O coordenador da UTAO, Rui Baleiras, já tinha avisado que seria impossível concluir a avaliação a tempo das votações da proposta de Orçamento de Estado para 2024, devido à complexidade e abrangência que requer, agravada pelos poucos meios de que dispõe. Agora, ao Público, o responsável disse estar a aguardar uma reunião com o presidente da Comissão de Orçamento e Finanças para “analisar a viabilidade do estudo”.
Já vi desculpas mais convincentes do que a “falta de meios” para evitar uma tarefa que obviamente não entusiasma. A administração central dispõe de todos dados necessários para fazer as contas – tempo de serviço, idade, posição remuneratória de cada docente – uma vez que os professores em causa são todos funcionários públicos. Quanto aos meios, uma folha de excel daria bem conta do recado: em 2019, um grupo de professores usou dados disponíveis publicamente sobre o número de docentes posicionados em cada escalão e a mesma ferramenta informática para chegar a números, que na altura não foram desmentidos, da ordem dos 300 milhões de euros de aumento de despesa. Isto se a recuperação fosse feita integralmente e de forma imediata. Faseadamente, seria muito menos, com custos diferidos no tempo. Quase cinco anos depois, o custo será muito inferior, pois serão muito menos os professores abrangidos, tendo em conta os que já se aposentaram e os que alcançaram, entretanto, o topo da carreira.
A verdade, por muito que nos custe, é que a recuperação do tempo de serviço continua a ser uma causa impopular tanto nos partidos do centrão como entre os paladinos neoliberais do rigor orçamental. Não faz sentido, na sua forma de ver as coisas, valorizar materialmente uma carreira profissional que se habituaram a desvalorizar. Mas há eleições no horizonte, e mais de uma centena de milhar de votos não se podem desperdiçar de ânimo leve, muito menos perder a favor do adversário que consiga conquistar a confiança dos professores. Está assim aberta a época das promessas fáceis e das doces ilusões…