Há uma característica especialmente desprezível entre os bernardos da velha direita que agora disfarçam o cheiro a mofo e os preconceitos de classe com as novas roupagens do neoliberalismo. Mas a falta de empatia e o egocentrismo, esses continuam lá, como marca indelével de uma casta que se julga, há demasiado tempo, dona de Portugal.
Vem isto a propósito de um ataque vil mas recorrente que é feito pelos cães de fila direitolas às deputadas do Bloco de Esquerda, as irmãs Mariana e Joana Mortágua, filhas de Camilo Mortágua, um lutador antifascista que esteve envolvido em acções de resistência física à ditadura. As mais conhecidas são o assalto ao paquete Santa Maria e a uma agência do Banco de Portugal.
De acordo com o discurso direitola que se espraia nas redes sociais, as duas deputadas integrariam assim a linhagem de um “ladrão de bancos” e “assassino”, atributos que lhes estariam na massa do sangue que pretensamente as diminuem como pessoas e cidadãs.

Que isto possa ser dito e pensado por quem se auto-intitula liberal só demonstra duas coisas: o baixo nível desta gentalha e quando o conceito de liberdade e de responsabilidade individual é distorcido e manipulado nos nossos dias. Pois no âmago do pensamento liberal esteve sempre a ideia de que cada ser humano se faz a si mesmo, pelas suas escolhas e realizações ao longo da vida, e não pelos constrangimentos impostos pela família ou o grupo social em que se integra.
No entanto, Deus não dorme, como se dizia antigamente, ou o karma é tramado, como está na moda afirmar nos dias de hoje, e eis que um bernardo provocador é apanhado na teia dos laços familiares comprometedores: o pai foi condenado num processo de corrupção.

Neste ponto, até a mente mais retorcida consegue subitamente ver as coisas como elas são: é evidente que o Blanco-filho não é responsável pelos eventuais actos ilícitos do Blanco-pai. Ainda que deles até possa ter, indirectamente, beneficiado.

A grande diferença, e que aqui serve de conclusão à estória, é apenas esta: os bernardos têm vergonha de serem associados a actos condenáveis dos progenitores, mas também não são capazes de se demarcar deles. Repare-se como, na hora do aperto, o pai do bernardo é reduzido à mera condição de “familiar”. Já as manas Mortágua, essas terão certamente orgulho no pai que resistiu à ditadura e arriscou a vida na luta pela liberdade.
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