Ameaça prolongar-se, sem fim à vista, a greve climática que os activistas do clima tinham marcado para esta semana. Focando as acções de protesto em instituições universitárias, os activistas esbarraram com a obtusidade das autoridades académicas: em vez de ouvirem os estudantes, aceitando as preocupações legítimas e o exercício da cidadania activa com a mesma paciência e compreensão que costumam ter perante as alarvidades das praxes e os excessos das festas académicas, acharam que resolviam o assunto tratando-o como um mero caso de polícia: está na hora de fechar o expediente, saiam imediatamente ou chamamos a polícia! E assim reeditaram, do pé para a mão, cenas que já não víamos desde o 25 de Abril: polícias a invadir a faculdade e estudantes a serem expulsos, com recurso à força física, do interior das instalações. Claro que isto só serviu para inflamar os ânimos e amplificar o protesto…
Esta é mais uma etapa dos protestos pelo fim aos combustíveis fósseis, após o coletivo de estudantes ter garantido que não vai parar enquanto as suas reivindicações não forem ouvidas.
A porta-voz do movimento, Catarina Bio, conta à TSF qual é o objetivo desta ação, sublinhando a importância de encarar a emergência climática como uma verdadeira ameaça.
“Na noite de ontem [quinta-feira] para hoje [sexta-feira], estudantes entraram num dos edifícios da faculdade, o edifício C, barricaram todas as entradas e alguns ficaram fechados lá dentro, outros estão do lado de fora, mas fecharam a faculdade em protesto porque dizem que é necessário nós levarmos esta emergência – que é a emergência climática – como verdadeira emergência que é”, explica.
Há, como é evidente, uma enorme dose tanto de ingenuidade como de voluntarismo entre os jovens defensores do clima. E muitos equívocos, a começar na ideia de que uma mudança global dos modos de produção e consumo de energia é coisa que se consegue fazer em meia dúzia de anos e a acabar na ilusão de que é possível compatibilizar o modelo económico do capitalismo globalizado, assente na ideia da infinitude de recursos e do crescimento económico ilimitado, com a preservação do clima, do ambiente e dos recursos naturais não renováveis.
Outra ilusão, menos óbvia mas não menos real, é a convicção destes jovens de que estão a lutar pelo seu futuro. A verdade é que, mesmo que conseguíssemos parar já hoje as emissões nocivas que lançamos para a atmosfera, continuaremos durante décadas, e ao longo de toda a vida adulta dos jovens actuais, a sofrer os efeitos das alterações climáticas e do aquecimento global. Eles são, não o resultado directo do que estamos a fazer agora, mas da acumulação dos efeitos de duzentos anos de industrialização, durante os quais lançámos, despreocupadamente, milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Viver num planeta mais quente, com mais desertos, menos água potável e fenómenos climáticos extremos mais frequentes será uma realidade incontornável pelo menos para os próximos cem anos. O que ainda depende de nós é agir para evitar o agravamento dos males que já sofremos, não reverter a emergência climática que irresponsavelmente criámos.
O planeta saudável pelo qual estes jovens lutam empenhadamente, já não será para eles; eventualmente para os seus netos, se os vierem a ter: talvez isto não tenha de lhes ser dito com esta crueza, mas o certo é que as suas inquietações e exigências são legítimas, o problema climático é sério e merece estar na ordem do dia. Ignorados pelos responsáveis políticos, reprimidos nas suas acções de rua, os jovens activistas do clima tentam fazer, nas universidades, o debate urgente e necessário. Fechar-lhes as portas será a solução?