A indisciplina conta

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É uma das leituras que se pode fazer do PISA 2018: os professores portugueses perdem demasiado tempo a pôr ordem na sala de aula, a advertir alunos mal comportados, a interromper as aulas para resolver problemas disciplinares. Sem surpresa, nota-se que quando professores e alunos trabalham em contextos mais propícios à aprendizagem os resultados escolares são substancialmente melhores.

Mais de metade dos alunos portugueses (53,5%) assumem não ouvir o que os professores lhes dizem em algumas aulas e cerca de um quinto em muitas aulas.

Quase um terço (30%) queixa-se que os professores, em muitas (19,6%) ou em todas as aulas (8,7%), demoram muito tempo até conseguirem acalmar a turma. No PISA (Programa de Avaliação Internacional de Alunos) 2018, Portugal acompanha a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) em Leitura, Matemática e Ciências (que desce relativamente a 2015). Mas a indisciplina e os contextos socioeconómicos puxam os resultados para baixo.

Na avaliação à Leitura, os alunos que se queixaram de ter sempre barulho e indisciplina nas aulas tiveram menos 17 pontos do que os que garantem não ter indisciplina a perturbar as aulas. Mais de 15% dizem mesmo que não conseguem trabalhar em muitas ou quase todas as aulas de línguas. Turcos, espanhóis, mexicanos, israelitas ou italianos queixam-se mais da indisciplina.

Os portugueses também faltam mais e chegam mais vezes atrasados às aulas: em média, na OCDE, 21% dos alunos assumiram faltar um dia às aulas e 48% chegaram tarde à escola nas duas semanas que antecederam o PISA; em Portugal, foram 28% e 50%, respetivamente. Mas estes comportamentos têm um impacto menor nos resultados, já que os que chegam tarde têm apenas menos cinco pontos a Leitura do que os restantes.

Outra ideia que foge ao consenso politicamente dominante e que a notícia do JN destaca: apesar de o contexto sócio-económico condicionar o sucesso dos alunos e ser, estatisticamente, um forte preditor do insucesso escolar, a verdade é que não é absolutamente determinante. Os alunos oriundos de meios desfavorecidos não estão condenados ao fracasso escolar, como o demonstram aqueles que, estando nesta condição, atingiram resultados de topo nos testes da OCDE.

O contexto socioeconómico pesa nas aprendizagens. Em Portugal, os alunos desfavorecidos tiveram resultados inferiores em 95 pontos. Em 2009, essa diferença era de 87 pontos. Ainda assim, 10% desses alunos conseguiram atingir os níveis mais elevados dos testes, sendo a média da OCDE de 11%.

Os níveis de resiliência confirmam que “a desvantagem não é um fado”, conclui a OCDE. Em Portugal, a percentagem de alunos desfavorecidos em escolas com contextos favorecidos é superior à média da OCDE: 22% têm hipótese de se matricular em estabelecimentos frequentados por alunos que atingem níveis mais elevados (a média da OCDE é de 17%).

Para estes alunos, o caminho não é o do facilitismo que, retirando obstáculos e aplanando o caminho, limita horizontes e rouba oportunidades. Tem de ser o de um ensino exigente e estimulante que possa levar estes alunos até onde o seu esforço e as suas capacidades lhes permitirem chegar.

O determinismo manifesta-se nas expectativas dos alunos: um em quatro dos desfavorecidos, resilientes com bons resultados, não espera concluir o Superior. Entre os alunos com melhor desempenho, de contextos favorecidos, é um entre 30.

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