Poupar na farinha, gastar no farelo

sala-de-professores.gifO leitor Daniel deixou-nos ontem, em comentário a outro post, e numa síntese particularmente certeira e inspirada, a demonstração da profunda irracionalidade de um sistema de concursos e colocações inicialmente concebido para reduzir as necessidades de professores, aumentando a mobilidade dos que estão afectos aos quadros e dispensando o maior número possível de contratados. Mas que depois, com a mobilidade por doença, está a torpedear todo esse sistema de poupança de horários e a gerar situações verdadeiramente absurdas:

1) os megas obrigaram uma série de professores a saírem das suas escolas ou a dividirem-se por mais do que uma. Pela MPD chegam às escolas uns quantos sem nada de relevante para fazer.

2) centenas de escolas dos 2º e 3º ciclos foram terraplanadas, são hoje escolas de ninguém, geridas à distância, com um singelo coordenador cujo tempo disponível para a gestão raramente ultrapassa 20% do tempo total de funcionamento das escolas (todos sabemos que a generalidade das escolas começam a receber os miúdos por volta das 8 da manhã e às 18:30 ainda andam por lá crianças, estão, portanto, abertas mais do que 50 horas por semana). Muitas tornaram-se espaços de violência, antes ainda passível de ser, com maior ou menor dificuldade, contida. Na Biblioteca, nos gabinetes, nas salas de estudo acotovelam-se professores sem turma.

3) a malta de QA com 45, 50, 55, 65 anos tem o horário cheio, cheio, cheio… Diz a legislação que em caso algum podem ter insuficiência de tempos letivos.

4) a malta indicada em 3) adoece, falta um dia ali e outro acolá, os miúdos ficam sem aulas, pelo recreio… sem vigilância… (o ex-mec deu esta cenoura ao professorado, um visionário!). Mesmo tendo dezenas de professores desocupados.

5) as turmas mistas voltaram a proliferar no 1º ciclo. Cortaram-se para cima de 2000 turmas nos últimos anos, degradam-se as condições de aprendizagem das crianças. Mas colocam-se 3 mil sem horário.

Como diz o Daniel, há no meio disto tudo uma vantagem: com tantos professores deslocados e subocupados, sempre abrem algumas vagas para contratação, permitindo que sejam colocadas mais umas centenas de professores desempregados. O que, no panorama recessivo que enfrenta a profissão, é sempre de saudar.

 

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