Todos os dias faltam em média 11 mil professores nas escolas
Professores faltam cerca de dois milhões de dias por ano
Cinco mil turmas por dia têm furos no horário por faltas dos professores
Quando se fala novamente, e com demasiada insistência, na recuperação do tempo de serviço dos professores; quando se vai consensualizando a importância de valorizar esta classe profissional, dignificando-a como merece, já se sabe o que esperar: aí está, bem afinado, o coro da campanha negra contra os professores, desta vez na modalidade do “faltam que se fartam!”.
O estudo, pago pela Sonae através do seu tanque-de-pensar dedicado ao sector educativo, área de negócio pela qual a Sonae tem vindo a demonstrar um crescente interesse, foi realizado por investigadores do ISCTE, a universidade do PS, à qual estão ou estiveram ligados a maioria dos decisores que têm inspirado as políticas educativas socialistas. E embora procure caracterizar uma realidade complexa e multifacetada, percebe-se que, para as parangonas da imprensa, o que interessa são os títulos bombásticos que fazem dos professores absentistas, e não do ministério imprevidente, os culpados de todos os dias haver alunos sem aulas. Tal como, para os nazis, tudo o que corria mal na Grande Alemanha era culpa dos judeus, assim também na educação portuguesa, quando as brilhantes ideias dos grandes educadores falham miseravelmente no confronto com a realidade, a culpa, de quem há-de ser? Obviamente, dos professores!
Evitando a demagogia fácil dos professores que faltam que se desunham, a realidade é relativamente simples de compreender, até por uma opinião pública geralmente distraída destas matérias: as pessoas adoecem, por vezes, e quando isso sucede não podem trabalhar, situação que é atestada por um médico. Uma classe docente envelhecida é, pela ordem natural das coisas, mais vulnerável ao absentismo por doença, e esta tende a ser mais demorada a debelar. Trabalhar em escolas que tantas vezes nos adoecem, às ordens de um ministério empenhado em degradar as condições de trabalho dos professores – e em permitir que directores prepotentes o façam – também contribui, e de que maneira, para o aumento das faltas por doença.
Continuar a apostar em horários incompletos, temporários ou dispersos por duas ou mais escolas também não permite atrair docentes desempregados para assegurar de forma precária as substituições dos colegas de baixa, sobretudo quando estes surgem em zonas geograficamente distantes da residência habitual e não são dados quaisquer apoios à deslocação. Insistir na distribuição de serviço lectivo a professores à beira da reforma é igualmente estar a comprar um problema a curto prazo, assim que estes profissionais passarem à merecida aposentação. Achar que, perante isto, alguma responsabilidade ou culpa se pode assacar aos professores, significa o quê? Que devem ir trabalhar, mesmo doentes? Prescindir dos seus direitos à aposentação ou à redução da componente lectiva? Aceitar pagar para trabalhar, vivendo em condições degradantes, longe da família, para daí a dois ou três meses serem sumariamente dispensados?
Evidentemente, o raciocínio está errado: não são os professores que faltam “demasiado”, é o sistema que não está organizado de forma a garantir que os professores ausentes sejam rapidamente substituídos. Para este fim, poderá ser necessário criar uma bolsa de professores substitutos, com vínculo e remuneração permanente, para assegurar necessidades transitórias e permanentes que surjam ao longo do ano. Uma ideia que surge neste estudo, mas nem sequer é original: esteve na base da criação dos quadros de zona pedagógica na década de 90. A contratação, que não fixa professores ao sistema nem dá garantias de celeridade e eficácia na colocação, deveria ser sempre o último recurso e não uma necessidade rotineira a que as carências de profissionais docentes obrigam a recorrer cada vez com mais frequência e com menos sucesso.
Mas isto sai caro, dir-me-ão, e este costuma ser o argumento decisivo para não se fazer o que deve ser feito. Ao que há a contrapor que a falta estrutural de professores, alunos sem aulas meses a fio a algumas disciplinas e os prejuízos, nalguns casos irreversíveis, nas aprendizagens, tudo isto terá, a prazo, um custo bem mais elevado. Como já se disse muitas vezes, se a educação é cara, experimentem a ignorância!…