O ensino não é isto!

ead-fenprofEnsino não é isto, nem nada que se pareça! – afirmou, assertivo, um dos docentes que respondeu ao inquérito da Fenprof sobre o ensino a distância que, em virtude da pandemia, foi implantado nas escolas portuguesas.

Entre os mais de 3500 professores e educadores que responderam, nota-se a percepção clara de que, ainda que esta possa ter sido a resposta possível perante as circunstâncias que ditaram o fecho das escolas, ela está longe de constituir uma resposta satisfatória às necessidades dos alunos.

O E@D exclui um elevado número de alunos e, apesar da exaustão a que leva os professores, tem conduzido a aprendizagens pobres e limitadas. Quando já se fala em continuar a brincadeira pelo próximo ano lectivo, é altura de assentar os pés na terra e prestar atenção a abordagens sérias e realistas acerca do ensino não presencial, construídas a partir do conhecimento e das percepções de quem está no terreno. De quem lida com a frustrante realidade de um modelo de pseudo-ensino que, de dia para dia, vai cavando cada vez mais o fosso da desigualdade no acesso à educação. E deixando um número crescente de alunos para trás…

As respostas dos professores não deixam dúvidas, com a opinião maioritária a resumir-se numa afirmação que se poderá tornar icónica: O ensino não é isto, nem nada que se pareça!

Apesar disso, os professores, como sempre, foram solidários com os alunos e colocaram ao seu serviço as casas, o computador, a Internet, o telemóvel e, até, a sua privacidade. Fizeram-no porque, desde cedo, perceberam que a tutela não estava a fazer a sua parte. Não a de emitir ordens, orientações, circulares, disposições, plataformas ou aplicações, pois essas têm jorrado em cascata, mas a de, atempadamente, criar condições efetivas para o que designou por E@D. Deixou cada um à sua sorte e todos por sua conta.

Nas respostas abertas, há dois tópicos que os professores destacam:

– A desigualdade entre os alunos, que se agravou, em alguns casos, perigosamente. Assinalam, como principais razões, a falta de apoios, que, para alguns, são absolutamente indispensáveis e, também, as questões de ordem social que, já tendo contornos graves, se tornaram ainda mais problemáticas, com dois milhões de trabalhadores a ficarem em layoff ou no desemprego. Esta situação tem forte repercussão no funcionamento das famílias, designadamente no acompanhamento dos filhos;

– O desgaste dos professores, que manifestam enorme cansaço, decorre de diversos fatores, que vão da necessidade de adaptação a um modelo inédito de atividade até ao facto de ser bastante mais complicado, estando distante, acompanhar todos os alunos e satisfazer as necessidades educativas específicas de cada um; contribui, ainda, para este desgaste o facto de a atividade profissional ter tomado conta de todas as horas do dia e, ao invadir a casa de cada professor, dificultar a sua indispensável e saudável separação da vida familiar.

Confirma-se que, a meio do terceiro período letivo, mais de metade dos docentes ainda não tinha conseguido contactar com todos os seus alunos; apesar disso, mais de dois terços avançaram novos conteúdos curriculares, impelidos que foram pelas direções de algumas escolas e pelo ministério da Educação; porém, de entre esses docentes, é significativo o número dos que afirmam não considerar esses conteúdos na avaliação que farão dos seus alunos. Conscientes dos défices que se verificarão no final do presente ano letivo, os professores consideram inevitável, em 2020-2021, tê-los em conta, tentar superá-los e reforçar os apoios pedagógicos aos alunos.

Os resultados completos do inquérito encontram-se aqui.

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