Faltam professores no Parque das Nações

ebvg_1_1024_2500.pngHá uma escola no Parque das Nações em Lisboa que não tem professores quase dois meses depois do início do ano lectivo. Os pais cansados de esperar decidiram eles próprios resolver o problema. Assim, a partir de agora vão ser os próprios pais a dar as aulas de inglês ou físico-química aos filhos e a todos os outros alunos.

A falta de professores para substituições temporárias é um problema cada vez mais frequente em escolas de todo o país. E cada vez mais difícil de disfarçar.

Claro que quando são os filhos da classe média-alta residente no Parque das Nações a ficar sem professores e sem aulas, a situação adquire um mediatismo que nunca tem quando acontece com as crianças de uma qualquer vila ou aldeia do interior.

A verdade é que o “exército de reserva” formado por milhares de professores qualificados e desempregados, a aguardar pacientemente por uma colocação, tende a desaparecer. Há cada vez menos candidatos à docência, e muitos dos que ainda não desistiram de ser professores também já não o querem ser a qualquer preço.

O voluntariado que alguns pais preocupados se propõem fazer na escola, leccionando disciplinas em que se sentem mais à vontade, lembra-nos dos tempos, ainda não tão distantes assim, em que muitos professores provisórios, como então se dizia, pouco mais habilitações tinham do que os alunos que ensinavam. Professores com o 12.º ano a leccionar o 3º ciclo, ou estudantes universitários a fazer uma perninha nas aulas do secundário, eram uma realidade comum, sobretudo fora dos grandes centros.

Nos nossos dias, mesmo as escolas de zonas centrais da capital não escapam à falta pontual de alguns professores. Uma consequência de vários factores, como é referido na notícia. Mas há uma realidade que é incontornável: o preço proibitivo dos alojamentos em Lisboa está a condicionar a mobilidade de docentes de outras zonas do país.

Evidentemente, a dificuldade de colocação de professores a meio do ano lectivo é apenas um sintoma de um problema de fundo para o qual não há soluções fáceis: o aumento das baixas por doença, grande parte delas prolongadas, que infelizmente afectam um número crescente de professores. Para resolver uma crise que, com a passagem do tempo, só tenderá a agravar, há pelo menos três campos em que se deveria pensar e actuar seriamente:

  • Alargar os quadros das escolas, aproximando-os das necessidades reais, promovendo a fixação e a estabilidade dos professores:
  • Rejuvenescer o corpo docente, permitindo a saída digna, sem penalizações, dos professores mais desgastados e com mais tempo de serviço;
  • Tornar a carreira e a profissão docente mais atractiva para os jovens professores, o que passa não só por atrair bons estudantes e vocações docentes para a profissão, também por dignificar a forma como são tratados os professores há mais tempo no sistema.

Lamentavelmente, já se percebeu tudo isto terá de esperar. Mais preocupado com a  implantação de uma pseudo-reforma educativa para OCDE ver, do que com as verdadeiras necessidades do nosso sistema educativo, o actual ME não parece minimamente sensibilizado para os problemas da profissão docente.

6 thoughts on “Faltam professores no Parque das Nações

  1. Surpreendente a súbita escassez de professores. Ou talvez não.
    Se olharmos para o número de colocações – Dearlindo já fez a contagem – que figuram nas semanais RR, verificamos que a quase totalidade são “temporárias”. Sendo assim, julgo não ser abusivo adiantar a razão : baixas médicas.
    Formalmente doentes ou temporariamente incapacitados, teremos de colocar a pergunta : qual a origem desta epidemia que afecta a classe docente? Não descartando uma ou outra simulação, julgo ser a exaustão provocada pela indisciplina escolar e pela estúpida pressão a que estão sujeitos na escola. Ataquem-se estes 2 problemas que acabo de enunciar e veremos a situação inverter-se. E como minorar aqueles dois problemas ? Quanto ao 1º – reveja-se o permissivo ( que tudo consente e desculpa) Estatuto do aluno;Quanto ao 2º – combata-se o stress e o clima desmotivador que se instalou nas escolas, pelas razões conhecidas. Sei que não é fácil , mas com 14 horas semanais e um ambiente sereno, não será tanto a idade que “atrapalha”. Digo-o por experiência , se bem que os tempos são outros.

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    • Claro que quando metade dos professores actuais têm 50 anos ou mais, é natural e previsível que a prevalência de doenças físicas seja muito superior ao que sucedia quando andávamos quase todos pelos vintes e trintas…

      Feita esta ressalva, também me parece que uma elevada percentagem das baixas são originadas por depressões, burnout e outras doenças e perturbações mentais, induzidas ou agravadas pelo exercício da profissão. Há também aquelas situações de alguma incapacidade física que a indisciplina, o excesso de trabalho, as relações tóxicas promovidas por algumas direcções prepotentes tornam insuportáveis, obrigando ao recurso à baixa médica.

      Claro que interessaria termos informação objectiva e quantificada sobre estas matérias, mas obviamente nem a condição física e mental dos professores nem a prevalência da indisciplina interessam ao ME.

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  2. 14 horas semanais?! Tenho 54 anos, 32 de serviço e 26 horas marcadas no horário (aulas de apoio também cansam, bem como o trabalho burocrático da direção de turma). E mais uma série de reuniões extra.
    Os nossos sindicatos foram permitindo que o horário docente se tornasse numa teia confusa e exploradora do nosso tempo. No início da carreira, tinha um horário menos pesado do que agora. E só quem passa pela experiência é que compreende como é tão mais desgastante passar uma hora em sala de aula do que três ou quatro numa secretária.
    Somos sugados até ao tutano, daí tanta gente a cair.

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    • Expliquei-me mal , caríssima colega . Quando referi as 14 horas semanais do horário docente queria dizer que, a partir de uma determinada idade (neste caso 60 ) , esse docente DEVERIA ficar “apenas” com o horário lectivo e ser dispensado de boa parte da “tralha” que refere, essa sim, responsável por muitos males que afectam a classe. Isto se quisermos que um docente consiga transportar a cruz até ao 67…

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  3. Também contribui para esta situação a forma como é feita a colocação dos professores.
    Nos dois anos anteriores entraram muitos professores nos quadros do ME, a maio parte deles na zona de Lisboa.
    O que acontece é que entraram nos quadros mas a mobilidade interna permite que se ponham logo a mexer para outras paragens.
    Concorreram de livre vontade para integrarem os quadros do QZP 7, mas não querem lá por os pés.
    O ME também deveria rever essa situação. Quem pertence a 1 QZP mas não trabalha nele há mais de 2 anos, ou nunca nele trabalhou, deveria ter de dar lá trabalhar no mínimo durante 3 anos, caso contrário seria exonerado daquele quadro.

    Há muitos docentes pertencentes ao QZP7 (Lisboa) que através da mobilidade interna foram para outras zonas, especialmente para o Norte do país. Muitos estão com horários incompletos fora do seu QZP, recebem pelo horário completo e estão nas escolas com o horários completados com horas de treta.

    Não faz sentido abrir vagas para depois as pessoas fugirem da zona que lhes permitiu efetivar.

    Não adianta abrir mais vagas de quadro enquanto não se obrigar as pessoas a trabalhar na zona em que efetivaram pelo menos durante 2 ou 3 anos, no mínimo.

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    • Concordo.

      Os QZPs há muito que subverteram a intenção inicial, que era a existência de uma bolsa de professores que assegurasse necessidades transitórias de professores numa determinada zona.
      Com a extensão que têm actualmente e as facilidades que existem para sair de lá, não faz sentido que continuem a manter-se.

      Na última vez que se mexeu no sistema de concursos perdeu-se uma boa oportunidade para criar um modelo que, sendo mais justo para os professores, permitisse a efectiva fixação e aproximação às residências e a dotação de todas as escolas comum corpo docente estável. Em vez disso, preferiu-se fazer mais uns remendos numa manta já demasiado esburacada…

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