Debata-se causas e encontre-se caminhos livres de preconceitos. O mundo mudou e, acima de tudo, é imperativo que os professores reconstruam o ambiente democrático da escola. Use-se o adjectivo para o que é comum e público. Não se receie. A propósito, e como é fundamentada a crítica à falta de debate sobre a transformação da escola a pensar no futuro, a recuperação do clima democrático trará ambição, visão e governo.
E antes do mais, recorra-se a Confúcio. Quando perguntado, por Sima Quan, se era um homem culto e instruído, respondeu: – De modo nenhum, simplesmente descubro o fio da meada.
É nesse sentido que urge partir de quatro eixos – carreira, avaliação, gestão e burocracia – e discutir propostas sustentáveis com um ponto prévio: a carreira implicará investimento e as outras reduzirão despesa.
Fugindo à espuma dos acontecimentos e procurando novos ângulos de abordagem para as polémicas do momento, Paulo Prudêncio analisa os bloqueios desastrosos do poder político à classe docente, que conduziram tanto à sistémica falta de professores como à recente e avassaladora onda de greves e protestos. Para concluir que, se a reabilitação da carreira docente custará sempre mais dinheiro do que manter tudo como está, a resolução deste problema poderá reduzir despesa noutras vertentes, melhorando substancialmente a qualidade do sistema educativo. Contas bem feitas, o país terá muito mais a ganhar do que a perder com a valorização dos seus professores.
Na verdade, uma carreira horizontal, com um pleno desenvolvimento tornado acessível a todos os professores que cumpram zelosamente os seus deveres profissionais, sem quotas, vagas ou outros bloqueios artificiais, permitiria não só reduzir despesa mas também melhorar a qualidade do serviço educativo, as condições de trabalho nas escolas e os níveis de realização pessoal dos professores:
- uma avaliação do desempenho formativa em vez de punitiva, centrada na reflexão crítica e na partilha de boas práticas, em vez do auto-elogio dos relatórios para avaliador ler;
- a recuperação dos princípios da gestão democrática, colegial e participativa e do primado da gestão pedagógica sobre a administrativa, reposicionando a escola, em vez do mega-agrupamento, como unidade de gestão;
- a desburocratização da organização escolar, substituindo a desconfiança sistémica em relação ao trabalho dos professores por uma relação de confiança assente na autonomia pedagógica e científica dos docentes e numa natural prestação de contas sobre o que se ensina e a forma como se avalia quando necessário.
Os bloqueios, as injustiças e a burocracia kafkiana em torno das progressões na carreira docente em Portugal não encontram paralelo nas carreiras profissionais dos países com que gostamos de nos comparar. A perversidade e a imprevisibilidade com que sucessivos governos gerem a profissão afastam da docência as novas gerações. Tal como se encontra organizada, a escola extenua e adoece os professores, a começar pelos mais comprometidos e dedicados. E não teria de ser assim. Será tão difícil entender o óbvio?…