Saíram hoje as colocações da mobilidade por doença.
Obviamente, nada me move contra o direito concedido aos professores que, por razões graves de saúde devidamente comprovadas, são colocados numa escola próxima da residência ou do local onde fazem tratamentos. E só tenho, por isso, de felicitar os colegas que hoje foram colocados e desejar-lhes um bom ano escolar.
Mas há coisas que me continuam a fazer confusão nos procedimentos da administração educativa, nomeadamente a falta de transparência que ressalta do facto de, ao contrário do que sucede noutras formas de mobilidade, não ser publicada uma lista de colocações. O que se quer esconder? O número elevado de professores que obtêm colocação desta forma? As inevitáveis comparações que se poderiam fazer de ano para ano ou de escola para escola?
E depois, há isto:
Já Conheço um Agrupamento com 72 MPD
Há alguma forma de gerir, de forma eficaz e racional, uma situação destas, depois de estarem colocados todos os professores de que o agrupamento necessita? Quantos casos semelhantes a este haverá por todo o país? Mais, alguma empresa privada, gerida desta forma, se aguentaria? E ainda: haveria necessidade de criar uma situação destas?
Parece-me que a resposta é negativa a todas as questões. E que tudo isto seria evitável com um esforço de conciliação entre os interesses dos professores, que necessitam de permanecer próximo de casa, e o ministério, que deve garantir que os professores ao seu serviço, e que não estão incapacitados de trabalhar, possam desenvolver trabalho útil, de preferência com alunos.
Ora essa conciliação de interesses poderia fazer-se, tendo em conta que a maioria das colocações são feitas em concelhos onde existem várias escolas e agrupamentos, se os candidatos à mobilidade indicassem, não uma escola, mas um concelho onde pretendessem ser colocados, sendo depois distribuídos pelas várias escolas.
Sou absolutamente contrário à ideia em tempos apresentada pelo ME de criar uma espécie de numerus clausus para colocações por doença: as pessoas ou estão doentes ou não estão, e em caso afirmativo têm direito a beneficiar dos mecanismos de mobilidade que estão previstos para o efeito. O que o ME tem de averiguar não é se as pessoas estão mais ou menos doentes, mas se sofrem efectivamente das doenças incapacitantes e se estas justificam a mobilidade, introduzindo ou melhorando os mecanismos de controlo que impeçam os abusos que hoje se praticam. E que não é por os ignorarmos que deixarão de existir.
Isto não muda. O ME não tem forma de controlar. Repara que até as juntas médicas da CGA estiveram meses paradas.
A enormidade de professores em MPD em alguns agrupamentos (que ficam com funções de apoio) quando relacionada com os respetivos resultados escolares contraria as teses de que mais professores ajudam a elevar o sucesso educativo.
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Claro, deixaram crescer como uma bola de neve e a coisa ficou incontrolável.
Mas terá de ser moralizada mais tarde ou mais cedo, pois é financeiramente insustentável ter milhares de professores desocupados a ganhar o ordenado por inteiro.
E tens razão, isto depois serve também para demonstrar que não é por haver rácios baixos de alunos por professor que o sucesso aumenta.
Assim como permitirá, quando a situação política mudar, demonstrar a superioridade da gestão privada, onde não há coisas destas.
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O mais ridículo disto é um professor QA sem 6 horas letivas ter de sair da sua escola. Para o seu lugar entram dezenas através da MPD.
Estes esquemas eram de prever, com os megas e a reorganização curricular houve uma redução brutal de horários, com particular expressão nas regiões Norte e Centro.
Do ponto de vista da gestão recursos colide com as restantes orientações, reparemos:
1) os megas obrigaram uma série de professores a saírem das suas escolas ou a dividirem-se por mais do que uma. Pela MPD chegam às escolas uns quantos sem nada de relevante para fazer.
2) centenas de escolas dos 2º e 3º ciclos foram terraplanadas, são hoje escolas de ninguém, geridas à distância, com um singelo coordenador cujo tempo disponível para a gestão raramente ultrapassa 20% do tempo total de funcionamento das escolas (todos sabemos que a generalidade das escolas começam a receber os miúdos por volta das 8 da manhã e às 18:30 ainda andam por lá crianças, estão, portanto, abertas mais do que 50 horas por semana). Muitas tornaram-se espaços de violência, antes ainda passível de ser, com maior ou menor dificuldade, contida. Na Biblioteca, nos gabinetes, nas salas de estudo acotovelam-se professores sem turma.
3) a malta de QA com 45, 50, 55, 65 anos tem o horário cheio, cheio, cheio… Diz a legislação que em caso algum podem ter insuficiência de tempos letivos.
4) a malta indicada em 3) adoece, falta um dia ali e outro acolá, os miúdos ficam sem aulas, pelo recreio… sem vigilância… (o ex-mec deu esta cenoura ao professorado, um visionário!). Mesmo tendo dezenas de professores desocupados.
5) as turmas mistas voltaram a proliferar no 1º ciclo. Cortaram-se para cima de 2000 turmas nos últimos anos, degradam-se as condições de aprendizagem das crianças. Mas colocam-se 3 mil sem horário.
Alguém entende?
Parte positiva: libertam-se horários para contratação.
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Retrato bastante completo da confusão criada; onde ainda se poderiam acrescentar alguns casos de professores com doenças graves ou mobilidade reduzida que, porque estão colocados ao pé de casa, não concorrem à mobilidade.
Resultado, ficam na sua escola com horário lectivo completo, enquanto dezenas de paraquedistas passam por lá um ano descansado, sem turmas nem chatices.
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[…] leitor Daniel deixou-nos ontem, em comentário a outro post, e numa síntese particularmente certeira e inspirada, a demonstração da profunda irracionalidade […]
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Não deixa de ser muito curioso a quantidade astronómica de docentes do 1º ciclo que estava por colocar a semana passada a lista tinha 20 paginas ou seja à volta de 500 professores, vai daí que hoje desapareceram quase todos, o misterio…desvenda-se quando olho para a lista dos retirados nomeadamente por mobilidade por doença, fica a ideia que muita gente só obtém colocação rápida por essa via,com a vantagem de ficar à porta de casa, evitado desta forma ir para a requalificação dos excedentários do estado…bem visto!!!
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