Passou quase despercebida a aprovação, na semana passada, de três resoluções recomendando ao Governo a criação do grupo de recrutamento de intervenção precoce. A comunicação social ignorou o assunto e por isso me socorri do comunicado da Fenprof para fazer aqui o ponto da situação.
No entanto, o tema é importante e o sentido de voto da bancada socialista é revelador, sobretudo se tivermos em conta que as resoluções parlamentares funcionam como meras recomendações ao Governo e não são vinculativas: significa que esta não é, claramente, uma prioridade da política educativa.
E, contudo, deveria sê-lo. Um Governo que enche a boca a propagandear o direito ao sucesso e a escola inclusiva deveria ter a noção de que, se há área onde é necessário investir para garantir uma escola onde todos tenham lugar e possam ser bem sucedidos ela é, justamente, a intervenção precoce.
É detectando os problemas graves que podem comprometer a escolarização das crianças logo nos primeiros anos de vida, muito antes de elas chegarem sequer às escolas, que se conseguem definir estratégias de actuação e mobilizar os apoios sociais e educativos que se mostrem necessários.
Este é um trabalho difícil e muitas vezes ingrato, que requer contacto muito próximo com as famílias e diversas instituições e exige um perfil muito específico aos docentes a ele dedicados. O reconhecimento desta realidade justificaria plenamente, por si só, a criação de um grupo de recrutamento próprio.
Mas não há sinais de que, da parte do ME, se esteja finalmente a querer construir, a partir de bases sólidas, uma escola de sucesso para todos os alunos. Por aqueles lados, a construção do sucesso educativo deverá continuar a fazer-se, como até aqui, da forma como que sai mais barata: à base de tiradas demagógicas e de facilitismo nas avaliações.