Apesar de parco em palavras, há uma linha orientadora da sua política que o novo ministro já deixou clara: o reforço da autonomia das escolas e da responsabilidade dos directores. Tendo em conta que a pouca autonomia que as escolas tinham se perdeu com a municipalização da Educação – a maioria depende hoje da autarquia para coisas tão simples como substituir uma lâmpada ou um cartucho de toner – o que fica é o poder dos directores sobre os professores.
É notório que o actual modelo de gestão escolar confere excessivo poder aos directores. Que nalguns casos é usado criteriosamente, ao serviço da comunidade educativa, criando ambientes escolares que favorecem tanto as aprendizagens dos alunos como a realização profissional do pessoal docente e não docente. Mas também há escolas onde a gestão autocrática e prepotente torna o ambiente tóxico para quem lá trabalha. A arbitrariedade, a burocracia, os favoritismos, são queixas comuns que vamos ouvindo de muitos professores. Claro que, pelo meio, encontramos escolas onde o contexto educativo é complicado, mas professores e equipa de gestão unem esforços e solidarizam-se para levar a nau a bom porto. Assim como há organizações que teriam quase tudo para funcionar bem e se perdem em mil burocracias e em projectos de treta, em vez de se focarem nos verdadeiros interesses dos alunos e nas necessidades e motivação dos seus profissionais.
Quando um concurso interno com um número recorde de vagas disponíveis se encontra a decorrer, tudo isto deveria ser equacionado pelos professores. Esta é uma oportunidade de promover a mudança, não apenas de quem está descontente com a escola em que trabalha, mas da própria gestão escolar. Para um director autoritário, prepotente ou simplesmente incompetente, os concursos deveriam ser o momento certo para que, com a saída em massa dos professores dos quadros para outras escolas, o descontentamento geral ficasse bem patente. Num quadro geral de carência de professores, as dificuldades constantes de uma escola em recrutar e manter bons profissionais deveria tornar-se evidência clara da sua má gestão.
Quando o novo governo tenta reafirmar o princípio de escolha, pelos directores, dos “seus” professores, é importante que estes aproveitem os mecanismos da mobilidade para demonstrar que a boa gestão escolar não é a que se faz com uma corte de vassalos escolhidos a dedo, mas a que consegue motivar e enquadrar todos os trabalhadores, docentes e não docentes, em torno de objectivos comuns. Para além da legítima aspiração de aproximação à residência, os concursos permitem optar por trabalhar em escolas que ainda não tenham sucumbido por inteiro à burocracia eduquesa e à ditadura dos projectos. Quando estamos insatisfeitos com a escola que temos, saibamos aproveitar a oportunidade da mudança.