Greve às provas de aferição!

Imagem daqui.

Descrições sobre a incompetência do IAVE na organização das provas digitais e do enorme fiasco que está a ser a sua realização, já vamos tendo que cheguem, a começar na da professora Carmo Machado, divulgada numa revista de circulação nacional e que comentei aqui, e a acabar em inúmeros testemunhos que corroboram a enorme trapalhada em que a teimosia do ME nos quis envolver.

Não assumem erros nem responsabilidades, e se ouvem alguma crítica é para a devolverem aos professores que, no terreno, tentam resolver os inúmeros problemas que vão surgindo e dar alguma dignidade a umas provas que, da forma como estão a ser aplicadas, nada aferem de concreto a não ser a irresponsabilidade, a desorganização e a incompetência que grassam nas hostes do ME.

Quando assim é, e salvo melhor opinião, o que me parece é que nos deveríamos sentir todos desobrigados de lutar pelo sucesso destas provas em versão digital quando o ME, seu promotor, se está positivamente nas tintas para os problemas e dificuldades que estão a ocorrer.

Pela minha parte, não me restam dúvidas: se for chamado a aplicar alguma destas provas, aderirei à greve a este serviço que o STOP convocou, para já, até 26 de Maio. Que é o que me parece que todos os professores carentes de reconhecimento, dignidade e respeito por parte de quem os tutela deveriam fazer…

Uma aferição surreal

Para o ME e o IAVE, seu braço direito para os assuntos da avaliação externa, tudo corre às mil maravilhas no que às provas de aferição diz respeito. Se fossem feitas em papel, a trabalheira seria muito maior, garante o ministro. E os professores estão a fazer das provas digitais um bicho de sete cabeças que não se justifica, acrescenta o presidente do IAVE. Instalar uma aplicação nos computadores para poder realizar a prova? Isso é facílimo, coisa que qualquer criança faz em poucos minutos, garante Luís Pereira dos Santos.

Claro que a realidade assume outros matizes quando é vivida no interior das salas de aula, bem diferente do mundo cor-de-rosa convenientemente pintado nos gabinetes ministeriais. Estas provas, feitas nos moldes impostos, contra tudo e todos, pelos decisores autocratas do ministério, ficarão muito longe da avaliação rigorosa que ambicionam fazer das aprendizagens dos alunos. Em contrapartida, já estão a ser um excelente instrumento para aferir a irresponsabilidade e a incompetência de quem concebeu todo este processo.

Leia-se o testemunho da nossa colega Carmo Machado, a professora e colunista da Visão a quem coube o duvidoso privilégio de ser aplicadora da prova de TIC…

Vigiei hoje de manhã uma das poucas provas de aferição que, em minha opinião, pode e deve ser feita com recurso às novas tecnologias de Informação: a Prova TIC. Constituída por catorze tarefas, desde a alteração da palavra passe, à criação de um sítio na internet, de uma apresentação em formato digital ou de um infográfico, passando pela receção e envio de correio institucional com ficheiros em anexo, guardar ficheiros na nuvem, fazer trabalhos de grupo até à submissão da prova e término da sessão, a prova que abordou temas como a importância da água e a desinformação que cresce pela mundo digital, com especial destaque para as fake news, começou logo mal.  Quando nos foi entregue a palavra passe que daria acesso à prova, o que vinha impresso era: PrimaVERA. Porém, com esta palavra de acesso, ninguém conseguiu aceder o que, para começar, já era um pequeno problema… Deste modo, munidos de toda a calma e experiência que caracterizam um professor, conseguimos descobrir –  por tentativa e erro – que a verdadeira palavra passe era “primaVERA” e não “PrimaVERA” (atente o leitor no pequeno detalhe).

Ultrapassado o primeiro obstáculo, tivemos um sistema lento, computadores que bloquearam a cada dois minutos, um programa que congelou em determinadas tarefas, alunos que tiveram de entrar e sair mais de dez vezes, outros que saltaram várias tarefas para chegarem ao fim e conseguirem submeter a prova. Entre as 8h e as 9h30, só por uma vez conseguimos ter todos os alunos a realizar a prova em simultâneo, ou seja, sem quaisquer problemas técnicos. A dada altura, olhei para um miúdo que, com ar desolado, me disse: Stora, já entrei e saí tantas vezes que estou quase a desistir de completar a prova. Ou outro que, em tom de desabado, atirou: Que experiência horrível, stora! É claro que há sempre os que não querem desistir: Agora, vou tentar uma última vez….

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Agrupamentos do JNE Norte põem lugares à disposição

Quando não nos revemos no trabalho que está a ser feito ou nos mandam fazer e não estamos condicionados na nossa liberdade de escolha, a decisão deveria ser óbvia: arranjem lá quem vos ature, que comigo não contam!

Se todos os professores o fizessem sempre que, no exercício de cargos e funções de aceitação voluntária, não se sentissem devidamente respeitados e valorizados pela tutela, outro galo cantaria.

Existe sempre um risco, claro, que é o de ver alastrar a mediocridade em lugares que exigem seriedade e competência. Mas também os incompetentes, e quem os nomeia, precisam de começar a ser responsabilizados…

A informação, que tomo por fidedigna, provém do blogue do Arlindo.

Recebi informações que todos os responsáveis do Júri Nacional de Exames do Norte  puseram o seu lugar à disposição por desconsideração do seu trabalho pela tutela e por outras questões de índole profissional.

Acresce ainda que ainda não foram nomeados os docentes para os diversos Agrupamentos de Exames e que ninguém está disponível para fazer parte do trabalho nos Agrupamentos com as condições que o ME oferece.

Deixo a minha solidariedade a todos os que tomaram esta posição.

Um ministro sem palavra

O ministro da Educação, João Costa, disse esta terça-feira que hoje vai ser publicada a portaria das vagas para “a vinculação dinâmica dos cerca de 10.500 professores que reúnem os requisitos para vincular já este ano para a entrada do próximo ano letivo”. O governante assegurou que na quarta-feira haverá condições para abrir o concurso de professores.

Estes são os compromissos assumidos ontem, dia 9 de Maio, pelo ministro João Costa. Hoje, dia 10 de Maio, em hora de final de expediente, ainda não foi publicada nem a anunciada portaria das vagas, que era suposto sair ontem, nem o aviso de abertura do concurso.

Diário da República, print às 19h de 19/05/2023

Claro que não vem mal nenhum ao mundo se o concurso abrir só na próxima semana, em vez de hoje ou amanhã. Dispensavam-se era estes anúncios solenes antes de terem a casa arrumada.

Sabemos que promessas não cumpridas são especialidade deste e da maioria dos governos que tivemos na história recente da nossa democracia. Que criar falsas expectativas é um truque de baixa política que por vezes rende dividendos a governantes que não sabem ou não querem fazer melhor.

Mas neste caso nem se consegue perceber o que ganha o ministro em prometer o que não estaria em condições de cumprir, evidenciando tanto a incompetência própria como a dos serviços que dirige.

Todos contra as provas digitais

Diretores, pais e professores não concordam com a realização das Provas de Aferição em formato digital para os alunos do 2.º ano, pois “ainda estão a apurar a motricidade fina e em processo de aquisição das competências de leitura e escrita”.

Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), aplicar as provas em suporte digital “no 2.º ano, parece ser uma idade prematura”. “São muito pequeninos e, nestas idades, a caligrafia é importante. Espero que não se perca o hábito da escrita manuscrita. O computador e as tecnologias são essenciais atualmente, mas as crianças do 2.º ano ainda nem têm telemóvel e estão a apurar a caligrafia”, explica.

Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), partilha a mesma opinião, sustentando tratar-se de crianças para as quais “o importante é escrever e ler com fluidez” Para os alunos do 2.º ano, haveria opções diferentes”, defende.

Sílvia Alves, mãe de uma aluna de 1.º ano manifesta a mesma preocupação e afirma mesmo tratar-se de “um perfeito absurdo”. “Não faz sentido algum e é absurdo fazer provas em formato digital no 2.º ano. Passamos o tempo todo a dizer aos nossos filhos que não podem passar tanto tempo em frente aos ecrãs e depois é a escola a remar em sentido oposto. Sei que já utilizam as tecnologias e não sou contra, desde que o façam com um objetivo pedagógico, e não com esta intensidade. Já no 1.º ano, a minha filha tem um dia por semana em que tem de levar o computador para a escola em detrimento dos livros. Acho um disparate e um perfeito absurdo“, afirma.

Provas de aferição em formato digital para alunos de sete e oito anos: é um disparate, qualquer que seja a perspectiva em que analisemos a decisão. Mas a teimosia do ministro e da equipa de sabichões que o rodeia não permite ligar ao que dizem os “professorzecos” nem admite dúvidas ou hesitações: decidiram desta forma, e assim será feito, dê lá por onde der.

A salvar o voluntarismo ministerial, está o facto de estas provas não contarem para nada. Não se repercutem na avaliação dos alunos, a não comparência destes não tem qualquer efeito e mesmo os relatórios produzidos acabam por não merecer, na grande maioria dos casos, mais do que uma rápida leitura na diagonal.

Assim sendo, não custa muito entrar-se, uma vez mais, na espiral de fingimentos que há muito caracteriza o nosso sistema educativo. Já pouca gente acredita na fantochada em que se transforma tudo aquilo em que este ministro mexe. Mas lá se irão “preparar” os alunos para uma prova claramente desajustada. Apesar dos pais preocupados que garantem não deixar os filhos fazer as provas, a grande maioria comparecerá, respondendo às perguntas, acertando nas fáceis e deixando de lado as mais difíceis ou morosas. No final, virão os habituais relatórios a garantir que os alunos continuam a evidenciar falhas, mas estão a fazer alguns progressos. Que continuam a ser melhores a memorizar do que a aplicar ou a criar. E que o caminho da escola digital é para prosseguir, eventualmente com “mais formação” para os novos desafios da digitalização, destinados aos culpados do costume: os professores.

Já é mais ou menos assim desde que as provas de aferição foram ressuscitadas, e este ano, apesar dos computadores complicarem o esquema, o resultado não deverá ser muito diferente. Vai uma aposta?…

Insubordinações

Depois de ter falhado uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da Ilha de Porto Santo, na Madeira, por recusa da tripulação que alegou problemas no navio, agora o NRP Mondego revelou ter mesmo problemas. Esta madrugada o navio ficou sem energia, em alto mar, a caminho das Ilhas Selvagens, depois de um atraso de quase seis horas na saída do Porto do Funchal. O barco, após o alerta, teve mesmo de ser rebocado para o Porto do Caniçal e esta terça-feira vai ser substituído pelo NRP Setúbal.

Desta vez, não houve marinheiros insubordinados a impedir o navio de se fazer ao mar. Foi o próprio Mondego que se insubordinou, recusando-se a seguir viagem. E agora? Será que o garboso comandante da Marinha vai processar o navio insurrecto? Duvido. Nestas coisas, prevalece a velha máxima: o material tem sempre razão! Se o navio está velho e cansado e ainda por cima não recebe a manutenção necessária o mais natural é que falhe as missões que lhe são confiadas. E isso não é culpa da maquinaria ou de quem lida com ela: é mesmo das chefias militares que em vez de fazerem o que devem – garantir a plena operacionalidade dos meios à sua responsabilidade – preferem dedicar-se a encontrar culpados e a crucificá-los na praça pública por ousarem dizer que o rei vai nu.

E antes que venha de lá o habitual discurso patrioteiro: um militar pode ter de arriscar a vida em defesa da pátria, não para safar comandantes incompetentes. Volto a dizê-lo, os militares que denunciaram publicamente o estado das embarcações que asseguram a vigilância costeira mais depressa deveriam ser condecorados do que castigados. Estavam e estão cheios de razão, e o Mondego que hoje regressou a reboque, no final de mais uma missão abortada, só o veio confirmar.

A proposta do ME…

resume-se a isto.

Um papelito distribuído durante a reunião!

Evidências…

Por norma não gosto de enveredar por lutas político-partidárias, mas a verdade é que já não dá mais para disfarçar a mistura de incompetência e displicência governativas que estão a levar este país à ruína. Isto quando vivemos a conjuntura económica menos limitativa dos últimos vinte anos, os principais problemas do país estão diagnosticados e existe um amplo consenso social e político em relação às reformas prioritárias e realmente necessárias.

Imagem de origem indeterminada, em circulação nas redes sociais

A esmagadora maioria dos portugueses quer um Estado social forte, capaz de providenciar escola pública de qualidade a todas as crianças e jovens, um serviço nacional de saúde de acesso universal e tendencialmente gratuito, apoios sociais na doença, maternidade, desemprego, invalidez e velhice que permitam viver com dignidade todas as etapas da vida. E estão dispostos a continuar a pagar impostos comparativamente elevados para reforçar o Estado social, mas não para que se continue a enterrar dinheiro em empresas falidas ou nas negociatas da corrupção, do clientelismo e das parcerias ruinosas do Estado com os privados.

Os autointitulados socialistas têm, imerecidamente, a maioria absoluta que ambicionavam. Mas preferem continuar a adiar as políticas que sabem ser necessárias e que até estão inscritas nos programas do governo e do partido. E a prova é que as anunciam todos os dias, enquanto fazem o contrário daquilo que apregoam.

“Desmaterialização” por turnos

Em resultado do desenvolvimento do processo de implementação da desmaterialização das provas de aferição, com vista à consolidação dos seus procedimentos, designadamente através da auscultação junto das escolas e dos diferentes responsáveis, procede-se ao ajustamento das datas de realização daquelas provas, decorrente da necessidade de se preverem dois turnos sequenciais de realização, para cada uma das disciplinas e anos com provas de aferição.

Com o presente despacho visa-se ajustar o calendário das referidas provas, de modo a contribuir para que o processo de realização das mesmas decorra de forma equilibrada, com maior capacidade de acomodação à mudança que se opera no âmbito do Projeto de Desmaterialização das Provas de Avaliação Externa, garantindo a todos e muito particularmente aos alunos as melhores condições para a realização das provas de aferição, enquanto instrumentos fundamentais de apoio ao processo de ensino e de aprendizagem.

Quiseram mostrar organização e capacidade de planeamento, publicando um calendário escolar para dois anos; afinal, nem para o primeiro ano serviu: já está a levar remendos, resultado da ideia peregrina de “desmaterializar” a realização das provas de aferição, usando recursos que simplesmente não existem nas escolas em quantidade suficiente e com a capacidade necessária para ter todos os alunos do mesmo ano de escolaridade a resolver a prova. Algo completamente previsível desde o início, e não foi por falta de avisos de professores e directores que o erro foi cometido: é mesmo a teimosia arrogante dos decisores ministeriais, convencidos de que eles é que sabem, desprezando e ignorando quem está nas escolas e conhece a realidade com que tem de lidar diariamente.

A solução de recurso passará a ser a realização das provas em dois turnos, nem que para isso se tenha de sacrificar uma manhã inteira de aulas, em que alunos e professores andarão às voltas com as provas feitas online no computador. Aqui já não interessam nada, está visto, as “aprendizagens perdidas”, que só se perdem quando os professores fazem greve. Importante é a pseudo-modernidade do digital, numas provas cada vez mais a fazer de conta, à medida de um governo que aposta no fogo de vista em vez de dar resposta às reais necessidades de quem estuda e trabalha nas escolas.

O novo calendário vem também condicionar uma acção de luta entretanto marcada: o dia já anunciado de greve nacional – 6 de Junho, o 6-6-23 que é uma clara alusão aos anos, meses e dias perdidos no congelamento das carreira – será o da realização da prova de HGP. O que significa que, sendo uma prova nacional, a sua realização estará abrangida pelos malfadados serviços mínimos…

Alunos estrangeiros: a farsa da inclusão

Vêm, literalmente, dos quatro cantos do mundo, muitos sem conhecer uma única palavra em português. Segundo o Observatório das Migrações (OM), há alunos de 127 nacionalidades diferentes a estudar no nosso país, a maioria no Ensino Básico (82,3%). Entre o início desta década (2010/2011) e o ano letivo de 2020/2021, o número de estudantes na disciplina de Português Língua Não Materna (PLNM) mais do que quintuplicou (passando de 1014 para 5492).

Em 2020, Portugal atingiu o valor inédito de 662 095 estrangeiros residentes no país (6,4% do total de residentes), que consolidou, em 2021, com perto de setecentos mil estrangeiros residentes (698 887), 6,8% do total da população. Mas, segundo relatam dezenas de professores ao DN, faltam condições nas escolas para receber crianças e jovens estrangeiros. Diretores e docentes, principalmente professores de PLNM, afirmam haver falta de recursos.

“É essencial dotar as escolas de mais professores de PLNM e, ao mesmo tempo, disponibilizar mais e melhor formação. Percebendo-se que o nosso país é bastante procurado por famílias estrangeiras, o Ministério da Educação deverá apostar nesta área, apoiando as suas escolas que, uma vez mais, efetuam um trabalho de excelência”, alerta Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Luís Sottomaior Braga, professor de História e especializado em gestão e administração escolar, explica o fator “sorte” que os alunos enfrentam. “Exige-se o mínimo de 10 alunos estrangeiros para formar turma e, assim, substituir a disciplina de Português regular pela de PLNM. Os alunos que têm a infelicidade de ir parar a uma escola onde não há outros 9, ficam na turma regular e o que eles deviam ter era ensino de português em exclusivo. Trata-se de um sistema misto. O Português aprende-se mal em imersão porque está cheio de truques e expressões idiomáticas. Mas mudar isto tem um custo”, lamenta. Para Luís Sottomaior Braga, o acolhimento dos alunos estrangeiros “não está a correr bem”. “Vejo o sofrimento de alguns alunos de PLNM e custa-me. Custa ainda mais sabendo que o problema é a falta de recursos. Há milhares de miúdos a sofrer uma experiência dura. Estão na escola sem perceber uma palavra de português. Queremos ser um país de referência para acolher cidadãos estrangeiros, mas não estamos a trabalhar nesse sentido. Isto é uma questão de humanidade”, sublinha.

Para o especialista, os alunos deveriam ter aprendizagem intensiva de Português antes de frequentarem todas as disciplinas do currículo regular. “Há gente que se diz preocupada com a igualdade e onde está a igualdade para os alunos que não têm o mínimo de 10 na sua escola para formar turma de PLNM?”, questiona o docente.

Como integrar no nosso sistema de ensino alunos que não falam Português? O problema está estudado, não é de agora que nos tornámos um país também de imigrantes, a contrabalançar a nação de emigrantes que sempre fomos, e não faltam por essa Europa exemplos de boas práticas em matéria de integração de alunos estrangeiros. É óbvio que nenhum aluno deveria ser “atirado de cabeça” para um plano curricular repleto de aulas dadas inteiramente em Português quando não entende uma palavra nessa língua. Deveria primeiro adquirir o conhecimento mínimo da língua que lhe permita pelo menos compreender alguma coisa do que vai ouvindo e lendo, o que não se consegue com um ou dois tempos semanais de PLNM, que é o que a maioria das escolas têm para lhes oferecer.

A um ministério obcecado em inventar novas formas de deslocar compulsivamente docentes de carreira, colocando-os a dar aulas em mais do que um agrupamento para que não fiquem com insuficiência de tempos lectivos, contraponho: deveriam existir em todas as escolas e agrupamentos docentes de Português com folgas nos seus horários que permitissem o acompanhamento imediato e a integração rápida de alunos estrangeiros que chegassem ao longo do ano lectivo. Há dinheiro para milhares de bibliotecários em escolas onde se lêem cada vez menos livros, para dezenas ou centenas de “embaixadores” disto e daquilo, verdadeiros comissários políticos destacados para pastorear as escolas em vez de trabalharem com alunos, e poupa-se, em matéria de recursos humanos, onde nunca se deveria poupar?

Na verdade, queremos escolas inclusivas onde se inventam “medidas” para alunos que simplesmente não querem estudar ou se acham no direito de desrespeitar professores e prejudicar colegas. Mas não somos capazes de pôr em prática a verdadeira inclusão, a que passa por construir respostas educativas verdadeiramente diferenciadas para quem delas realmente necessita. Queremos autonomia e flexibilidade, mas apenas daquela que se traduz em fogo de vista e mais burocracia para as escolas e os professores. Alocar recursos em função das necessidades, isso já é mais complicado. Mas não devia. Há alguma razão pedagógica que justifique a imposição de um mínimo de dez alunos para a abertura de uma turma de Português para alunos estrangeiros? Não se percebe será sempre uma falsa poupança a aposta no insucesso irremediável e premeditado destes alunos?