Muito pior do que a gente pensava!

A situação orçamental é bastante pior do que o anterior Governo tinha anunciado.

A afirmação categórica de Miranda Sarmento, entretanto já rebatida por Fernando Medina, envolveu PS e PSD em acesa polémica. Mas, bem vistas as coisas, quem é que ainda se consegue surpreender com um número clássico da governação à PSD?

Chegando geralmente ao poder mais por demérito do adversário político do que por mérito próprio, o PSD ganha eleições acenando com baixas de impostos, subidas de rendimento, corte de despesas supérfluas, desenvolvimento económico.

A enganar o povo, portanto. A economia, tal como a matemática que a suporta, é o que é, e se cortamos receita não faremos brilharetes do lado da despesa sem comprometer irremediavelmente o futuro. Ainda para mais num país sem soberania monetária e dependente das rígidas regras orçamentais da UE.

Prometer o que não poderia dar: recuando no tempo, foi assim que Durão Barroso refundou a coligação de direita em 2002, prometendo aos portugueses um choque fiscal que nunca concretizou. A desculpa:

Durão Barroso, sucessor de António Guterres como primeiro-ministro de Portugal, lança em 2002 acusações ao anterior executivo dizendo que este tinha deixado “Portugal de tanga”.

Com Passos Coelho, apesar da crise financeira e da vinda da troika em 2011, a promessa era categórica:

O presidente do PSD rejeitou, quarta-feira, “mais aumento de impostos” se vier a ser primeiro-ministro após as eleições legislativas de 5 de Junho

Eleições ganhas, o governo PSD/CDS delineou um gravoso pacote de medidas de austeridade que incluía, dito pelo próprio ministro das Finanças na apresentação do Orçamento para 2012, um “enorme aumento de impostos”:

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anunciou hoje alterações nos escalões do IRS, uma sobretaxa de IRS de 4% e a reposição de um subsídio à Função Pública e de 1,1 a pensionistas.

Voltando a Miranda Sarmento, e independentemente das tecnicidades orçamentais esgrimidas de parte a parte, há uma pergunta óbvia na mente do cidadão comum: se as finanças públicas estavam assim tão mal, porque se precipitou o Governo a anunciar borlas fiscais aos que menos precisam, nomeadamente os bancos e os grandes grupos económicos que pagam o grosso do IRC? Claro que satisfazer as clientelas é prioritário e não está sequer em discussão. As dificuldades surgem justamente na semana em que começam a ser discutidos os compromissos assumidos com diversas categorias profissionais da administração pública.

A governar sempre a favor dos mesmos, mas sem base parlamentar para impor a sua política, o Governo de Montenegro está a prazo, e poucos acreditam que sobreviva muito para além do próximo orçamento. Mesmo durando pouco, e a continuar nesta política errática e facciosa, arriscamo-nos a que deixe a governação do país bem pior do que a encontrou.

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