De acordo com as simulações publicadas, as espectaculares descidas de impostos sobre “quem trabalha” decididas pelo Governo determinarão quem tem um salário de 1000 euros mensais irá receber mais 1,60€ por mês. Quem recebe 1500 euros mensais irá ter, com a descida das taxas do IRS, mais 4,60€ em cada mês. Com um salário bruto de 2000 euros, o ganho será de 7,60€ mensais.
Será esta a grande reforma fiscal prometida pela direita, para desonerar os custos do trabalho e aumentar substancialmente o rendimento disponível dos trabalhadores?
Atendendo à modéstia dos números, o que parece é que a montanha em que alguns acreditaram se limitou afinal, como aliás seria inevitável, a parir um rato…
Contudo, as reformas fiscais não se ficam por aqui! Se sobre IRS estamos conversados, no IRC a conversa é outra. Como muito bem nota Ana Drago, vai mesmo haver choque fiscal. Só que não é para o nosso bico…
No passado, Passos Coelho e Vítor Gaspar foram autores do maior choque fiscal de sempre: o “enorme aumento de impostos” para trabalhadores, famílias e pensionistas. Nada na história da democracia portuguesa se aproximou de longe do seu impacto. Ao mesmo tempo, quando Passos fez e manteve os cortes nos salários e nas pensões, o IRC para as empresas desceu de 25% para 23%, e depois para 21%. Agora, a nova promessa do choque fiscal da AD também vai ser cumprida por Montenegro. Mas desta vez será apenas para as empresas. Na verdade, para as grandes empresas. Porque é só fazer as contas: como cerca de 48% da receita arrecadada em IRC é paga por 0,3% das empresas, o alívio fiscal é desenhado para as grandes empresas e vai ser bem real: 1500 milhões de euros. Compreendam de uma vez por todas – vai haver choque fiscal, só que não é para “nós”.