Escolas atoladas em burocracia, elevados níveis de stress, burnout e baixas por doença entre o pessoal docente, falta de professores, turmas numerosas, facilitismo avaliativo e problemas sérios, como o absentismo escolar e a indisciplina, varridos para debaixo do tapete, enquanto se martelam estatísticas e se superam, no papel, os objectivos predefinidos.
Claro que, em vez de um retrato real do que se passa nas escolas portuguesas – e é evidente que existem aqui muitas nuances, sendo que as que melhor trabalham são, regra geral, as que melhor conseguem fintar os desmandos ministeriais – a equipa que acompanha a implantação de flexibilidade curricular e dos planos de inovação prefere fingir que vivemos no melhor dos mundos educativos. Ao longo das cem páginas do relatório agora publicado, escrito naquele eduquês cediço e intragável, o tom é o do auto-elogio, da reprodução acrítica e obsessiva dos chavões ocos e enganadores a que se resume a política deste ministério: autonomia, quando nunca houve tanto controleirismo da parte da tutela; flexibilidade curricular, eufemismo para desmantelamento do currículo e desvalorização dos saberes disciplinares; inovação, para designar a reciclagem das velhas práticas pedagógicas, datadas e ineficazes, dos mestres de Boston.
Como professor básico e secundário, um ser imperfeito que às vezes se engana e muitas vezes tem dúvidas, o que sempre me impressiona neste tipo de documentos são as certezas dos seus autores. Não há ali uma perplexidade, uma interrogação, uma dúvida em relação ao que andam a fazer. Eles que tanto questionam, nas “reuniões de rede”, o trabalho das escolas, não se mostram capazes, por uma vez que seja, de fazer uma avaliação honesta do seu próprio trabalho, que no fundo se resume a uma função muito pouco abonatória: a de comissários políticos do SE Costa. Avaliação excelente, vaticina o Paulo Guinote, ao que eu acrescento: para todos, que quotas avaliativas são só para os professorzecos “avessos à mudança”.