Com o ar de quem nos está a dar grandes novidades, o tanque-de-pensar do grupo SONAE dedicado aos temas educativos informa que os jovens oriundos das classes mais favorecidas têm mais e melhor acesso aos cursos superiores com média de entradas mais elevadas. E que os filhos dos pobres entram preferencialmente nos politécnicos.
A razão principal não é difícil de compreender. É a mesma que permite que os ricos influenciem a agenda dos media, criando fundações para fabricar as notícias que lhes interessam e as plantar selectivamente nos media: o poder do dinheiro.
Será preciso uma investigação aprofundada para concluir que as famílias mais ricas, sendo também, regra geral, mais instruídas, tendem a proporcionar um ambiente cultural mais estimulante aos seus filhos?
Ou que, mal começam a surgir dificuldades nos estudos, essas famílias recorrem facilmente aos melhores explicadores?
A verdade é que a indústria das explicações e o peso que este “subsistema” de ensino paralelo foi adquirindo explicam grande parte do binómio do sucesso/insucesso educativo. Mas a opacidade que o envolve não parece aliciar os investigadores a tentar avaliar o impacto e a abrangência do fenómeno, muito menos as fundações do regime que os financiam. Bem mais fáceis são estes estudos preguiçosos que se fazem a partir de dados pré-existentes: a informação estatística sobre as habilitações dos pais dos alunos ou os escalões da acção social escolar é recolhida rotineiramente pelo ME e a própria DGEEC já vez várias análises semelhantes à que agora se apresenta.
O facto de chegarem mais longe nos estudos não quer dizer que os ricos sejam mais inteligentes do que os pobres. Não impede a existência de ricos ignorantes e obtusos – algumas figuras públicas que andam por aí a desfalcar os bancos do regime demonstram-no à saciedade mal abrem a boca em público – nem determina que os pobres sejam incapazes de educar bem os seus filhos. Significa apenas que, estatisticamente, será sempre expectável que os filhos dos mais ricos e instruídos sejam mais apoiados e consigam chegar mais longe nos seus percursos escolares. Existe uma correlação forte, mas não determinante, do rendimento familiar e nível de escolaridade dos pais com o sucesso escolar dos seus descendentes.
No entanto, para saber estas coisas, não é preciso fazer grandes “estudos”. Bastaria, por exemplo, verificar quantos administradores das empresas do grupo SONAE têm ou planeiam ter os filhos a estudar num qualquer politécnico. É que o “elevador social” não consegue levar toda a gente para cima quando as vagas no topo são limitadas. Quantos, entre a elite dominante, aceitarão que jovens pobres mas talentosos ocupem os lugares que têm destinados para os seus rebentos, ainda que estes revelem “pouca queda para os estudos”? Quem é que aceita resignadamente que os seus filhos tomem o elevador social em sentido descendente?
Exposto o essencial, o resto é a agenda oculta das fundações e das organizações internacionais que regularmente vão promovendo determinadas linhas de investigação criteriosamente seleccionadas. Enquanto for possível ter sucesso a responsabilizar as escolas e os professores pelos fracassos, reais ou imaginários, dos alunos mais desfavorecidos, pode-se continuar a ignorar ou a adiar as reformas de que verdadeiramente precisamos: as que combatam as desigualdades sociais e promovam uma efectiva igualdade de oportunidades.
Como a realidade, em Portugal e no mundo, vem demonstrando, é tanto maior o desejo de reformar a escola quanto menor é a vontade de melhorar a sociedade.
“Como a realidade, em Portugal e no mundo, vem demonstrando, é tanto maior o desejo de reformar a escola quanto menor é a vontade de melhorar a sociedade. É de facto algo que tem acontecido e que foi aqui muito bem salientado. E esse “desejo” de reformar a escola que na melhor das hipóteses é um pedagogismo ingénuo é, na maior parte dos casos e dos atores – tanques do pensamento – uma forma de desviar atenções da realidade.
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