O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, afirmou, esta segunda-feira, que quer incentivar os professores aposentados a darem aulas para responder às necessidades atuais da escola pública.
“Enquanto nós não conseguirmos ter os professores que nós precisamos, nós vamos incentivar que quem já se aposentou possa ainda dar aulas para tentarmos dar resposta às necessidades que a nossa escola tem hoje em matéria de professores”, anunciou o secretário-geral do PS.
Contratar professores já aposentados que queiram voltar a leccionar, para combater a crescente falta de professores: a proposta de Pedro Nuno Santos já tinha sido apresentada pela IL, e convenhamos que não é grande ideia. Os professores que se aposentaram nos últimos anos saíram, quase todos, saturados e cansados de uma profissão que perdeu, ao longo das duas últimas décadas, o estatuto, a dignidade e a autonomia que já teve.
Sobretudo a partir de José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues, sucessivos governos aumentaram os horários de trabalho e o tempo de permanência na escola, afogaram os professores em burocracia, grande parte dela redundante e estupidificante, cercearam a liberdade científica e pedagógica dos professores em nome de uma mirífica “autonomia da escola” que pouco mais é do que a submissão aos projectos do senhor director, dos pedagogos ministeriais e, mais recentemente, das autarquias locais. Impuseram o facilitismo e o hedonismo como ideais da nova pedagogia, castigando com ainda mais burocracia os professores que tentaram manter padrões de rigor e exigência na leccionação e na avaliação dos alunos. Alongaram a carreira, criando barreiras e entraves à progressão e impuseram à classe uma avaliação do desempenho punitiva e vexatória. Como se tudo isto não bastasse, quiseram fazer dos professores exemplo de uma classe que saía cara aos contribuintes, ganhando muito e trabalhando pouco, e roubaram-lhe mais de nove anos de serviço na progressão das carreiras, dos quais nem um terço recuperaram. Os professores aposentados que agora tentam seduzir passaram por isto tudo, saindo desencantados e desgastados de uma escola com que se deixaram de identificar. Espera-se agora que voltem, sacrificando eventualmente os últimos anos de vida activa e saudável, ao serviço de uma escola que tanto os desprezou?
Não sei ao certo que impacto teve idêntica medida tomada em relação aos médicos. Duvido que esteja a ter a eficácia que alguns apregoam, tendo em conta as carências cada vez mais graves que encontramos no SNS. Mas não tenho dúvidas de que, em relação à Educação, o caminho tem de ser outro. Haverá, números da Fenprof, cerca de 20 mil docentes profissionalizados em idade activa que abandonaram a profissão. E são estes profissionais, não os que já gozam a mais que merecida reforma nem os que carecem de habilitação profissional para a docência, que devem ser a prioridade dos novos recrutamentos. Como é que se atraem esses ex-professores? Naturalmente, tornando mais aliciantes a carreira e as condições de recrutamento e de trabalho nas escolas. Com menos controleirismo, menos eduquês e mais autonomia, responsabilidade e confiança no trabalho dos professores. Com uma carreira valorizada e dignificada, em diálogo com os representantes da classe, e uma profissão mais focada no trabalho com os alunos e na sala de aula, em vez da burocracia insana e da ditadura dos projectos. Simples e eficaz, como vêem, conselhos dados de borla e com toda a boa vontade do mundo. Nem precisam de contratar consultores tipo-OCDE para saberem o que há para fazer!
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