E a culpa é (deixem-me adivinhar…)

Deixem-me ver se percebi. Prometida por todos os maiores partidos antes das eleições, a recuperação do tempo de serviço dos professores seriam favas contadas. Afinal, eleições ganhas e PSD instalado no poder, e a conversa começa a ser outra. Recuperação sim, mas a seu tempo, nada de orçamentos rectificativos nem acréscimos de despesa que possam comprometer outras metas, para o Orçamento de 2025 logo se verá se pinga alguma coisa. Se o Governo não cair entretanto…

Excesso de confiança dos professores? Governantes do PSD aldrabões ou meros trapalhões? Calma, que nestas ocasiões arranja-se sempre um bode expiatório…

A Missão Escola Pública tem feito um bom trabalho, que não me canso de elogiar e divulgar, mobilizando os professores e dando visibilidade às suas reivindicações. A acção deste e doutros grupos independentes tem sido um importante complemento à luta sindical, quer enquadrando docentes que não se identificam com os sindicatos que temos, quer acrescentando a dose de irreverência que os sindicatos, pelo peso institucional e representativo que lhes é conferido, nem sempre podem ou devem assumir.

No entanto, creio que aqui a Missão perdeu um bocadinho o pé. Tem havido “falta de consenso” entre os sindicatos? Não dei conta de nada: as principais acções de luta dos últimos anos foram quase todas enquadradas numa plataforma de sindicatos que deixou de fora apenas o STOP e dois ou três pequenos sindicatos. O STOP desenvolveu, pelas razões que sabemos e que eles próprios poderão explicar melhor que ninguém, uma estratégia própria, que deu também os seus frutos, como é geralmente reconhecido.

Se todos os sindicatos assumem, de um modo geral, a mesma agenda reivindicativa e mesmo não havendo sempre unidade há geralmente convergência nas acções, de onde vem o problema da “falta de organização”? Será das mesas negociais separadas e do que nesse contexto se poderá congeminar? Bom, aqui cumpre relembrar que quem define o calendário e marca as reuniões negociais é o ministério, nunca os sindicatos. O mesmo vale quanto à insinuação do “divididos e a arrastar”: o que se pretende afinal? Que os sindicatos assinem de cruz a primeira proposta ministerial que lhes chegar às mãos, para não “arrastar”? Ou voltamos à velha teoria do “murro na mesa”: os sindicatos impõem-se, falam grosso ao ministro e este, assustado, decreta sem mais delongas o que os professores pretendem?…

A nova legislatura ainda mal começou e ninguém sabe quanto tempo irá durar. Mas talvez seja já altura, entre os professores, de um ponto de ordem à mesa. Quem governa não são os sindicatos. É o Governo, e só ele pode decretar as melhorias na carreira, nos salários ou nas condições de trabalho que os professores reclamam. Um governo PSD não é automaticamente mais amigo dos professores ou dos trabalhadores em geral do que um do PS. Agora e sempre, tudo o que os professores vierem ou não a alcançar dependerá da sua determinação e consistência na luta pelos seus direitos e aspirações, bem como, igualmente importante, da conjuntura económica, social e política mais ou menos favorável à concretização dos seus objectivos. Essencial é manter o foco, a união e a pressão sobre quem governa, não desperdiçando energias em tricas que só podem alimentar a desconfiança e o divisionismo.

1 thoughts on “E a culpa é (deixem-me adivinhar…)

  1. Fenprof: Reunião com o MECI dia 3 de maio, 8.30, segue-se a FNE 10.15h. A partir das 12h SIPE – ASPL – STOP e outros sindicatos serão recebidos pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI). E numa manhã despacham os dirigentes todos.

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