A continuada tentativa de silenciamento dos sindicatos de professores é uma queixa antiga da Fenprof, a maior e mais activa federação sindical de professores. Integra-se numa estratégia mais vasta, que passa não apenas pela desvalorização do movimento sindical, considerado retrógrado, rotineiro e ultrapassado face aos problemas e desafios do mundo laboral no século XXI, mas da própria classe docente, que se procura desta forma menorizar.
Independentemente das queixas ou das críticas que tenhamos a fazer aos sindicatos que, bem ou mal, nos representam institucionalmente, há que reconhecer as razões da Fenprof e a oportunidade deste comunicado: no debate em causa, que noticiei aqui, estiveram presentes um representante associativo dos directores escolares e a presidente do CNE. Já em relação aos professores, por sinal bem representados pelo Paulo Guinote, o Luís Braga e outros – até o director Filinto Lima invocou, mais de uma vez, a sua condição de professor – não foi seguido o mesmo critério de representação institucional. Esta normalização da exclusão dos sindicatos do espaço mediático não é aceitável numa sociedade democrática, quaisquer que sejam as razões invocadas para a justificar. Muito menos numa televisão pública, financiada com dinheiro dos contribuintes e obrigada a deveres de isenção na prestação do serviço público televisivo.
Escusada era a crítica subliminar à presença, no programa em causa, de professores que apenas se representam a si próprios. É verdade que Guinote e os outros apareceram em nome individual, mas não me parece que a afirmação da Fenprof no espaço público deva fazer-se à custa da exclusão de professores que, por mérito próprio, conquistaram alguma notoriedade pública e dignificam a classe docente, como se viu, com as suas intervenções. Se alguém tivesse a infeliz ideia de me convidar para algo deste género, avesso como sou à exposição mediática, de bom grado delegaria em alguém do meu sindicato a minha representação. Mas outros colegas não o quererão fazer, e estão no seu direito.
Além de que a pluralidade de pessoas e ideias, numa classe profissional tão numerosa e diversificada como é a dos professores, deve ser valorizada. Com uma longa história, de que se deve orgulhar, de defesa e dignificação da classe docente, a Fenprof deveria congratular-se com o reconhecimento público que alguns professores vão alcançando autonomamente. Fica-lhe mal, certamente, este menosprezo, esta inveja mal dissimulada, em relação aos “dinamizadores de blogues”. Os adversários da classe docente podem estar em muitos lados. Mas é mau sinal quando começamos a caça às bruxas entre os próprios professores.
O que nos leva à relação difícil que o sindicalismo docente parece ter com a blogosfera e as redes sociais dos professores. É que nem sempre foi assim: recordo o exemplo pioneiro de um dos primeiros fóruns criados especificamente para professores no site do SPN, ainda antes da popularização dos blogues. Era um espaço largamente participado pela franja, na altura ainda minoritária, dos professores que frequentavam com regularidade a internet. Mas não foi capaz de evoluir e de se adaptar, vindo a perder terreno para os blogues e, mais tarde, as redes sociais, em especial o Facebook, onde hoje se concentra a larga maioria dos professores que frequentam o ciberespaço.
Há um distanciamento crescente dos professores em relação aos seus sindicatos e isto passa, não apenas por alguns erros cometidos na acção sindical, mas também por uma notória dificuldade de comunicação entre as “bases” – os professores imersos no quotidiano escolar – e as direcções sindicais, que não têm sabido renovar e se vêm progressivamente afastando desse quotidiano vivido e sentido nas escolas. Os sindicatos, e falo aqui sobretudo dos da Fenprof, que continuam a ser a referência do sindicalismo docente – os seus detractores raramente ou nunca criticam os restantes, é como se não existissem – devem aproximar-se dos professores que representam, ouvindo-os e dando-lhes voz. Investindo, nomeadamente, numa maior e melhor presença nos media, na internet e nas redes sociais. Que tal, em vez da crítica recorrente aos bloggers, seguir-lhes o exemplo?…