A prestação de contas de João Costa

Na hora da despedida, João Costa faz o balanço dos oito anos e mais alguns meses em que integrou a equipa dirigente do ME, primeiro como secretário de Estado e, a partir de 2022, enquanto ministro.

Modesto, sabemos que não é; e a forma de tentar puxar dos seus galões é apresentar a obra feita. No seu facebook, e depois dos agradecimentos da praxe a todos os que colaboraram com o desenvolvimento da sua política educativa, João Costa enumera 121 medidas que tomou para melhorar a Educação portuguesa.

Factualmente inatacável, a longa lista de iniciativas e concretizações contrasta com a realidade que todos conhecemos: declínio das aprendizagens dos alunos, dificuldades crescentes no recrutamento de professores, aumento da indisciplina e da violência escolar, burocracia galopante, gestão autocrática, um parque informático ainda mais degradado, apesar das profissões de fé na “escola digital”, insatisfação e mal-estar generalizados entre o pessoal docente e não docente.

Sem ir ao ponto de dizer que tudo foi mau na actuação deste ministro, a verdade é que a maioria das medidas elencadas tiveram mais efeito ao nível da propaganda e da satisfação de clientelas do que impacto real na melhoria das aprendizagens. O ministro ufana-se daquilo que fez, mas o seu adeus não desperta saudades, a não ser a uma pequena claque de indefectíveis. O que, voltando à “prestação de contas”, nos confronta com uma inevitável perplexidade: como é que tantas e tão boas medidas apregoadas produziram tão fracos resultados?

5 thoughts on “A prestação de contas de João Costa

  1. Por curiosidade, fui espreitar a publicação do Costa menor. São vários os comentários bajuladores. Uma das ‘comentadeiras’ até achava que os ministros deviam publicar o que fizeram durante o mandato, utilizando para o efeito páginas pagas nos jornais, pois a página no FB não é suficiente para tão esmerado ministro.

    De facto, tal como se questiona neste blog, como foi possível que, após tantas e tão boas medidas, se tenham atingido tão péssimos resultados!

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  2. Apenas uma pergunta: qual era e qual passou a ser a percentagem de salas de aula com aquecimento central, em Trás-os-Montes, na sequência das ações do Ministério da Educação neste período?

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  3. O PS tem um historial catastrófico na Educação. Fez muita maldade em nome próprio e nunca desfez as malfeitorias que o PSD ia acrescentando. E assim chegámos a este triste estado: os mais velhos vão-se reformando, os mais novos, pese embora a boa vontade, não chegam para as encomendas, ninguém quer vir a ser professor. Os professores, sobrecarregados, mal pagos, com horários que parecem mal feitos de propósito, mergulhados em burocracia redundante e inútil, a registar tudo e um par de botas em plataformas mal concebidas (que foram provavelmente pagas e bem pagas mas muito mal amanhadas), não têm tempo nem energia para estudar, preparar trabalho, ler ou investigar. Já nem temos programas, só “aprendizagens essenciais”.

    Os alunos, que décadas de más políticas educativas convenceram de que o sucesso escolar é um direito e de que, portanto, não têm de fazer nada para o obter, educados por ecrãs num português de qualidade duvidosa, vão à escola conviver com os amigos e pelo meio lá têm a chatice das aulas.

    Estamos tão lixados!

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  4. Factualmente inatacável, como diz. Factos são factos e há trabalho feito, independentemente da narrativa construída de que não foi feito nada e que tudo foi destruído. Venham agora os que vocês elegeram e vamos ver qual é o balanço final. Quero ver o que vão fazer com a vinculação, com os lugares de quadro ou com a isenção de quotas no acelerador. Mas agora está tudo caladinho. Os dos cartazes do Costa nem se sabe deles.

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    • Antes de mais, não votei “nestes” nem acredito em soluções miraculosas para a escola pública vindas da direita.

      Quanto ao “trabalho feito”, lembra-me aqueles ratinhos que correm furiosamente dentro duma roda: a roda gira velozmente mas o bicho não sai do mesmo sítio. João Costa fez muita coisa inútil e contraproducente, até: em vez de melhorar as condições de trabalho nas escolas, simplificar a burocracia e resolver os impasses nas carreiras e no tempo de serviço, preferiu empossar grupos de trabalho e comissários políticos para impor a agenda educativa da OCDE e dos lobbies e multinacionais com interesse na Educação.

      Trabalhou-se demasiado no que não interessava, inventaram-se problemas novos em vez de resolver os já existentes, que se agravaram, e chegamos ao fim com estatísticas que até podem ser melhores, porque mascaram a realidade, mas com resultados reais claramente piores: faltam professores, os alunos aprendem menos, perde-se mais tempo com burocracia e homeopatia educativa do género do ubuntu e outros projectos de treta,

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