O percurso académico, profissional e político de Miguel Cardona espelha bem os profundos contrastes e contradições, mas também as oportunidades, que caracterizam o american way of live: para ser um estudante bem sucedido teve de se esforçar, desde criança, para dominar o inglês, que não era a sua língua materna; fez os seus estudos em escolas públicas, iniciou uma carreira de professor e foi um dos mais jovens directores escolares do seu estado antes de assumir funções dirigentes na administração educativa estadual.
Em suma, um professor e gestor escolar que assume o seu percurso profissional no ensino não superior público e um cidadão consciente da importância da escola pública na promoção da igualdade de oportunidades e na construção de uma sociedade mais justa. E também um defensor assumido da escola presencial, mas posta a funcionar, em tempos de pandemia, em plena segurança.
É muito cedo para tecer maiores considerações sobre o novo secretário, que ainda nem posse tomou. E sabemos como é frequente expectativas elevadas e irrealistas em relação a novos governantes converterem-se em amargas desilusões. Mas não deixo de notar o que teríamos a ganhar se, em vez dos usuais carreiristas e paraquedistas que têm dominado a cúpula do ME, tivéssemos pessoas com perfil semelhante na liderança da Educação em Portugal.
Por cá, a fasquia para a selecção do ministro que tutela a pasta é sempre, como sabemos, colocada muito baixa: em quarenta e tal anos de democracia, já passaram pelo cargo professores universitários, economistas, engenheiros, advogados e investigadores, a grande maioria com pouco ou nenhum conhecimento das realidades do sector. Mas nunca a escolha recaiu sobre um professor do básico ou do secundário. Diria até que essa condição tem sido, em governos de todas as cores políticas, impedimento absoluto para o exercício da função…