António de Oliveira Salazar faleceu a 27 de Julho de 1970, ao fim de uma longa agonia de quase dois anos que obrigou o presidente da altura, Américo Tomás, a demiti-lo do cargo de Presidente do Conselho em que parecia ter-se eternizado.
Cinquenta anos depois, é interessante observar como os jornais da época reagiram a um evento que há muito era aguardado. O falecimento foi chorado por alguns, festejado por outros; a maioria do país político terá sentido, na altura, um certo alívio perante o desenlace esperado e inevitável. À mistura com alguma inquietação sobre o futuro.

Na verdade, nos seus últimos tempos, a vida de Salazar era meramente vegetativa, entre a residência oficial que continuava a usar, numa grotesca encenação de um poder que já não possuía, e o hospital onde foi internado quando o estado de saúde se agravou irreversivelmente. No lugar de Presidente do Conselho, Marcelo Caetano sentia sobre si a sombra do velho ditador, uma ameaça permanente à afirmação do seu poder e dos seus planos de “evolução na continuidade”.
Após o funeral, desaparecida de vez a figura tutelar do Estado Novo, teve Marcelo o inteiro protagonismo político e a sua oportunidade de fazer a diferença e provocar a mudança. De abrir e arejar o regime, dar força e influência a uma nova geração de juristas, economistas e tecnocratas que ansiava por reformas económicas, sociais e políticas e que foi um dos esteios do marcelismo.
Em vez disso, sabemos o que sucedeu. Manietado pelas forças ultra-conservadoras que cerravam fileiras em torno de Américo Tomás, condicionado por um sentimento de lealdade para com o presidente que o nomeou, Marcelo mostrou-se um homem temeroso e indeciso, incapaz de levar em frente as mudanças que o país reclamava. Mesmo aquelas que o próprio Marcelo percebia serem necessárias.
Ao contrário do que certas leituras revisionistas da História tentam fazer crer, Marcelo Caetano nunca foi um democrata, e esse traço da sua personalidade é importante para compreender que, na hora de optar entre a continuidade da ditadura ou a evolução para a democracia, Marcelo tenha escolhido contemporizar com a repressão e a censura, a polícia e as prisões políticas. Mantendo intocados os pilares do regime e, em África, uma guerra colonial em três frentes que, tanto política como militarmente, se tornava insustentável.
A morte de Salazar não significou o fim do Estado Novo, mas o regime não sobreviveu nem quatro anos ao desaparecimento do seu fundador.
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