Incompreensível, a posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia. Quando a realidade nos entra literalmente pelos olhos dentro, como é possível ter medo de palavras como invasão e guerra, perante o avanço de tropas russas em território ucraniano e as dezenas de milhares de mortos do confronto entre ambas as partes?
Há uma velha máxima, atribuída a Napoleão e ainda hoje válida tanto na guerra como na política, que aconselha a não interromper o inimigo quando este está a cometer um erro. Ora o PCP não é meu inimigo, e é isso que me leva a não optar pelo silêncio. Nunca militei no PCP ou em qualquer outro partido, mas sempre considerei este partido essencial à nossa democracia. Custa-me vê-lo a definhar até ao completo desaparecimento, não porque as causas sociais e políticas que defende estejam resolvidas ou ultrapassadas, mas pela forma desastrosa, irracional e insensível como está a lidar com a guerra na Ucrânia. O declínio do PCP é também o declínio dos ideais e valores de esquerda, num mundo onde velhos e novos fascismos e fundamentalismos ganham força a um ritmo preocupante, uma tendência que, a manter-se, só pode dar maus resultados.
Como é possível que um partido que sempre defendeu os povos oprimidos do mundo não consiga perceber que os ucranianos estão também a ser vítimas inocentes de um conflito? Como se pode ignorar que a Rússia de Putin é uma ditadura oligárquica, conservadora, militarista e capitalista, já nada tendo a ver com os ideais socialistas e comunistas que inspiraram o PCP ao longo da sua história? Que os seus aliados objectivos, no Ocidente, são hoje os partidos e movimentos de direita e extrema-direita?
Claro que o PCP está cheio de razão em muito do que refere a propósito do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Lembrando que o conflito não começou agora, e que os dirigentes ucranianos têm responsabilidades na repressão da minoria russa ou na aproximação imprudente à NATO. Denunciando a hipocrisia ocidental, sobretudo dos EUA, e os interesses económicos e geoestratégicos que se jogam em torno de uma guerra na qual russos e ucranianos continuarão a ser carne para canhão. Apelando a um entendimento político que possa conduzir a uma paz estável e duradora na região.
Tudo isto é verdade, e o PCP pode e deve reafirmá-lo sempre. Mas deveria começar pelo óbvio: o reconhecimento e a condenação clara e inequívoca da invasão russa da Ucrânia. Independentemente de tudo o mais que se possa dizer, há claramente, neste conflito, um país que agride e outro a ser agredido. Quem é incapaz de o reconhecer está, objectivamente, a fazer o jogo do agressor.
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