Embora não concorde com tudo o que diz e discorde de quase tudo o que fez enquanto ministro da Educação, respeito em Nuno Crato o intelectual com um pensamento próprio, estruturado e nalguns pontos polémico sobre Educação. Já escrevia e debatia sobre temas educativos muito antes de ser ministro, e deixando de o ser, continua a fazê-lo. O que é de registar e saudar.
E – um ponto a seu favor – não tem medo da polémica nem dos consensos politicamente correctos. António Guterres, na cerimónia recente de atribuição do doutoramento honoris causa pela Universidade de Lisboa, enfatizou a importância de um ensino menos formal e da aprendizagem ao longo da vida, valorizando o “aprender a aprender” em detrimento dos conhecimentos que se aprendem nas escolas e nas universidades e que rapidamente se mostram inúteis e ultrapassados. Crato, obviamente, discorda. E pergunta:
Em boa verdade, o conhecimento conta. E dou razão a Nuno Crato: embora o discurso de Guterres tenha sido de circunstância, redondo e generalista, como aliás é seu timbre, não me parece que tenha sido feliz na formulação que encontrou. Antes de “aprender a aprender” é preciso primeiro aprender alguma coisa que sirva de base a essa “permanente procura do conhecimento” em tempos invocada por outro ilustre autodidacta, Miguel Relvas de seu nome. O raciocínio lógico e abstracto, o pensamento crítico e criativo e outras “capacidades” e “competências” hoje em dia muito gabadas não se desenvolvem a partir do nada: são precisos conhecimentos de base, vocabulário e outras ferramentas cognitivas para as conseguir utilizar e desenvolver.
Quanto à obsolescência do conhecimento escolar: ela ocorre mais facilmente com as aprendizagens “flexíveis” que agora se pretende estimular do que com o conhecimento disciplinar sólido e estruturado do ensino tradicional. Nuno Crato dá o exemplo feliz das coisas que se aprendiam quando se começou a dizer, dos computadores, que seriam o futuro: quem conhece hoje os comandos do MS-DOS, as teclas de atalho do WordPerfect ou a programação BASIC, tudo coisas que faziam furor no final dos anos 80?…
Em contrapartida, dominar uma língua estrangeira ou ter boas bases de Matemática, conhecer e compreender o essencial da História e da Geografia de Portugal, entender no fundamental a teoria da evolução de Darwin ou a relatividade de Einstein, não são conhecimentos inúteis nem ficarão certamente ultrapassados nas próximas décadas. São conteúdos sólidos e concretos que não só enriquecem os jovens que os têm como lhes permitem, esses sim, partir para novas aprendizagens.
Outra praga equivalente, é a frase feita das aulas expositivas vs, aulas vivas em que o aluno procura o conhecimento.
Quem se lembra das “aulas expositivas” do Leonard Bernstein, do Carl Sagan, do José Hermano Saraiva ou do António Vitorino de Almeida, não pode deixar d sorrir perante estas nomenclaturas de agora,
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Não consigo situar-me, assim, nesta bipolarização de “conhecimentos” vs “aprender a aprender”.
E o que nos cansa é esta bipolarização surgir de x em x anos.
Guterres não se exprime bem e repete generalidades em que,provavelmente, nem acreditará.
E Crato entra em demagogia com os exemplos que dá. Como sempre.
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Peço desculpa pelo reparo, nunosousa, mas os “do” que precedem o nome das individualidades que cita devem se substituídos por um, neste caso, bem mais polido e civilizado “de”. Mesmo que fossem seus irmãos…
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…ou de um Vitorino Nemésio.
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Ouvir uma pessoa que sabe do assunto, como deve ser o caso de qualquer professor a expor matéria da sua área disciplinar, é uma das formas mais eficazes de aprender.
Para aprender fazendo “pesquisas” na net, e presumindo que o sabemos fazer bem, o que não é o caso da maioria dos alunos, nem precisaríamos de ir à escola. E a aprendizagem seria muito mais lenta e sujeita a erros.
Mas também concordo com a Fernanda em evitar esta dicotomia entre um ensino altamente directivo ou completamente construtivista. O ideal é que, à medida que se vão adquirindo conhecimentos básicos, se vão criando oportunidades para a sua aplicação a novas situações.
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