Primeiro de Maio sangrento

Há 40 anos atrás, o Dia do Trabalhador foi assim: o governo de direita liderado por Francisco Pinto Balsemão enviou a polícia de intervenção para o Porto, com ordem de agredir os trabalhadores que comemoravam, como habitualmente se faz em Portugal desde a Revolução de Abril, o Primeiro de Maio.

A violência foi completamente desproporcionada e gratuita: a manifestação tinha terminado, as esperadas provocações entre os adeptos da CGTP e da UGT foram minimizadas, mas os polícias traziam ordem para fazer sangue: pela noite dentro, correrias e cacetada à discrição pelas ruas do centro do Porto. Jornalistas, transeuntes, novos e velhos “apanharam como os outros”. Durante umas horas, reviveram-se no Porto os horrores da repressão policial dos tempos de Salazar e Caetano. No final uma centena de feridos e dois mortos: um homem alvejado pelas costas e um rapaz de 17 anos que estava a ver de longe e nem participou na manifestação.

Os criminosos ficaram impunes, como geralmente sucede com os “crimes de sangue” cometidos ou ordenados por gente de direita. Mas houve responsáveis morais e materiais: o execrável ministro da Administração Interna, Ângelo Correia, que mais tarde ser tornaria patrão e padrinho político de Passos Coelho, o comandante da força policial que ordenou a actuação selvática das forças às suas ordens e os agentes e graduados que, desvairados, agrediram e mataram na noite portuense.

Quando partidos e intelectuais de direita vaticinam o fim do PCP e de outras forças de esquerda e se arvoram em campeões da liberdade e da democracia, convém não esquecer que alguns dos que hoje condenam a severa repressão de Putin às manifestações contra a guerra nas cidades russas pertencem a partidos políticos que, nesta matéria, têm também sangue nas mãos.

Para quem não recorda ou desconhece, esta peça da Visão faz um relato objectivo e pormenorizado de um Primeiro de Maio que a direita gostaria que caísse no esquecimento.

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