As provas de aferição de Educação Física e de Expressões Artísticas foram canceladas e, face à alteração do calendário escolar, os exames nacionais foram também adiados — a primeira fase será realizada em Julho (e não em Junho) e a segunda em Setembro (em vez de Julho).
É certo que errar é humano. Mas quando, em lugares de decisão política, os erros se tornam persistentes e repetitivos – sinal de que nada aprendemos com eles – é altura de os responsáveis equacionarem seriamente se estão à altura das suas responsabilidades.
O prolongamento do ano lectivo é a repetição de uma medida que já tinha sido tomada no ano passado, aparentemente sem resultados, pois foi preciso decretar cinco semanas de “recuperação de aprendizagens” no arranque de 2020/21. Pelo que é agora pertinente perguntar: o que se ganha em somar mais seis dias de aulas a um calendário escolar já esticado ao máximo? Irão os alunos, nesses seis dias que empurram o fecho das aulas para Julho, aprender o que não conseguiram em, vamos supor, dois meses de confinamento?
Consequência directa desta semana extra de aulas é empurrar-se de novo as duas fases do calendário de exames para Julho e Setembro, comprometendo com isto o gozo de férias de milhares de professores que terão de assegurar este serviço, e outros que dele dependem, e introduzindo uma pressão suplementar e desnecessária no início do próximo ano lectivo. E pergunta-se: teria de ser assim?
Como é que um ministério tão empenhado em desconstruir currículos, promover flexibilidades e transdisciplinaridades e valorizar “aprendizagens significativas” em vez dos programas curriculares extensos e prescritivos se mostra tão incapaz de, na hora da verdade, questionar o modelo de exames que conservamos há demasiado tempo?
Como levar a sério o discurso da autonomia e da flexibilidade se, na hora da verdade, mais do que salvar o ano lectivo ou a escola presencial, interessa acima de tudo salvar o modelo caduco e ultrapassado de uns exames transformados em clímax e epicentro da vida escolar?
Assim como na generalidade das escolas os horários diferenciados foram a oportunidade para acabar com os toques de campainha, aos quais hoje poucos acham a falta, também o ME poderia aproveitar as contingências da pandemia para aligeirar o monstro burocrático e procedimental em que se transformaram os exames nacionais. Medidas simplificadoras que, não acabando com os exames no final do básico e do secundário – coisa que nunca defendi e, julgo, a maioria dos professores também não pretende -, permitam a sua integração mais harmoniosa no desenvolvimento da vida escolar.
No imediato, seria muito vantajoso, por exemplo, substituir as duas fases de exames por uma fase única com duas chamadas, sendo a segunda apenas para casos de doença ou impedimentos comprovados dos alunos. Isto permitiria encurtar a época de exames, reduzir a carga de trabalhos e burocracias nas escolas e deixaria margem para contingências e imprevistos como os que estão a ocorrer agora devido à pandemia.
A prazo, é todo o modelo de acesso ao ensino superior, construído à volta de exames do secundário convertidos em provas de selecção, que precisa de ser repensado. É mais do que altura de começar a responsabilizar as universidades e os politécnicos pela seriação e selecção dos seus alunos nos cursos onde as vagas disponíveis não chegam para todos os candidatos. No fundo, generalizar uma prática que já vai sendo aplicada num número cada vez maior de situações (DESE, alunos estrangeiros, com mais de 23 anos, oriundos de cursos profissionais…), separando duas realidades distintas que não ganhamos nada em misturar: a conclusão do secundário, um nível de ensino actualmente obrigatório, com objectivos e finalidades próprias, e a candidatura, para quem o desejar, ao ensino superior.
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