Família tradicional

Publico, com a devida vénia, o magnífico cartoon de Vasco Gargalo a propósito da mais recente tentativa de ressuscitar a imagem daquilo que passa por ser a “família tradicional”. Uma ideia retrógrada, preconceituosa e sem correspondência com a realidade. Na verdade, e como já se explicou por aqui, este modelo de família supostamente natural e intemporal sempre coexistiu com outras formas de organização social e familiar. Nunca foi o único, nem sequer, na maior parte da história da humanidade, o modelo dominante.

Há uma notória incapacidade da direita portuguesa para protagonizar um projecto de mudança e progresso económico e social do país. Fazer diferente, para melhor, do socialismo desinspirado que tivemos nos últimos anos. Quando, por um conjunto de circunstâncias favoráveis, e sem ter feito grande coisa para isso, o poder lhe cai ao colo, a direita mostra-se incapaz de olhar para o futuro, insistindo em receitas falhadas e em encontrar inspiração revisitando um passado caduco a que ninguém, verdadeiramente – nem eles próprios! – desejaria voltar. Quando, em matérias como a interrupção voluntária da gravidez, o morto-vivo CDS e a ala mais conservadora do PSD se deixam ultrapassar até pelo Chega, está quase tudo dito sobre a credibilidade da nova AD, que nunca trouxe para a campanha eleitoral a agenda conservadora nos costumes que agora, com pezinhos de lã, tenta impor ao país…

3 thoughts on “Família tradicional

  1. Tem toda a razão, mas importa dizer que esta questão não é um exclusivo da direita. Os comunistas portugueses, na expressão do PCP, têm quase exactamente a mesma posição sobre o assunto em causa. Basta ver o que acontece nos países comunistas, e alguns ex-comunistas (Rússia, Bielorrússia, etc.) que são seguidos e protegidos pelo PCP.

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    • Embora a esquerda tenda a ser mais liberal e emancipadora nos costumes, isso não significa que a direita não possa dar algumas cartas nesta matéria nem que nalguns sectores da esquerda não possa existir “conservadorismo de costumes”.

      No caso do PCP, sendo um partido já com um século de História, metade dela na clandestinidade, não é difícil encontrar exemplos, olhando para o passado, de atitudes sexistas, misóginas ou homofóbicas. Nos tempos actuais, e do que me é dado observar exteriormente, não noto esse conservadorismo, pelo menos de forma generalizada ou evidente.

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