Acabar com os off-shores

color-offshore-tax-cht[1].jpgOs offshores são, antes de tudo, do crime, da lavagem de dinheiro, da fuga ao fisco, uma questão que significa para as democracias a perda de um princípio básico — o de que o poder político legitimado pelo voto e pelo primado da lei se sobrepõe ao poder económico. Por isso, tratar a questão dos offshores apenas como sendo de natureza fiscal e andar às voltas por aí é já um mau ponto de partida.

Pacheco Pereira coloca a questão na perspectiva correcta, que não é a de andar a tentar deslindar entre o dinheiro “bom” que flui para os paraísos fiscais e o dinheiro sujo da evasão fiscal, do branqueamento de capitais e das actividades criminosas em geral. Quem não deve não teme, não foge aos impostos nem cria empresas de fachada para esconder dinheiro e património.

Só há uma coisa a fazer com os off-shores, e essa coisa é acabar com eles, obrigando a que os rendimentos e a propriedade dos ricos sejam controlados e taxados, em cada país, da mesma forma que o são os consumos, as pensões e os salários dos pobres e das classes médias.

E quem nos diz que tal coisa não se pode fazer é porque aceita a subordinação da política à economia, conformando-se com a submissão de políticos democraticamente eleitos aos interesses dos grandes capitalistas e especuladores financeiros e eventualmente beneficiando directamente com isso.

A ideologia do neoliberalismo arvorado em pensamento único, e nos vende a converseta da inevitabilidade do empobrecimento das classes médias, dos aumentos “brutais” de impostos, da precarização do trabalho e da “estabilidade do sistema financeiro” paga com o dinheiro dos contribuintes, é a mesma que, pelo lado oposto, defende as amplas liberdades do sistema financeiro para fugir ao fisco, financiar e alimentar-se de actividades ilegais e criminosas e reciclar dinheiro em larga escala antes de o reinvestir, numa lógica de acumulação de riqueza por parte dos multimilionários a uma escala nunca vista.

Comentar

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.