Greve de fome, quarto dia

Mais de uma centena de professores participaram hoje, em Viana do Castelo, numa manifestação de apoio ao colega Luís Sottomaior Braga, que iniciou às 00h00 de terça-feira uma greve de fome em defesa escola Pública.

O docente, que [ontem] recebeu assistência médica por ter sofrido uma quebra de glicemia, saiu da autocaravana onde está a realizar o protesto, instalada junto à escola secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, para agradecer aos colegas, dirigindo-lhes algumas palavras.

Luís Sottomaior Braga recebeu aplausos e palavras de incentivo dos professores que empunhavam um cartaz onde se lia: “Sr Ministro, trate bem os que ainda cá estão. Em coro, entoaram “Não paramos” e “Escola Unida jamais será vencida” e cantaram o hino nacional.

Em declarações aos jornalistas, sentado numa cadeira na tenda de campanha, montada ao lado da autocaravana e de cravo vermelho ao peito, o docente de 51 anos, disse aos jornalistas que está “bem de saúde”, apesar de sentir “algum cansaço”, garantindo que não está a fazer a greve de fome para “correr risco excessivo”.

“Há um objetivo de marcar uma posição, mas há cuidado com a preservação da vida”, frisou.

Questionado sobre se já teve resposta ao apelo que fez na segunda-feira ao Presidente da República para não promulgar a lei dos concursos, o docente afirmou que “não está à espera de um telefonema”, mas que Marcelo Rebelo de Sousa “atue politicamente” para travar o que chamou de “ato extremamente violento” para os professores por representar “uma situação bastante desgraçada”.

“O senhor Presidente até pode ignorar-me que eu ficarei satisfeito se ele der um sinal muito claro se em relação ao diploma dos concursos tem uma posição política clara”, destacou, referindo que não se “sente sozinho”, que tem recebido inúmeras “palavras de apreço e apoio” e que está “é uma luta dos professores que têm de continuar mobilizados para, por uma vez, a educação ser olhada como um problema de futuro, um problema estrutural do país”.

Luís Braga está já no seu quarto dia de greve de fome, em defesa dos direitos e da dignidade dos professores. Uma luta colectiva a que, numa demonstração de invulgar generosidade e determinação, o Luís quis acrescentar este sacrifício pessoal destinado a acrescentar visibilidade à luta. Um objectivo cuja concretização, reconheça-se, está um pouco aquém das expectativas, sendo notória a relutância de alguma comunicação social em dar cobertura a este protesto. As razões podem esboçar-se no plano ético – não encorajar iniciativas que podem pôr em causa a saúde e a vida de quem as promove, um pouco na mesma lógica que leva a não noticiar suicídios – mas cheira-me que os verdadeiros motivos são de outra índole: uma greve deste tipo interpela e responsabiliza os decisores políticos de uma forma que se torna para eles demasiado incómoda, o com a qual os patrões dos media não os querem confrontar.

Quanto à estratégia do grevista da fome e do seu núcleo de apoiantes e acompanhantes, é nítido o foco na figura do Presidente. E é bem pensado: com a via do diálogo esgotada, apenas o veto político de Marcelo Rebelo de Sousa tem a possibilidade de reverter a situação de facto consumado criada com a aprovação da nova e contestada legislação dos concursos.

A terminar, e enquanto professores de todo o país se vão solidarizando com o exemplo de coragem e altruísmo do nosso colega, há uma dúvida que se avoluma: será que o sindicato a que Luís Braga ainda pertence – o STOP – já se solidarizou com a luta do seu associado? O sindicato que vai a todas e que converge com todos, já se manifestou em relação a esta luta? É que até agora ainda não vi ou ouvi nada…

6 thoughts on “Greve de fome, quarto dia

  1. “será que o sindicato a que Luís Braga ainda pertence – o STOP – já se solidarizou com a luta do seu associado? O sindicato que vai a todas e que converge com todos, já se manifestou em relação a esta luta? É que até agora ainda não vi ou ouvi nada…”

    Caro António, este seu comentário parece-me fruto de uma análise enviesada:

    – Nos últimos meses, LSB tem vindo a desenvolver uma campanha assumida e vigorosa, no sentido de denegrir a imagem do STOP, pelas suas alegadas ligações ao MAS que, segundo ele, estavam “escondidas”.

    Supostamente, muito supostamente, por se ter sentido enganado, LSB terá já apresentado a sua demissão do STOP há algum tempo, a acreditar nas suas próprias palavras…

    Portanto, a ligação entre LSB e o STOP terá acabado há já vários meses, pelo menos em termos “afectivos”, o que desmente esta afirmação: “o sindicato a que Luís Braga ainda pertence – o STOP”…

    Perante todos os ataques explícitos de LSB (escritos pelo próprio), dirigidos ao STOP, será legítimo exigir, agora, a esse Sindicato, algum tipo de solidariedade relativa à greve de fome encetada pelo primeiro?

    Hipocrisia e cinismo, dispensam-se, por favor.

    Mesmo que o LSB não se tivesse desvinculado do STOP, seria “obrigatório” ou forçoso que essa estrutura sindical concordasse e apoiasse uma decisão estritamente individual, que apenas diz respeito a quem a escolhe?

    O LSB tem o direito inalienável de optar pela greve de fome, essa é uma decisão individual, cabendo ao próprio assumi-la e pô-la em prática.

    Mas isso não significa que todos sejam “obrigados” a concordar com a sua decisão ou que encontrem nela as virtudes necessárias para a apoiarem ou para demonstrarem a sua solidariedade.

    Pessoalmente, não apoio esta iniciativa de LSB e também tenho o direito inalienável de o fazer.

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    • Cara Paula, tenho acompanhado a questão que opôs o LSB ao STOP o que escrevi baseia-se na presunção de que o LB mantém a sua condição de associado, que na altura assumia e invocava para exigir uma assembleia geral de sócios. Se estivesse desvinculado não o poderia fazer.

      De resto, compreendo que o STOP não se queira associar a esta forma de luta, o que apenas comprova que o radicalismo tem limites e que devemos avaliar bem os possíveis ganhos e os riscos das batalhas em que nos envolvemos. Algo que nem sempre tem sido claro nas posições a nas acções do STOP, sindicato que ainda assim tem o imenso mérito de ter galvanizado a luta dos professores a um ponto a que pouquíssimos julgariam possível.

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      • António, mas que “radicalismo”? Não há sequer nesta iniciativa de LSB qualquer forma de radicalismo, haverá muitas outras coisas, mas não essa…

        “Misturar” o STOP, aproveitando para lhe atirar algumas “farpas”, com esta iniciativa de LSB não me parece legítimo…

        Se existem motivos, teçam-se critícas negativas/elogios ao STOP;

        Se existem motivos, teçam critícas negativas/elogios ao LSB;

        Mas aproveitar um (LSB) para criticar o outro (STOP), ainda que de forma ligeiramente velada, não me parece válido.

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        • Radicalismo apenas no sentido de ser a greve de fome a greve mais radical que pode haver.

          No resto, compreendo e respeito o ponto de vista, e da minha parte não há qualquer intuito de alimentar picardias estéreis, apenas sublinhar que cada um escolhe as suas lutas e torna-se, obviamente, responsável por elas. As convergências têm limites…

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