Pacheco Pereira coloca a questão na perspectiva correcta, que não é a de andar a tentar deslindar entre o dinheiro “bom” que flui para os paraísos fiscais e o dinheiro sujo da evasão fiscal, do branqueamento de capitais e das actividades criminosas em geral. Quem não deve não teme, não foge aos impostos nem cria empresas de fachada para esconder dinheiro e património.
Só há uma coisa a fazer com os off-shores, e essa coisa é acabar com eles, obrigando a que os rendimentos e a propriedade dos ricos sejam controlados e taxados, em cada país, da mesma forma que o são os consumos, as pensões e os salários dos pobres e das classes médias.
E quem nos diz que tal coisa não se pode fazer é porque aceita a subordinação da política à economia, conformando-se com a submissão de políticos democraticamente eleitos aos interesses dos grandes capitalistas e especuladores financeiros e eventualmente beneficiando directamente com isso.
A ideologia do neoliberalismo arvorado em pensamento único, e nos vende a converseta da inevitabilidade do empobrecimento das classes médias, dos aumentos “brutais” de impostos, da precarização do trabalho e da “estabilidade do sistema financeiro” paga com o dinheiro dos contribuintes, é a mesma que, pelo lado oposto, defende as amplas liberdades do sistema financeiro para fugir ao fisco, financiar e alimentar-se de actividades ilegais e criminosas e reciclar dinheiro em larga escala antes de o reinvestir, numa lógica de acumulação de riqueza por parte dos multimilionários a uma escala nunca vista.