Raquel Varela foi acusada de empolar o currículo citando várias vezes o mesmo artigo. Mas a questão vai para além disso: tem no CV artigos de título diferente, e até autoria diferente, porém conteúdo igual. Prática conhecida como autoplágio, na qual há quem veja fraude. Nem Varela nem a Nova responderam às perguntas do DN.
Bolseiros queixam-se de inferno laboral de Raquel Varela
Mais de uma centena de académicos e intelectuais nacionais e internacionais assinaram uma carta pública em defesa de Raquel Varela.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas foi acusada de abrir um concurso à medida de Raquel Varela. Nova critica docentes por acusações no espaço público e lamenta “danos reputacionais gratuitos”.
Historiadora, investigadora, comentadora, blogger, polemista, estrela da TV: Raquel Varela tornou-se uma figura quase omnipresente no espaço público, ganhando destaque não só pelas posições assertivas e polémicas que geralmente assume nos assuntos que comenta mas também por nos ter habituado a “ir a todas”.
Mais do que uma vez comentei por aqui posições pertinentes e fundamentadas sobre temas educativos, sociais e laborais. Mas RV nem sempre resiste à tentação da prosa mais inflamada e irreflectida, ao exercício de se ouvir mais a si própria do que ao que lhe dizem os outros. E nos últimos tempos, atrevo-me a dizer, terá coleccionado mais ódios de estimação do que adoradores incondicionais.
O caso do currículo académico insuflado com publicações repetidas e autoplágios demonstra que os dias continuam a ter, para todos, as mesmas 24 horas, e o investigador que se desdobra em múltiplas actividades profissionais e não abdica, e muito bem, de ter vida pessoal e familiar, não terá todo o tempo do mundo disponível para investigar e publicar. Republicar trabalhos já feitos com alterações mínimas, tirar partido de colaborações de formandos e de outros colegas para aumentar o número de publicações, tudo isto são tentações a que alguns, num sistema que valoriza a quantidade em vez de premiar a originalidade e a qualidade, não conseguirão resistir. Afinal de contas, tanto o acesso às bolsas como os concursos para acesso aos quadros de investigação e docência nas universidades valorizam um currículo recheado de publicações.
Resta estar atento aos futuros desenvolvimentos para perceber as reais motivações deste escândalo e do que com ele se pretende. Servirá de pretexto para um questionamento sério sobre a forma como se constroem currículos e se faz investigação nalgumas áreas e instituições académicas? Sobre a necessidade de valorizar outras qualidades e competências académicas além do ritmo de publicação? Afinal de contas, Raquel Varela não construiu sozinha a sua carreira universitária. Era suposto os artigos, capítulos de obras científicas e livros de sua autoria serem lidos e escrutinados pelos seus orientadores a avaliadores.
O pior que poderá suceder, quando daqui a uns meses revisitarmos o assunto é verificarmos que, depois de assentar a poeira, tudo permanece na mesma nas inabaláveis torres de marfim da nossa academia. Constatar que o escrutínio público do currículo de Raquel Varela, em vez de motivar a autocrítica e as necessárias mudanças, apenas serviu para descredibilizar a autora e as suas intervenções mediáticas…
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