A mensagem subliminar da inovação pedagógica

Inovação pedagógica, aprendizagem por projectos, inclusão, aprendizagem activa: os chavões das não-tão-novas pedagogias não foram inventados pelos nossos pedabobos: fazem parte de um léxico internacional, que se vai impondo sob a batuta da OCDE e outras organizações multinacionais, públicas e privadas, empenhadas em conduzir os destinos da Educação mundial.

Contudo, apesar de soarem bem, nalguns casos como verdadeira música para os ouvidos, os slogans pedagogistas são fracos de substância e não resistem a uma crítica mais atenta e profunda. Por exemplo: pode existir aprendizagem passiva? Não estaremos, logo à partida, perante uma evidente contradição de termos? Na sua sofisticação pedante e rebuscada, o discurso eduquês carece de racionalidade; não é por acaso que apela mais à emoção do que à razão, estando sempre disposto a revisitar a pedagogia romântica.

Sem descurar as condições salariais e de carreira, sem renunciar ao combate pela gestão democrática ou contra a indisciplina, os professores portugueses ganhariam em manter um olhar atento, um pensamento crítico e reflexivo e uma intervenção no espaço público sobre as questões pedagógicas. Como fazem, há muito, os seus colegas espanhóis…

No discurso pedagógico da inovação, há algumas constantes que se repetem constantemente e que me levaram à reflexão. Porque, quando dizem que a sua é uma educação “cooperativa”, “ativa” e “inclusiva”, ou um ensino “centrado no aluno”… que mensagens sub-reptícias estão realmente a enviar? Sim, pergunto que mensagens subliminares estão a transmitir ao nosso lado emocional, ultrapassando os filtros da racionalidade crítica. Não é de suspeitar que quando apresentam as suas propostas como “aprendizagem ativa” – por exemplo – estão implicitamente a sugerir que o resto é aprendizagem passiva?

A questão é que não há aprendizagem que possa ser passiva. Pensemos bem: como é que pode ser? Uma coisa é que a aprendizagem, em certos momentos, exija silêncio, paz, concentração ( ou seja, não estar a saltar, a fazer rodinhas ou a pôr post-its numa cartolina com as amiguitas) e outra coisa é o aluno ser um sujeito passivo (ou pior, objeto) do que aprende. Não é necessário ser um kantiano rigoroso para reconhecer que Kant mostrou que o ato de conhecer (e, portanto, de aprender) implica necessariamente a participação ativa do sujeito que conhece (ou que aprende), caso contrário não há conhecimento ( nem aprendizagem) algum!

(…)

E é assim com tudo: aprendizagem colaborativa, educação comunitária, o aluno no centro, aprender a aprender, aprender fazendo… Olga García e Enrique Galindo, no seu indispensável Aprendizaje basado en proyectos: un aprendizaje basura para el proletariado (editorial Akal) denunciam a linguagem bem sonante que o pedagogismo inovador utiliza recorrentemente. Pois bem: penso que olhar com atenção as escolas de marketing e as técnicas de venda nos dará algumas pistas sobre o que esta linguagem esconde. O pedagogismo exprime-se na publicidade, enviando mensagens subliminares camufladas que evitam a discussão fundamentada. E na educação, como em tudo o resto, precisamos de menos publicidade emocional encapotada e de mais debate racional. Embora receie que, se retirarmos o celofane e os laçarotes de alguns discursos, tenhamos pouco mais do que fumo nas nossas mãos.

Tere Maldonado, Mensajes subliminales de la innovación pedagógica

1 thoughts on “A mensagem subliminar da inovação pedagógica

  1. uma educação “cooperativa”, “ativa” e “inclusiva”, ou um ensino “centrado no aluno”… que mensagens sub-reptícias estão realmente a enviar?

    Muitas. Estão a querer passar muitas mensagens. “Temos que inovar ” como se os professores fossem todos uns anormais da idade da pedra e como se inovação, só por se designar inovação, fosse condição suficiente para ser melhor.

    Gostar

Comentar

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.