À partida, também tenho muitas reservas em relação ao facto de um milionário, independentemente da nacionalidade ou profissão, decidir comprar filhos da mesma forma que adquire uma nova mansão ou troca o automóvel topo de gama.
Mas se me custa aceitar que um pai possa privar os filhos de terem uma mãe, também não gosto de condenar, quem assim o decidiu, de forma tão peremptória e definitiva como o fez o conhecido pediatra e cirurgião Gentil Martins.
Vendo as coisas noutra perspectiva, haverá diferença substancial entre um homem que contrata um útero para gerar o seu filho e uma mulher solteira que recorre a um banco de esperma para a sua “produção independente”?
Repugna-me que, tirando partido das necessidades económicas das pessoas, se reduzam mulheres à condição, que me parece aviltante, de barrigas de aluguer. Mas a partir do momento em que é de livre vontade, e conscientes das vantagens económicas que irão obter da situação, que o aceitam fazer, será que temos o direito de as condenar, quando achamos perfeitamente normal o negócio dos bancos de esperma e dos seus fornecedores?
Indo um pouco mais longe, e pegando na expressão infeliz do nosso decano da cirurgia pediátrica: com tão estritos padrões de moralidade, será que ele se atreveria a chamar “estupor moral” ao próprio pai, que nunca reconheceu o primeiro filho que teve, nascido de uma relação extra-conjugal?
Provavelmente não, e não seria só por uma questão de respeito filial. Também porque as mentalidades, e com elas as moralidades, evoluem. E se há cem anos atrás se considerava normal que um homem de condição “superior” seduzisse e engravidasse uma jovem solteira para depois a deixar, abundando por essa altura os “filhos de pai incógnito” nos registos de nascimento, hoje já não se aceita, nem legal nem socialmente, a fuga às responsabilidades paternais. Tal como a Medicina também já não considera, e ainda bem, a homossexualidade como uma doença.
Ainda assim, o filho de mãe solteira de que venho falando fez carreira como indefectível apoiante do Estado Novo e homem de mão de Salazar e da PIDE para as missões mais secretas e delicadas, como a da brigada que assassinou Humberto Delgado. Ou como autor de algumas das raras fotografias de Salazar na intimidade…
Sim, é dele mesmo que estou a falar. O meio-irmão de António Gentil Martins era o inspector da PIDE António Rosa Casaco.
Rosa Casaco.
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Claro, e obrigado pela correcção.
Onde é que eu estava com a cabeça?…
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Olhem, não fazia a mínima ideia.
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