Portugal caiu oito posições no ranking mundial da competitividade 2016-2017, ocupando agora o 46º lugar numa lista com 138 países.
No ano passado, o país já tinha descido duas posições no ranking do Fórum Económico Mundial (WEF) – liderado pela Suíça, Singapura e Estados Unidos – o que o colocava entre as economias desenvolvidas menos competitivas.
As taxas e os impostos continuam a ser o fator mais problemático para os negócios e a primeira preocupação dos empresários.
Tive curiosidade de saber que ranking é esse da competitividade mundial, organizado por uma das organizações que mais activamente promove o neoliberalismo à escala global. E que o PSD tanto valoriza, ao ponto de ter agendado para hoje, no Parlamento, uma discussão em torno da alegada perda de competitividade do país.
A principal conclusão a que cheguei é que aquilo nada tem de científico ou de objectivo. Consiste basicamente num inquérito feito a uma amostra de empresários que avaliam as condições mais ou menos favoráveis, de cada país, para o desenvolvimento dos seus negócios. Estados de alma, portanto. A descida de oito posições de Portugal em relação ao ano passado significa que os empresários inquiridos estão agora menos contentes com as facilidades e oportunidades que Portugal lhes oferece.
E de que se queixam, então, os empreendedores? De que pagam demasiados impostos e taxas. Mas o mais curioso é que esta é uma queixa universal, que surge em primeiro lugar em quase todos os países referenciados, incluindo os que ocupam as posições cimeiras do ranking.
No mundo perfeito que nos é proposto pelo Fórum Económico Mundial, percebe-se então, não haveria pagamentos de impostos, segurança social ou taxas por parte dos empresários criadores de riqueza e de progresso para a humanidade, um favor que nos fazem enquanto engordam as suas contas bancárias.
Penalizam-se então os rendimentos do trabalho, cortam-se pensões e prestações sociais, reduzem-se ao mínimo os apoios e as valências do Estado social. Porque os países que o não fizerem deixam de ser competitivos, deveremos então embarcar todos na inevitabilidade de deixar de taxar os lucros empresariais ou de exigir as necessárias contrapartidas pela utilização ou apropriação de recursos públicos por parte dos investidores privados.
Ora é este dumping fiscal, laboral e social promovido globalmente que agrava as desigualdades sociais e já nem sequer promove, como nos velhos tempos das revoluções industriais, o aumento da riqueza global: pelo contrário, alimenta a especulação financeira e o capitalismo de casino que nunca produziu tantos ricos, mas cada vez cria menos riqueza. E se nos vende bugigangas ao preço da chuva vindas do outro lado do mundo, vai encarecendo os bens alimentares e outros produtos de primeira necessidade, em mercados cada vez mais controlados e manipulados pelas multinacionais e pela grande distribuição.
Mas nada disto interessa aos fóruns internacionais de economia. Muito menos discutir o sentido, que não é nenhum, de tornar mais competitivo um mundo onde a desigualdade e a escassez de recursos obrigam, não à competição entre países, mas à cooperação internacional. Pelo menos se quisermos que um futuro para a humanidade, que conta já perto de 75oo milhões de habitantes à face da Terra, seja ainda possível.
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