Os docentes catalães cumpriram na passada sexta-feira o seu terceiro dia de greve, protestando contra as políticas educativas do governo regional, a imposição de reformas no sector e a falta de diálogo com os professores e seus representantes. Contestam, não a redução de cinco dias nas férias escolares, como a desinformação governamental tem insinuado, mas os dez anos de cortes no sector da Educação e que se reflectem na falta de recursos nas escolas e na precarização do trabalho docente.
Entre as principais razões do descontentamento, que levou à paralisação de escolas e reuniu cerca de dez mil professores em protesto nas ruas de Barcelona, está a imposição de uma reforma educativa que prevê a fusão de disciplinas curriculares, projectos transdisciplinares e o ensino por competências. Algo não muito diferente do que, de forma menos conflitual, mas não menos insidiosa, se tem feito em Portugal ao abrigo da “autonomia e flexibilidade curricular” enunciada no decreto-lei n.º 55/2018. Só que enquanto por cá há uma apatia quase total entre o corpo docente das escolas perante as mexidas curriculares, a avaliação maiata ou as filosofias “ubuntu”, na Catalunha, e um pouco por toda a Espanha, tomam forma movimentos de protesto dos professores contra as políticas insensatas que põem em causa a qualidade da educação.
Entre as possíveis razões da maior mobilização docente, em Espanha, na defesa da qualidade da Educação e não apenas em torno das questões ditas corporativas, estará o facto de, em resposta à pandemia, várias comunidades autónomas terem reduzido o tamanho das turmas para melhorar a segurança sanitária no interior das salas de aula. Muitos professores experimentaram, pela primeira vez, a diferença entre dar aulas a uma turma de 20 face a uma turma de 30 alunos. Perceberam que tudo aquilo que se tenta exigir à “escola do século XXI” – atenção à diversidade, pedagogias diferenciadas, individualização do ensino, aprendizagens activas – só é possível com grupos reduzidos. E esta tornou-se uma resposta habitual dos nossos colegas espanhóis sempre que lhes vêm com exigências impossíveis de cumprir ou a converseta da redução do insucesso escolar: bajen las ratios!