A “bandalheira” nos contratos da DGEstE

Silêncio absoluto (e comprometedor) da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE). Mas a realidade é feita de factos: entre 2017 e 2021, esta entidade pública celebrou 228 contratos, dos quais 96 por ajuste directo e outros 23 por consulta prévia, mas só os colocou no Portal Base ao longo do ano de 2023. Em 43 contratos, os atrasos são superiores a seis anos, quando a lei determina a divulgação ao fim de, no máximo, 20 dias. Significa assim que os pagamentos não poderiam ser processados, pelo menos nos ajustes directos e consultas prévias. Alguns documentos das obras podem até já ter sido destruídos, havendo até casos de contrato que nem sequer foram escritos. O PÁGINA UM escalpelizou todos os contratos e identificou os beneficiários deste esquema que mostra uma situação de desrespeito generalizado pelas normas da contratação pública por parte da DGEstE.

Não é seguramente pela falta de leis, em quantidade e qualidade, que o nosso país não é bem governado. Do ponto de vista da transparência e da boa gestão dos dinheiros públicos foram até dados passos muito importantes nas últimas décadas, como é o caso da obrigatoriedade de publicação dos contratos das entidades públicas com privados no Portal Base. Na verdade, o problema não está nas leis, mas sim no seu cumprimento. Quem, investido em funções públicas, deveria ser o primeiro a cumprir e a fazer cumprir a lei, nesta e noutras matérias, não o faz. E nada acontece.

A investigação do Página Um é bastante meticulosa: a notícia apresenta numerosos exemplos de contratos supostamente urgentes, a maioria feitos por ajuste directo – ou seja, sem concurso público – que não foram atempadamente divulgados, dando também a conhecer as empresas que mais beneficiaram com as adjudicações feitas pelo director-geral da DGEstE, João Gonçalves. Que, como é habitual nestes casos, não quis comentar.

Sem respostas oficiais sobram as dúvidas e, da parte do jornalista, alguma ironia: como podemos superar os tradicionais problemas com a disciplina de Matemática, se a própria entidade gestora das escolas não é de boas contas – e acha que um prazo de vinte dias se pode estender por meia dúzia de anos?…

Contratos celebrados (montante e números) pela DGEstE entre 2017 e 2021 mas que foram divulgados apenas em 2023, por tipo de procedimento. Fonte: IMPIC / Portal Base. Análise: PÁGINA UM.

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