De tempos a tempos surgem estes casos de precocidade extrema: miúdos que começam a ler e a escrever quando os outros ainda se limitam a explorar o mundo físico que os rodeia. Que fazem leituras extensas e desenvolvem raciocínios matemáticos enquanto os colegas soletram e contam pelos dedos. Quando este enorme potencial de aprendizagem é explorado e incentivado ao máximo, há miúdos que conseguem chegar à universidade enquanto os colegas da mesma idade ainda não concluíram o ensino básico. Mas julgo que nunca me tinha deparado com um caso como o que há dias era noticiado pelo JN.
Pais e universidade andam agora de candeias às avessas. Enquanto aqueles parecem apostados em manter o filho numa corrida de velocidade, tendo em vista a obtenção do canudo, e fazem já planos para o doutoramento numa universidade norte-americana, os responsáveis académicos parecem preocupados em assegurar o ritmo mais adequado ao “desenvolvimento académico” do jovem estudante.
Céptico por natureza em relação a estes casos, julgo que a chave da questão está em algo que se discute muito nos dias de hoje e que entre nós se corporiza naquilo a que oficialmente se chamou o “perfil do aluno”: estudar é apenas adquirir conhecimentos académicos? Dizem-nos que o pequeno Laurent absorve todo o tipo de conhecimentos “como uma esponja”. Mas é apenas isso que se pretende da educação? Não é necessário tempo para assimilar, interagir, aplicar os conhecimentos adquiridos? Basta apenas definir um calendário de exames para validar as aprendizagens realizadas, ou deverão a escola e a universidade do século XXI exigir outro tipo de provas e trabalhos aos seus estudantes?
Outra faceta da questão tem a ver com a infância que de certa forma poderá estar a ser roubada a esta criança. É certo que parece feliz e gostar da vida que tem, mas não lhe estará a ser retirado algo, em termos de experiência de vida, que nunca irá recuperar?
Demasiadas dúvidas, e poucas certezas, continuam a pairar sobre a realidade dos sobredotados…