Os resultados das candidaturas ao ensino superior confirmam as tendências que se vêm desenhando nos últimos anos:
- Há mais alunos colocados no ensino superior – quase 45 mil nesta primeira fase, um número que irá aumentar com as subsequentes fases e diferentes modalidades de ingresso, devendo ultrapassar os 70 mil o número de estudantes que este ano entrarão pela primeira vez numa universidade ou politécnico;
- Continua a haver elevada procura nos cursos de Engenharia mais em voga, como a Aeroespacial, a Física e a Biomédica, com médias de entrada que nalguns casos ultrapassam as dos cursos de Medicina, tradicionalmente os mais procurados;
- Nota-se um aumento da procura no ensino politécnico, que regista um maior aumento do número de entradas comparativamente com as universidades.
Este último ponto parece-me especialmente significativo, e embora seja em parte o resultado dos critérios seguidos no aumento das vagas, contraria uma lógica perniciosa que se vinha a impor, baseada na competição entre universidades e na promoção, ao nível da opinião pública, de alguns cursos e instituições supostamente de excelência. Quando, afinal, todas as universidades e politécnicos têm corpos docentes qualificados e experientes e reúnem as condições necessárias para dar uma boa formação aos alunos que recebem.
Num país onde predominam as famílias de baixos rendimentos e onde as bolsas e os apoios sociais são em muitos casos insuficientes, parece evidente que o alargamento da frequência do ensino superior tem de passar por investir, prestigiar e tornar atractivas as instituições superiores situadas fora dos principais centros.
Alguns especialistas e responsáveis ouvidos hoje pela comunicação social mostraram satisfação pelos resultados alcançados, mas reiteraram a ambição de, nos próximos anos, colocar ainda mais alunos no ensino superior. Não concordo, e acho que não faz sentido, num país onde apenas cerca de 90 mil alunos terminam anualmente o secundário, querer ir além dos números actuais de ingresso no ensino superior.
Recuperando de um forte atraso estrutural evidente ainda no início do milénio, temos hoje taxas de acesso e frequência de universidades e escolas superiores ao nível dos países mais desenvolvidos. Do que precisamos agora não é de ainda mais gente formada – é de empregos qualificados que possam absorver os novos licenciados, mestres e doutores que hoje não encontram trabalho nas áreas em que se formaram. A emigração pode ser, individualmente, uma opção aliciante. Mas para o país a saída anual de milhares de jovens recém-formados significa a perda de um enorme investimento em capital humano que outros, a custo zero, irão aproveitar.
Nas universidades e politécnicos, os desafios do futuro próximo não passam, globalmente, por ter mais alunos, até porque a realidade demográfica que conhecemos bem no básico e secundário acabará por se impor também no ensino superior. Prioritário será, isso sim, apostar na qualidade do ensino e da investigação, reforçando o investimento e não descurando o apoio social aos estudantes, uma área demasiadas vezes descurada. Quanto ao ingresso de novos estudantes, continua a ser necessário trabalhar na correcção dos desequilíbrios existentes, aumentando as vagas em áreas mais procuradas e com maior empregabilidade e reduzindo-as nos cursos com escassas saídas profissionais.
Uma boa notícia.
Duvido é que o empreendedorismo nacional aproveite e acarinhe este potencial- trabalho precário, salários perto dos mínimos e pagamentos em atraso.
Já o empreendedorismo internacional esfregará as mãos.
GostarGostar
corrijo:
…este potencial pois está mais interessado em trabalho precário……..
GostarGostar