Trabalhar menos, viver melhor

O exemplo islandês percorreu ontem a comunicação social, mas a semana de 35 ou 36 horas com apenas quatro dias de trabalho vai sendo experimentada noutros países. Com vantagens evidentes no bem-estar e na motivação dos trabalhadores, na redução do impacto ambiental das deslocações para o trabalho e até na produtividade, pois mais importante do que o número de horas em que se está presente no local de trabalho é o trabalho que efectivamente se produz. E um trabalhador cansado e desmotivado tende a ser menos produtivo.

Claro que há profissões, nomeadamente aquelas em que se trabalha por turnos, onde a redução de horário levanta alguns problemas e pode implicar a contratação de mais pessoal. Mas isso não é um factor necessariamente negativo. Pelo contrário: o que se espera de uma economia e um Estado bem organizados é que sejam capazes de gerir os desequilíbrios, compensando com os ganhos que se obtêm de um lado as eventuais perdas que possam surgir. Até porque, com a economia a extinguir empregos a maior velocidade do que os está a criar, estamos perante uma inevitabilidade: ou passamos a trabalhar menos ou cada vez haverá mais gente sem trabalho.

Por cá, o relançar da velha questão da redução dos horários laborais obriga a evocar os tempos da troika e do governo de Passos Coelho, que à boleia da austeridade aproveitaram, não para reduzir, mas aumentar para as 40 horas semanais o horário dos funcionários públicos, uma situação entretanto revertida pela geringonça. Mas essa parece ser a sina da direita portuguesa: no duro e penoso caminho da luta pelos direitos dos trabalhadores e o progresso social, estão sempre a aparecer-nos em contramão…

A Islândia parece ser um caso de sucesso na redução da semana de trabalho com bons resultados sobretudo na saúde dos trabalhadores.

Um teste realizado pela Câmara Municipal de Reiquiavique, entre 2015 e 2019, envolveu mais de 2500 trabalhadores, cerca de um por cento da população ativa da Islândia.

A semana foi reduzida de 40 para 35 horas, distribuídas por apenas quatro dias e sem cortes nos salários.

Os resultados mostraram menos stresse nos trabalhadores e melhor equilíbrio entre a vida familiar e profissional, sem perda de produtividade e às vezes até com impacto positivo.

Os trabalhadores garantiram uma melhoria substancial no bem estar e os sindicatos conseguiram renegociar os contratos de 86% dos trabalhadores islandeses para passarem menos horas no local de trabalho.

Testes similares estão também a ser ponderados noutros países europeus.

Em Espanha, a Telefónica decidiu experimentar a semana de trabalho de quatro dias e chegou a acordo com os sindicatos, mas implicando uma redução nos salários.

A empresa espanhola de telecomunicações admite ainda assim compensar 1,6 horas das oito semanais que os trabalhadores perdem. O teste piloto deste modelo arranca em outubro.

O governo espanhol também admitiu em março avançar com uma experiência similar durante três anos, que entretanto travou. As negociações continuam, mas a prioridade passará agora por estabelecer uma semana de trabalho de 35 horas.

A redução do horário está a ganhar adeptos também na Alemanha e até na Nova Zelândia, a reboque da convicção de que a mudança melhora a produtividade e a saúde mental dos trabalhadores, e ainda ajuda a combater as alterações climáticas.

1 thoughts on “Trabalhar menos, viver melhor

  1. Revolução horária em Traseiras de Judas

    A Joaquina não se conforma com o recolher obrigatório às 11 horas da noite . E vai daí, desenrascada como é, rapa de uma comprida vara de sacudir a azeitona e zás : atrasa 4 horas os ponteiros do relógio da igreja, decidindo que a vida da pequena comunidade doravante passaria ser regulada pelo altaneiro mostrador.
    Erudita, à sua maneira, esclarece : ” se nos fizeram engolir o acordo hortogarfo (sic) – o das hortas – atão também poderemos “implementar” a mesma hora legal do Brasil, porra! Assim temos mais horas de sol, como os nossos irmãos brasileiros, e o Coxa pode fechar a venda às mesmas 11 da noite (nossas), mas agora com a esplanada profusamente iluminada pelo resplandecente brilho das estrelas do firmamento” .
    Quanto à trabalheira, agrada-lhe a opção da Islândia .Pudera! Diz que vai tentar convencer o presidente da Junta.

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