A escola do século XIX em imagens – IX

Nicolay Bogdanov-Belsky, Cálculo mental na escola pública (1895)

Esta interessante pintura russa retrata, de modo pouco habitual, a sala de aula: em vez de alunos alinhados nas suas carteiras, eles aglomeram-se, pensativos, em torno do quadro preto e da figura tutelar do professor. O que fazem? Tentam resolver, mentalmente, um problema matemático que o professor lhes colocou.

Esclareça-se antes de mais que este docente não corresponde à figura convencional do mestre-escola em actividade nas escolas rurais oitocentistas. Trata-se de Sergey Rachinsky, um professor universitário de Botânica que a dada altura largou a vida académica em Moscovo para se tornar professor numa pequena cidade. Onde não se limitava, como aqui se vê, a “dar a matéria”, mas se empenhava, através de desafios colocados aos seus alunos, em fazê-los pensar.

Além desta mensagem clara que a pintura transmite – a escola pública deve desafiar os alunos, retirando-os da zona de conforto do facilitismo e da falta de exigência, exigindo-lhes esforço para aprender e colocando-lhes desafios que os façam desenvolver todo o seu potencial – há uma outra ideia pertinente que, quando a diminuição das qualificações exigidas para dar aulas está na ordem do dia, é importante salientar: o professor não precisa de saber apenas a matéria que ensina aos alunos. A sua preparação deve ser bem mais vasta e abrangente. A qualidade da formação científica e pedagógica dos professores é, mais do que avaliações do desempenho burocráticas e vexatórias, a melhor garantia que podemos ter em relação à qualidade da escola pública.

3 thoughts on “A escola do século XIX em imagens – IX

  1. Delicioso, caro A. Duarte!

    Bem-haja por nos ter brindado com esta magnífica série de publicações intitulada ” A escola do século xix em imagens”.
    A História; a “força” da pintura enquanto valor documental; os textos: clareza, rigor e profundidade a rodos (já estamos habituados …). Que mais poderei dizer?
    Esta última tocou-me especialmente . Saudades…

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  2. Oh amigo António, isso de pensar gasta o cérebro e atrofia os poucos neurónios ainda activos de certa petizada. O que está a dar é os jogos virtuais, consolas e outros gadgets que, esses sim, estimulam correrias entre obstáculos e dão para aprender bué de cenas avançadas. As grandes corporações e plataformas (Big 5) agradecem reconhecidamente.

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