Em Educação, os recursos financeiros contam!

Uma ideia que os ideólogos neoliberais gostam de aplicar à Educação é a de que não é imperativo gastar mais dinheiro no sector para melhorar resultados. O mito, nascido nos EUA mas universalmente propagado, popularizou-se por cá através do “fazer mais com menos” de Passos Coelho e Nuno Crato: poder-se-ia dispensar – como se dispensaram! – dezenas de milhares de professores, aumentar o tamanho das turmas, cortar nos orçamentos das escolas públicas para apoiar escolas privadas com o dinheiro dos contribuintes. Os bons resultados apareceriam graças a melhor organização, lideranças fortes e exames exigentes. Será mesmo assim?

Sabemos hoje que as melhorias na avaliação internacional do tempo de Nuno Crato seguem uma tendência que vinha de trás e que os bons resultados dos alunos que conseguiram corresponder ao aumento dos níveis de exigência tiveram a contrapartida de muitos milhares que foram precocemente excluídos das vias de escolarização regular, empurrados para cursos CEF, PIEF e vocacionais para não estragarem as médias dos restantes. A nível internacional, há estudos interessantes a demonstrar que os recursos financeiros contam, sim, e de que maneira. Países que investem mais na educação, seja contratando mais e melhores professores, pagando melhor e oferecendo carreiras mais atractivas aos profissionais da Educação, equipando as escolas, reduzindo o tamanho das turmas, apostando nos apoios educativos, estes países alcançam, regra geral, melhores resultados escolares.

Esta correlação não é absoluta: se o dinheiro for mal gasto, acaba por não ter o respectivo retorno. Mas é forte e evidente: a demonstração está no gráfico que se segue, de um estudo realizado no Brasil a partir de dados do PISA 2018. Os países participantes do programa estão ordenados horizontalmente pela ordem decrescente das pontuações obtidas (linha azul). A linha laranja representa os valores gastos, por cada país, na educação da sua população jovem (0-24 anos), representado em dólares e ajustado à paridade do poder de compra.

Valores aplicados por pessoa de 0 a 24 anos e os resultados no PISA-2018.

As linhas de tendências traçadas mostram que à medida que as pontuações do PISA-2018 vão decrescendo, os valores aplicados por pessoa de 0 a 24 anos vão também caindo.

O primeiro colocado da lista (o número 1 no eixo horizontal do gráfico) é Singapura, que aplicou US$-PPC 12.755 por pessoa de 0 a 24 anos, com pontuação 556 no PISA-2018. O Brasil ocupa a posição 68 (a antepenúltima no corte apresentado pelo gráfico), com US$-PPC 2.490 aplicado por pessoa. A República Dominicana, com US$-PPC 1.919 e pontuação 334, ocuparia a última posição dentre todos os países.

Ou seja: o volume de dinheiro importa muito. Seja para estabelecer salários dignos, melhorar a estrutura física, equipar laboratórios, adquirir mobiliários, implantar ou modernizar as bibliotecas, realizar uma educação em tempo integral, todos fatores fundamentais para, em médio e longo prazo, melhorar a performance geral dos estudantes numa avaliação de desempenho com a feita pelo PISA.

Ler mais, aqui: Mitos da Educação: qualidade e desempenho dependem, sim, da elevação dos recursos financeiros

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