A Sonae não desiste de tentar influenciar, com diversas iniciativas, os rumos da Educação portuguesa, uma área onde vem demonstrando um interesse crescente, e não apenas com fins altruístas. Apesar de iniciativas deste tipo projectarem uma imagem de responsabilidade social que qualquer grupo empresarial da sua dimensão gosta de cultivar, a verdade é que a Educação sempre foi, desde os tempos de Belmiro de Azevedo, uma área de negócios apetecível quando se trata de diversificar investimentos.
Diversidade q.b. será também a chave deste evento agora anunciado, com a curiosidade de confrontar novos projectos educativos de base tecnológica com o modelo construtivista de mestre Pacheco, agora convertido em grande educador da classe burguesa, apadrinhando uma nova versão de escola da Ponte, desta feita só para riquinhos. Mas o que me despertou maior perplexidade, ainda assim, foi o projecto de um indiano que quer revolucionar a Educação com… um computador e internet!…
Computador e internet? Ora bolas, esta gente não aprendeu nada com a pandemia, o decorrente fecho das escolas e o confinamento forçado de milhões de alunos?
Nessa altura ainda pensei, com alguma ingenuidade, que alguma coisa de revolucionário poderia surgir de meses de confinamento: afinal de contas, tivemos milhões de alunos em casa, boa parte deles, pelo menos nos países desenvolvidos, com bons computadores, internet de banda larga, as necessidades básicas garantidas e todo o tempo do mundo para pesquisar a informação, o conhecimento e tudo o que quisessem em toda a internet. Sendo, como dizem, o lugar onde tudo se encontra e se partilha, uma imensa biblioteca que cresce a cada dia que passa, um ambiente cheio de aplicações e recursos, onde as potencialidades são virtualmente ilimitadas, seria de esperar que assistíssemos a uma explosão de conhecimento, criatividade e partilha como nunca se terá visto. Afinal de contas, os alunos estavam praticamente libertos dos professores chatos, das aulas intermináveis, dos toques de campainha. Poderiam finalmente avançar ao seu ritmo e ao sabor dos seus interesses, sem estarem condicionados pela rigidez curricular nem pela dinâmica castradora da sala de aula.
Como sabemos, nada disso aconteceu. Claro que houve alunos aplicados que continuaram a trabalhar e a aprender, aplicando-se nas tarefas propostas pelos professores e fazendo outras por sua iniciativa. Mas mesmo estes foram os primeiros a admitir que teriam evoluído mais com aulas presenciais. Quanto aos outros, foi, como se sabe, uma desgraça. Sucederam-se os relatórios sobre as “aprendizagens perdidas” e os efeitos psicológicos do isolamento físico dos seus pares. Mesmo sem estudos aprofundados que estão em larga medida por realizar, é hoje reconhecido por qualquer professor atento aos seus alunos que houve claras perdas, a nível cognitivo, vocabular, social e psicomotor ainda não inteiramente recuperadas. Em jeito de moral da história, valorizou-se a escola presencial como raramente se tinha feito anteriormente, e assumiu-se, como palavra de ordem dos tempos pós-pandemia, que ensino à distância nunca mais!
No fim disto tudo, e quando ainda nem dois anos passaram sobre o fim oficial da pandemia, como explicar o reaparecimento de alienados a defender que o futuro da Educação é… computadores e internet?…