer são obrigados a usar máscara.

Se mais dúvidas houver, atente-se neste exemplo que nos chega dos EUA, de um estado – a Califórnia – onde até tem havido boa aceitação das medidas anti-covid. Bastou no entanto que uma professora infectada e não vacinada teimasse em dar aula sem máscara para contagiar metade dos seus alunos…

Uma professora não vacinada numa escola primária da California infetou metade dos seus alunos – e 26 pessoas no total – quando contraiu a variante delta, de acordo com investigadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.

O CDC investigou o surto naquela escola do condado de Marin que começou com a professora infetada, uma dos dois únicos funcionários da escola que não estavam vacinados. A professora teve sintomas de covid-19 em meados de maio, mas continuou a trabalhar até receber um teste positivo.

Segundo os cientistas, a professora esteve na escola durante dois dias, apesar de apresentar sintomas, e lia em voz alta para a turma sem máscara, embora a escola exigisse o seu uso em ambientes fechados.

Metade dos alunos contraiu a doença, sendo que os alunos sentados mais perto da professora tinham maior probabilidade de estarem infetados. Além disso, seis alunos de outra turma e oito familiares de estudantes também apanharam o vírus. No total, uma professora infetou 26 pessoas.

2021/22 ainda longe da normalidade

Sistema de “bolha”, horários concentrados e desfasados, circuitos de circulação interna alternados, lotação limitada de espaços comuns (como refeitórios e bibliotecas), salas alocadas à mesma turma ou a proibição de banhos após as aulas de Educação Física. Assim vai arrancar o próximo ano letivo, mantendo os planos de contingência em vigor em 2020-2021. Está também previsto que as aulas possam voltar ao regime remoto ou misto.

“Não me admira nada disto. Estávamos a prever uma organização idêntica a este ano. É com base nisto que vamos organizar o nosso plano para o próximo ano”, explica ao DN Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). O responsável clarifica também não haver, até à data, qualquer indicação de mudança nos protocolos da Direção-Geral da Saúde no que se refere ao procedimento na existência de casos positivos nas escolas. “Os isolamentos mantêm-se como até agora: se houver um caso na turma os alunos vão para casa. Tenho sido muito crítico desta mudança de protocolo. Se tivermos um aluno positivo, no limite as escolas fecham. No passado não era assim. Neste momento é assim, mas não sei se vai ser revisto ou não. Isso nunca foi bem explicado pela DGS que nunca esclareceu essa mudança de protocolo. Os festejos políticos e desportivos aconteceram, com tudo ao molho e fé em Deus. Na escola, com um caso positivo, o estabelecimento pode fechar. Gostaria que a DGS tivesse dado uma explicação para esta atitude bipolar. Não há responsabilidade e isso custa-me a encaixar. É caso para dizer que quando a cabeça não tem juízo a escola é que paga”, lamenta Filinto Lima.

É mesmo difícil, perante as imagens de aparente regresso à normalidade com que nos vamos deparando em quase toda a parte – e mesmo os evidentes excessos que vimos nos jogos do Euro 2021 – compreender que os planos para a reabertura das aulas em Setembro consistam em, basicamente, manter intactas todas as restrições que comprometeram a qualidade da educação e complicaram a vida a alunos e professores. Professores vacinados, uso de máscara, adolescentes a partir dos 12 anos em perspectiva de virem a receber também a vacina. E, no entanto, tudo se mantém na mesma.

Estarão os responsáveis a ser cautelosos, dir-me-ão. Perante as incertezas que ainda pairam sobre a eficácia das vacinas e a elevada transmissibilidade das novas variantes, jogam pelo seguro. E não querem que as escolas venham a ser responsabilizadas por uma quinta ou sexta vaga da pandemia, muito menos novos confinamentos escolares. Poderia ser uma hipótese, mas não me convence. Porque manter intactas as normas que vigoraram em 2020/21 significa prescindir de corrigir os aspectos mais críticos da propagação da covid-19 no meio escolar, ao mesmo tempo que se mantêm medidas inúteis e ineficazes que podem até ser contraproducentes na falsa sensação de segurança que transmitem.

Por exemplo, vamos continuar a brincar aos “circuitos”, uma regra sem grande sentido: nos percursos ao ar livre é ridículo supor que as pessoas se contagiam por se cruzarem umas com as outras; no interior, apenas por desconhecimento se pode imaginar que a generalidade dos edifícios escolares têm acessos e zonas de circulação que permitam a circulação sempre no mesmo sentido. E também não se ganha grande coisa com o desfasamento das entradas e saídas quando os alunos continuam a vir todos, como sardinha em lata, em repletos autocarros escolares.

Em contrapartida, sabemos que o uso da máscara, o distanciamento físico e o arejamento dos espaços interiores são eficazes a impedir ou dificultar a difusão e a concentração do vírus. Mas nada é feito no sentido de reduzir o tamanho das turmas ou de dotar as escolas de sistemas de ventilação mais eficientes, que permitam a renovação do ar, nos meses de Inverno, sem ficar toda a gente a tiritar de frio.

No entanto, a bazuca europeia para a recuperação da economia traz muitos milhões para a educação. Gastar quase tudo em equipamentos, como está previsto, e descurar as condições de trabalho nas escolas, que se degradaram ainda mais com a pandemia é uma decisão de vistas curtas. É evidente a falta de uma estratégia para o futuro da Educação portuguesa, que não seja apenas cumprir o programa da OCDE de emagrecimento curricular e competências instrumentais. Internamente, continuará a prevalecer a agenda economicista que manda poupar na despesa pública. Para que nada continue a faltar aos bancos, nem às empresas e aos devedores do regime.