E@D no primeiro ciclo com duas línguas estrangeiras, Inglês e… Mandarim?
Como se vê pelo horário reproduzido no blogue Primeiro Ciclo, a autonomia das escolas dá para tudo…
E@D no primeiro ciclo com duas línguas estrangeiras, Inglês e… Mandarim?
Como se vê pelo horário reproduzido no blogue Primeiro Ciclo, a autonomia das escolas dá para tudo…
E fim dos exames nacionais, bué difíceis!
Na “semana de luta” que hoje se inicia reclama-se contra a falta de tempo livre, aparentemente contrariando o desígnio de sucessivos governos de garantir aos alunos a escola a tempo inteiro.
Percebe-se a ideia dos miúdos, mesmo daqueles que estão ainda no 2.º ciclo: querem mais tempo para poderem fazer aquilo de que mais gostam, sem estarem confinados às paredes da sala de aula.
A questão é saber o que se pretende da educação escolar das novas gerações. Ninguém quer maltratar crianças, mas será que pretendemos criá-las no ambiente hedonista de só fazerem o que querem ou o que lhes ditam os seus impulsos do momento? Não há lugar para o esforço, a recompensa não imediata, a persistência, a resiliência, na escola do século XXI?
E se é mesmo excessivo o tempo que os alunos passam na escola, o que deve então mudar? Reduzir-se ainda mais o estudo das disciplinas estruturantes, o tal “saber enciclopédico” que alguma pedagogia ministerial tem vindo a desprezar? Ou reforçar precisamente a aquisição dos conhecimentos e o desenvolvimento das competências que não se obtêm na internet nem no recreio escolar?…
Eis uma notícia que quase faria sentido, não vivêssemos nós no país onde se ganham eleições a prometer “escola a tempo inteiro”. Onde se confunde quantidade com qualidade e se estica o horário escolar – e também o pré-escolar – para o tornar compatível com a reduzida disponibilidade de tempo que os pais têm para estar com os filhos.
A realidade é que temos das mais longas jornadas de trabalho e uma desregulação de horários em actividades como o comércio e alguns serviços que não encontra paralelo noutros países europeus. Mas a discussão dos horários de trabalho continua a ser tabu. Foi significativo o coro de protestos que a reposição das 35 horas na função pública levantou, não para exigir idêntico benefício para o sector privado, mas para reclamar o nivelamento por baixo, nas 40 horas, para todos os trabalhadores.
Por outro lado, nas áreas metropolitanas continua-se a consumir demasiado tempo nas deslocações casa/trabalho, tempo esse que é roubado ao descanso e ao convívio familiar. O desordenamento do território e os fenómenos de gentrificação nas grandes cidades agravam o problema e dificultam a sua resolução. As pausas prolongadas para almoço, ainda comuns nalgumas actividades profissionais, contribuem também para atrasar a hora de saída dos empregos.
Os baixos rendimentos da maioria dos trabalhadores condicionam igualmente as opções familiares, obrigando a que pai e mãe trabalhem a tempo inteiro, não havendo folga financeira para adoptar soluções, comuns noutros países desenvolvidos, como o trabalho em part-time ou as licenças parentais por períodos mais alargados.
Tudo isto redunda em claro prejuízo para as crianças. Por muito boa que seja a creche, infantário ou escola que frequentam, o facto é que nada substitui a presença dos pais e de outros familiares próximos, nem os estímulos que o convívio familiar traz ao desenvolvimento intelectual e emocional dos mais pequenos. Sendo algo que já se sabe há muito tempo, está mais do que na altura de se passar da fase dos “estudos” para a da resolução do problema…
A ideia é recorrente: os alunos portugueses têm demasiadas férias. E as estatísticas internacionais parecem confirmá-lo, embora a leitura apressada dos dados comparativos tenda a dar uma dimensão exagerada ao fenómeno. A verdade é que os alunos europeus têm em média, no equivalente ao nosso 1.º ciclo, cerca de 180 dias de aulas por ano; em Portugal andam à volta de 170. Uma redução pouco significativa, que é depois largamente compensada por um horário escolar mais intensivo.
Mais do que a duração ligeiramente menor do ano lectivo, o que contrasta nas comparações internacionais é o desequilíbrio do ano escolar: três meses de férias no Verão e poucas pausas ao longo do ano, distribuídas de acordo com o calendário religioso e não de acordo com critérios pedagógicos. Contudo, se analisarmos melhor, verificamos que há um padrão europeu que tende a manter-se: nos países do sul, os verões quentes – e a falta de ar condicionado nas escolas – impõem o alargamento das férias grandes, enquanto os climas mais setentrionais convidam a começar mais cedo o ano lectivo, antecipando pausas mais frequentes e prolongadas das aulas durante o Outono e o Inverno.
As originalidades portuguesas, no que a horários e calendários escolares diz respeito, encontram-se por isso a outros níveis. Um deles tem a ver com a duração excessiva da época de exames: entre o fim antecipado das aulas, para permitir que os alunos se preparem, e a saída dos últimos resultados, decorrem cerca de dois meses. Nas estatísticas internacionais, Portugal é o único país onde se refere o calendário de exames como uma condicionante da duração do ano lectivo. E é também aquele em que há uma diferença maior entre os três meses de férias dos alunos e o reduzido período em que os professores conseguem tirar férias, depois de concluída toda a burocracia escolar.
Outra originalidade portuguesa, essa referida na peça do Público, tem a ver com o número excessivo de horas que os nossos alunos, sobretudo no 1.º ciclo, passam na escola. É a famosa “escola a tempo inteiro” dos tempos socratinos. Uma overdose escolar, na qual a quantidade (de tempo) se sobrepõe à qualidade (das aprendizagens).
O pressuposto é que os estudantes de palmo e meio devam estar tanto tempo na escola como o que os seus pais passam no emprego. Em vez de reformar e melhorar a sociedade – neste caso, encurtar e flexibilizar os horários de trabalho, para que os pais possam estar mais tempo com os filhos – o socialismo do século XXI insiste em construir, a partir da escola, respostas universais aos problemas sociais.
Quem olhar para as novas matrizes curriculares definidas pelo Decreto-Lei n.º 55/2018 constata facilmente que, daqui em diante, será complicado manter os tempos lectivos de 45 e 90 minutos que ainda subsistem na maioria das escolas básicas portuguesas.
Como a distribuição do tempo para as diversas disciplinas e áreas disciplinares é sempre feito em múltiplos de 50 minutos, torna-se lógico, e quase inevitável, adoptar este módulo de tempo na organização da mancha horária das escolas. Claro que, com as autonomias e flexibilidades em que o novo decreto é pródigo, será sempre possível manter as aulas de 90 minutos. Mas é complicar ainda mais o processo de lançamento do ano lectivo que, com o novo modelo curricular já é, de sua natureza, complicado.
Curiosamente, as aulas de 90 minutos foram criadas também por um ME socialista onde pontificava, na altura, a SE Ana Benavente. Voluntariosa, tal como agora João Costa, também ela quis deixar a sua marca no sistema educativo. E achou que obrigar os professores a dar longas aulas de 90 minutos seria a forma mais expedita de os levar a abandonar o ensino “expositivo” e a adoptar pedagogias mais dinâmicas e flexíveis. Pois é novamente o PS que, ao mesmo tempo que recupera grande parte do legado benaventista – de resultados modestos e hoje científica e pedagogicamente ultrapassado – abre também a cova onde se sepultarão as detestadas aulas de 90 minutos.
Contudo, se quase toda a gente rejubila com o fim das aulas demasiado longas, falta referir a parte menos boa da passagem dos 45 aos tempos de 50 minutos: são as contas de sumir, que se tornam inevitáveis por se manter inalterada a carga lectiva semanal dos alunos. Mais concretamente, há em média três tempos lectivos que se perdem, em cada ano de escolaridade, com as aulas de 50 minutos, o que também já era, no modelo anterior, a principal razão para a resistência à mudança em tantas escolas e agrupamentos: é que há óbvios ganhadores e perdedores de tempo neste processo…
Ficam as principais matrizes, e um convite aos leitores: vejam a que disciplinas serão retirados os três tempos lectivos que são absorvidos pela nova organização curricular. Mais do que a retórica governamental, este simples exercício é surpreendentemente revelador do que é prioritário – ou não – para esta equipa ministerial.
Pergunta, desconfiado, Manuel Carvalho, no Editorial do Público.
E até reconhece haver boas razões para a diminuição da carga horária, que tem sido considerada excessiva, dos alunos do 1º ciclo: os miúdos precisam de tempo para brincar, e mais importante do que o número de horas que se passa nas aulas são a organização do tempo e a adequação das aprendizagens. Mas depois não resiste à tentação da demagogia anti-sindical, rematando com uma tirada, pensará ele, de efeito garantido:
Ora bem, se o editorialista tem dificuldade em dar com a resposta, eu explico-lhe porque é que a contagem desta meia hora foi devolvida aos professores do 1º ciclo: porque a sua retirada, por Nuno Crato, foi ilegal. As pausas laborais criadas por necessidades do próprio serviço ou do trabalhador, em que o este permanece no local de trabalho, podendo ser chamado ao serviço em caso de necessidade, são, segundo o artigo 197º do Código do Trabalho, tempo de trabalho efectivo.
Tal como o jornalista, de cada vez que se levanta da secretária para ir à casa de banho, ou tomar um café, ou fumar um cigarro, não desconta esse tempo da sua jornada laboral, também aos professores não se devem descontar os intervalos que são imprescindíveis na sua profissão e necessários, aos professores e, ainda mais, aos seus alunos.
As pausas laborais são um direito dos trabalhadores. Um direito, Manuel Carvalho. Ainda sabe o que isso é?…
Os trinta minutos suplementares de brincadeira diária que os alunos do 1º ciclo ganharão, a partir do próximo ano lectivo, foram ontem destacados na maior parte da imprensa.
Os representantes dos pais não se opõem à medida que, nunca é demais salientar, é inteiramente justa para os professores do 1º ciclo que, como quaisquer outros trabalhadores, devem ter direito às pausas laborais legalmente previstas e integradas no horário de trabalho.
Mas, compreensivelmente, os pais não abdicam de exigir a adequada vigilância dos recreios enquanto as crianças brincam. E não querem que a escola feche mais cedo por causa da “brincadeira”. Pelo que a solução mais consensual parece ser, por isso mesmo, o alargamento do período de almoço.
Talvez seja um tema adequado para reflexão pascal…
O CNE acaba de publicar mais um dos seus habituais “estudos”, que basicamente consistem na elaboração de análises comparativas da educação portuguesa com a dos outros países, a partir dos volumes estatísticos da OCDE e do Eurydice.
Desta vez, e a propósito da organização do tempo lectivo, relembram-nos que temos uma carga horária excessiva no 1º CEB, que diminui nos últimos anos de escolaridade, ao contrário da tendência internacional. Que os alunos passam demasiado tempo na sala de aula e que há alguns desequilíbrios curriculares, nomeadamente no peso excessivo da Matemática nos primeiros anos de escolaridade.
Claro que não é por razões pedagógicas que estas coisas sucedem, pelo que conviria explicar os motivos dos diversos desequilíbrios encontrados. Coisa que não fazem, pois teriam de olhar directamente para a realidade portuguesa e pôr a nu as opções políticas do centrão educativo, uma vez que nada disto é explicado nos relatórios internacionais: os alunos têm mais aulas no 1º CEB porque aqui se torna mais fácil sobrecarregar de trabalho dos professores deste nível de ensino e continuar a explorar a mão-de-obra barata constituída pelo lumpen-professorado das AEC.
Também há cargas horárias mais elevadas nos cursos profissionais, pois como são maioritariamente financiados por fundos europeus, o acréscimo de horas lectivas tem custos reduzidos para o ME. E no tempo de Nuno Crato o 12º viu ainda mais reduzida a carga horária, a pretexto de ser ano terminal. Mas a verdadeira razão foi a de realizar poupanças orçamentais retirando uma das disciplinas opcionais e dispensando assim uns milhares de professores.
Há, contudo, um ponto focado no relatório do CNE que gostaria de destacar:
Ainda bem que se começa a falar, nos relatórios oficiais, e não apenas nas salas de professores, das aulas de 90 minutos, um dos maiores erros da política educativa das últimas décadas, uma criação do tempo de Marçal Grilo e da sua secretária de Estado Ana Benavente, inventadas com o objectivo de “obrigar” os professores a alterarem supostas más práticas pedagógicas, passando a dar aulas menos expositivas e mais participativas. Não resulta na maioria das disciplinas, mas a possibilidade, criada com Nuno Crato, de voltar às matrizes de 50 minutos não foi aproveitada pela maioria das escolas do ensino básico porque se constatou que iria gerar matrizes curriculares ainda mais desequilibradas. Também se nota, e nisso o relatório acerta em cheio, que as escolas se acomodam às vantagens dos “blocos” na organização dos horários e raramente partem um bloco de 90 em dois de 45 minutos, mesmo quando há evidentes vantagens pedagógicas em fazê-lo.
Uma reorganização curricular baseada em aulas de 50 minutos e com um maior equilíbrio entre as diferentes disciplinas e áreas disciplinares: não é fácil mas, isto sim, valeria a pena tentar.
O Público continua a seguir a agenda mediática da Fundação Manuel dos Santos sobre o tema Educação. Na conferência de hoje, com direito a almoço para os jornalistas conversos, foram anunciados os resultados de mais uns estudos que vieram concluir algo que estamos cansados de saber, mas que custa a entrar nas cabeças dos fazedores de consensos sobre política educativa: que nos mega-agrupamentos há mais insucesso escolar do que nas escolas não agrupadas ou até nos agrupamentos mais pequenos.
As razões são evidentes: ao retirar autonomia de gestão à maior parte dos estabelecimentos, concentrando-a na escola-sede, acaba-se com a diversidade de projectos educativos e com a capacidade de cada escola gerir a sua própria dinâmica, mobilizando recursos e construindo respostas adequadas aos problemas e desafios que vão surgindo no quotidiano escolar. Obviamente, quando a coordenação de um estabelecimento se resume a um punhado de horas semanais, gastos essencialmente em tarefas administrativas, e o resto é comandado à distância a partir da sede de agrupamento, a gestão pedagógica digna desse nome deixa de existir. E quanto maiores os agrupamentos, piores os resultados.
Não poderia também faltar, espírito dos tempos oblige, mais um estudo a demonstrar, pela enésima vez, as desvantagens das retenções: segundo os investigadores, a maioria dos alunos não ganham nada em reprovar, e mesmo os poucos que beneficiam algo ficam com um atraso nas suas aprendizagens relativamente aos que foram passando de ano. Enfim, um tema cuja discussão me motiva cada vez menos, pois se não há actualmente um único cientista ou político da área da educação que se atreva a defender as retenções, continuo à espera da legislação que, coerentemente, imponha o seu fim. Se não o fazem, então talvez beneficiássemos de ter jornalistas menos interessados em almoçar com os lobbistas da educação e mais empenhados em confrontar os influentes e os decisores no sector com as suas próprias incoerências e contradições.
O que acabou por me interessar mais foram algumas intervenções no espaço de comentários do jornal, nomeadamente denunciando uma situação que, mais do que potenciadora de insucesso escolar, é um verdadeiro atentado ao direito de todas as crianças a uma educação de qualidade. E, como diria o outro, disto ninguém fala!…
É pena que não sejam divulgada a vergonha dos horários duplos no Seixal com crianças do 1º ciclo a entrar às 7h50 (turno da manhã) e a sair às 18h45 (turno da tarde). Mais de 3000 crianças a estudar nestas condições..,. E depois venham falar de igualdade de oportunidades. Uma medida que devia ser excepcional é a norma, pois abrange 56% dos alunos e dura há mais duma década.
Os nossos filhos são forçados a ter 5 horas de aula seguidas, apenas com 20 minutos de intervalo para comer e ir à casa de banho. Não há atenção que resista… Pelo mesmo motivo (falta de salas de aula), as AEC são dadas em vestiários e refeitórios. Depois a componente de apoio à família: não é comparticipada, são muitas horas até os pais chegarem. Repito: não é comparticipada, ao contrário dos outros concelhos; as CAF das associações de pais atingem valores de mais de 100 euros mensais, pelo que um filho na escola pública no Seixal paga mais de CAF do que as propinas do ensino superior!!!!! Convido desde já o Público e outros media a virem conhecer o verdadeiro Seixal…
Não é garantido que sirvam almoço, mas se fosse jornalista do Público aceitava o convite…